“O Mimo-de-Vênus ainda entremeia o rosado das flores com o verde espesso da folharia.” (Telmo Vergara, in Contos da Vida Breve).
A rua Rosa da China está situada em um bairro chamado Jardim São Roberto, na periferia de São Paulo, muito próxima da divisa com a cidade de Santo André. Em toda a sua extensão, chama a atenção por seu declive acentuado, por suas casas humildes e porque nela foi erigido um Centro Educacional Unificado (CEU), que leva o seu nome.
Rosa da china, também, é o nome popular do Hibisco, ou Mimo-de-Vênus, que, segundo a Enciclopédia Encarta, é o “nome dado a várias espécies de plantas nativas das regiões quentes e temperadas do hemisfério Norte. A flor do hibisco se caracteriza por apresentar o cálice rodeado por um grupo de brácteas coloridas que dão a impressão de que o cálice é duplo. O fruto é uma cápsula com cinco cavidades e numerosas sementes.”
Eu, por convicção, não acredito em coincidências... Mas, a Rua Rosa da China tinha tudo para ser, apenas, mais um nome bonito de flor a batizar um logradouro, perdido na periferia de uma metrópole, sem o mínimo sentido para aqueles que fizeram daquela rua a sua morada, depositando ali seus sonhos e desesperanças.
As crianças que por ali brincavam, nem sonhavam em poder, um dia, dar um mergulho nas águas de uma piscina, a não ser naquelas de duzentos litros, apertadas no fundo do quintal, cujas águas serviriam, depois, para lavar a calçada, regar as plantas e escorrer pelo bueiro, com as suas perspectivas de dignidade e cidadania.
Jovens sem opção ao ócio, a não ser o refúgio da televisão, video-games, ou, pior, as drogas, hoje, jogam basquete, andam de skate, aprendem técnicas de informática, ou “dão um tempo” na biblioteca.
Adultos navegam pela Internet, fazem cursos, massagens, Yoga, ginástica, ou seja, exercem sua cidadania.
Para todos os que se interessam, há cursos, oficinas e atividades, as mais diversas, geralmente após um mero agendamento.
Como eu disse, não acredito em coincidências, mas acredito que os fatos, os nomes e as esperanças convergem e acabam se encontrando em determinado momento. As coisas e as pessoas têm uma vibração, um espírito, uma alma, uma aura, sei lá... Adote aquela definição que melhor se adapte à sua crença, ou à falta dela.
O fato é que, igual ao hibisco, à Rosa da China, ou ao Mimo-de-Vênus, como descreveu Telmo Vergara, com a licença poética que me permito utilizar, aquele Centro Educacional (que é seu, meu e de todos independentemente que quem o tenha construído – aliás não é mérito nenhum construir obras úteis com o DINHEIRO PÚBLICO) entremeia esperança, sorrisos e cidadania, com a tristeza espessa da periferia.
Agora, é aguardar que as numerosas sementes do Hibisco possam germinar no solo fértil de outras desesperanças...
Sérgio Ferreira da Silva
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