sábado, 29 de maio de 2010

Seminário Unplugged!

(imagem by Lúcia Rabello)

Na quinta-feira, apresentamos um seminário cujo tema básico era o das cantigas de roda e das questões musicais ligadas à Literatura Infantil, nas visões populares, tradicionais e, também, na visão de poetas como Manuel Bandeira e Vinícius de Moraes, do grupo musical Palavra Cantada, além de uma libreto (roteiro de ópera), chamado Poranduba, escrito pela Professora Lúcia Pimentel Góes, cuja capa é essa abaixo...




(Reprodução da Capa do exemplar utilizado no estudo)


Certo! Uma questão básica: falar sobre cantiga de roda e música em geral, vai demandar o uso de Power Point, para tornar a apresentação mais dinâmica, digamos... Certo? Errado!

Nossa decisão foi abolir qualquer possibilidade de uso de ferramental que fizesse uso de energia elétrica. Para isso foi necessário que cada um (cinco componentes) estudasse com profundidade os temas que fosse explanar, mais ainda: que houvesse um roteiro básico a seguir, para que os assuntos tivessem um "elo" digamos assim. O elo escolhido foi uma rua de nossa infância, uma rua que trouxesse lembranças agradáveis, para que nós pudessemos, junto com os colegas de turma, seguirmos um caminho idêntico, que começasse em algum lugar do passado de cada um e, por essa rua, chegasse aos nossos dias, voltando, ao final, à ancestralidade contida no texto da ópera Poranduba, relato de tradições, mitos e interação dos índios com a natureza.

E foi bom! Começamos com "Nesta Rua", passando pela politicamente incorreta "Atirei o pau no gato", "Rondó do Capitão - Bandeira" "O pato e a Casa, ambas de Vinicius", "Gramática e Trilhares, do Palavra Cantada" e "Tassy, na versão de Kleiton e Kledir". Tudo no violão.


(imagem by Lúcia Rabello)

Inesquecível: abaixo, da esquerda para a direita, eu, Márcio, Lúcia, Isabel, Agda e a Professora Doutora Maria dos Prazeres Santos Mendes

(se a Lúcia aparece na imagem, a imagem não é "By ela", vou perguntar o nome da colega e coloco aqui depois...)

Análise de... análise.

(Fernando Pessoa - reprodução)


Na sexta-feira, fiz uma prova de Literatura Portuguesa na faculdade, que versou, basicamente, em analisar (amplamente) o poema "Análise", de Fernando Pessoa. O título postado é exatamente o que coloquei na prova. Escrevi bastante (4 folhas!). A maior parte do texto que escrevi consistiu em aplicar conceitos apreendidos em textos teóricos que abordam a obra de Pessoa, como um todo, a partir de referência de textos do próprio poeta, como o Livro de Desassossego, por exemplo. Isso nem cabe nesse blog comentar. Importante é falar um pouquinho sobre um dos tesouros que todo poeta costuma buscar no final do arco-íris das palavras: o fecho de ouro. Basicamente, o fecho de ouro é o verso que finaliza um poema, seja ele rimado, metrificado, ou não... Um verso final deve conter, em si, todo o poema: confirmar as ideias dispostas, surpreender o interlocutor, negar tudo que foi dito, enfim, dizer ou mostrar algo que faça todo o poema valer a pena, valorizá-lo. Pois bem, o poema abaixo tem tudo isso... duas vezes. Dois fechos de ouro! Quando percebi isso, ao lê-lo, posto que já o conhecia, de passagem, apressadamente, abri um sorriso de orelha a orelha. Acho que os colegas de turma, se é que perceberam isso, ficaram intrigados: "O Sérgio está precisando de férias, com urgência!" A prova não era simples.

Sabe porque percebi isso? Porque contei os versos,... são quinze. Soneto tem quatorze! Pensei: "Vou contar outra vez. Quinze! Pérai! Quatorze estão em versos de 10 sílabas poéticas, igual aos sonetos clássicos. O último, décimo-quinto, está em versos alexandrinos... 12 sílabas. Porque será? Leio o poema novamente e percebo que se a leitura fosse interrompida no décimo-quarto verso, o sentido não seria prejudicado e o último verso seria um bom fecho de ouro. Leio o último verso... e ele também fecha magistralmente o poema todo.

Pessoa é um desses casos únicos em literatura. Passe sua vida inteira lendo o que ele escreveu e terá uma surpresa a cada vez que o fizer... mesmo em uma prova de Literatura Portuguesa das mais difíceis.


ANÁLISE


Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.


FERNANDO PESSOA