terça-feira, 21 de agosto de 2007

Mercado (Augusto de Campos) - extraído de A Cigarra n° 39


A Cigarra


Tente fazer uma revista de poesia! Pode começar, estou esperando... Já terminou? Não?
Nem começou?
Tudo bem! Tente colocar nessa revista nomes como Augusto de Campos, Hilda Hilst, Arnaldo Antunes, Dalila Teles Veras, Del Candeias, Yêda Schmaltz, Cláudio Daniel, Murilo Mendes, etc. etc. etc...
Só os etc. já vão te dar um trabalho incrível!
Tente mantê-la em circulação por 25 anos ininterruptos! Impossível?
Pergunte ao Zhô Bertholini e à Jurema Barreto de Souza como se faz! Dois poetas da minha terra natal, Santo André que fazem milagre! Ou você acha que é possível fazer tudo isso sem ter poderes incríveis!
A versão eletrônica está no site da editora Komedi (Kplus). Link ao lado

Teu nome



Ao findar a madrugada insone e fria,
um pequeno feixe de luz se atreve
no horizonte...
E as névoas soltas, que se perdem nos caminhos,
fazem lembrar o esvoaçar de nossas vidas...

Esta lembrança é tão real que, agora,
como se o tempo fosse o meu escravo,
eu volto a todos os lugares (que eram nossos)
no intervalo entre frações de algum segundo.

E na vertigem que este pensamento causa,
sou amparado, novamente,
por teus braços...

E já que o tempo não faz mais sentido,
e tendo, ainda, o teu perfume na memória,
o meu menor momento... é a minha vida
e a minha maior lembrança... é o agora!

Depois,...
percebo uma outra luz (bem mais intensa!),
nascida de um sorriso e de um carinho,
molduras de acalanto ao teu calar sereno,
semente de um poema livre e inacabado.

Retorno, enfim, à brisa fria da manhã
(companheira inseparável da saudade)
e vejo que o teu nome,
feito um Mantra,
escrito com as mãos, na areia fina,
está gravado em mim e não se apaga...
mesmo depois de ser envolto
pelo mar...

Sérgio Ferreira da Silva

Trovadores Friburguenses I


"Na Sementeira de Sonhos" é um livro de trovas obrigatório! Coordenado por Rodolpho Abbud (um dos MESTRES da trova literária brasileira), reúne trovas de 51 grandes trovadores friburguenses (19 deles "encantados"), sendo magistralmente prefaciado por João Freire Filho, magnífico trovador do Rio de Janeiro (sua benção, João!). Vou extrair desse livro, pelo menos uma das trovas de cada um deles, que representam, hoje, a cidade que foi o berço do movimento trovadoresco brasileiro contemporâneo.
Minha mágoa e desencanto,
foi ver, no adeus, indeciso,
eu, disfarçando meu pranto...
tu, disfarçando um sorriso!...
(Rodolpho Abbud)
Ante o olhar austero e frio
daqueles que te criticam,
sê feito as pedras do rio:
vão-se as águas... elas ficam!
(Nádia Huguenin)
O trem cortava a cidade
nos meus tempos de criança...
Hoje, corta de saudade
minha mais doce lembrança.
(Heloísa Sauerbronn Brandão)

A Cidade da Trova




Imagine um lugar de clima aprazível,... com um ótimo ar para respirar,... com montanhas ao seu redor... e muito verde. Imaginou? Pois bem: imagine, agora, que neste lugar, uma cidade do Rio de Janeiro, o povo seja vocacionado para receber muito bem os visitantes. Volte no tempo uns 47 anos e imagine que uma dupla de poetas de destaque no cenário nacional, dedicados a compor trovas que encantavam todo o Brasil, nos idos de 1959, portanto, se encantassem com a cidade. Um deles era Gilson de Castro (dentista por profissão e trovador em tempo integral), que adotara o nome artístico de Luiz Otávio. O outro, J. G. de Araújo Jorge, que se tornaria Imortal, na Academia Brasileira de Letras.
Esses dois pioneiros, assim como o semeador da parábola cristã, encontraram, naquela bonita cidade, no início da efervescência cultural dos anos 60, solo fértil para lançar a semente do Movimento Trovadoresco Brasileiro (poetas locais, que no futuro alcançariam reconhecimento nacional, como Rodolpho Abbud, autoridades, comerciantes, e tantos mais quantos quisessem participar do congraçamento cultural)...
Estavam criados os I Jogos Florais de Nova Friburgo! De lá para cá, já se realizaram 48 certames, ininterruptamente! Em 2004, 45 anos depois daquele longínquo 1960, aprovou-se uma Lei Municipal adotando o título de CIDADE DA TROVA para Nova Friburgo, cidade da região serrana do Estado do Rio de Janeiro. Vou incluir neste Blog algumas trovas de trovadores friburguenses e você poderá concluir se o título é, ou não, merecido...

Falando "dela" sem falar

No velório, a confusão
quando o genro, num rompante,
chegou com pinga, limão,
cerveja e refrigerante!

Sérgio Ferreira da Silva