A dracena sanderiana, ou bambu da sorte, como é mais conhecida é uma planta ornamental de fácil cultivo e plantio. Uma planta de caule com três ou mais nós gera uma outra planta e, assim, sucessivamente. Vida gerando vida.
Ela costuma ser usada para decorar ambientes de luminosidade suave e também é um presente com o qual se deseja boa sorte às pessoas.
Até o final do ano passado (2019) eu não conseguia transpor o luto da morte de minha mãe. Eu não conseguia vê-la afastada do sofrimento que precedeu sua partida, embora meus entes próximos não deixassem de me apoiar e estarem sempre à disposição nos momentos de desespero e dor.
Como muitos sabem, minha filha acaba de completar sua graduação em psicologia. Ela e minha esposa abriram o caminho para que eu encontrasse na psicologia terapêutica os caminhos de fortalecimento e compreensão de meu lugar na vida e de minha percepção de mundo. Um caminho que ainda está no início, mas que já me mostrou diversos horizontes.
O poema que segue é um agradecimento: à vida, que me fez fruto daquela a quem chamei de mãe, Maria Helena; à esposa, Leila, que se fez e me fez matriz de vida, na vida de minha filha, Laura; e ao condutor destas descobertas e reflexões, do qual recebi uma dracena, Felipe Gallonetti.
Dracaena Sanderiana
“I
know I was born and I know that I’ll die. The in betwen is mine”
(Eddie Vedder, in "I am
Mine")
Cortada
do caule, outra muda inicia
a
trilha da vida, que Vida lhe deu.
E,
agora, respira por seu próprio esforço,
sonhando
raízes que, em breve, terá
no
solo do tempo, banhada de luz.
A
muda era o extremo da forte raiz:
o
caule; uma folha; era a própria matriz.
A
vida entranhada... sem vaso e sem chão.
Assim
somos nós, feito a frágil dracena:
um
corte no caule; outra vida que surge!
E
aquilo que somos já nasce conosco,
a
parte de um todo, maior do que tudo,
tirados
daquela que um dia foi muda,
cresceu,
ficou forte do caule às raízes...
Mas,
mesmo as dracenas, são seres finitos:
Definham,
sucumbem ao tempo e ao cansaço.
Conforta
pensar que, ao gerar outra muda,
a
frágil dracena se torna imortal...
E
ser imortal, de raiz em raiz,
é
feito correr pela estrada do tempo,
e
à frente encontrar um jardim luminoso,
sem
grades, sem portas, sem tempo e sem fim.
E
cada dracena que um dia existiu
terá
reservado, no imenso jardim,
um
vaso, um espaço, um abraço e um chão
vivendo
no sempre, com quem a gerou.
Sérgio Ferreira
da Silva
(Para Helena,
Leila e Felipe, em 8 e 9 de dezembro de 2019)