quarta-feira, 4 de março de 2020

Uma trova por vez... (4)








"Vinte e Oito Pétalas", uma alusão às 28 sílabas tônicas de uma trova, é o livro de estreia de Antonio de Oliveira, trovador nascido em Ribeirão Pires/SP, lançado no início de 2014.

Tive a honra de assinar o prefácio, assim como de tê-lo como prefaciador de meu livro "Poemas para nunca mais".

Antonio de Oliveira, meu amigo e irmão desde a adolescência (e lá se vão mais de 40 anos) é considerado um dos maiores trovadores do Brasil, discípulo direto de nomes como Cipriano Ferreira Gomes, Izo Goldman e Thalma Tavares. Desde muito jovem, já nos idos anos 80, destacou-se em diversos concursos de trovas pelo Brasil.

Suas trovas sempre se destacaram pela maturidade poética que demonstravam, imagéticas, bem elaboradas, repletas de achados.

A trova que destaco nesta postagem, considero uma pérola do lirismo que sublima o gênero por trazer, naquilo que não diz, a sutileza do erotismo em uma relação amorosa...


O lençol, conforme o assentas,
traz-me a imagem fugidia
de um mar que, após as tormentas,
amanhece em calmaria!

Entrelinhas, metáfora, o ponto de vista do "eu lírico" conduz o olhar e o pensamento do leitor.

O que o poeta não diz, remete à noite que antecedeu o tempo presente do poema, na qual os amantes, entregues ao desejo fizeram do agora calmo cenário do quarto de dormir um tempestuoso palco da paixão à qual se entregaram.

E, realmente, o 3º e 4º versos são reveladores do que aconteceu ali: o que faz com que o leitor seja obrigado a reler os dois primeiros versos, para entender o porquê de o lençol que ainda não foi assentado representar, no estado em que previamente se encontrava, as tormentas de um mar revolto no momento passado.

Há um jogo temporal nesta trova e uma antítese: o passado recente da paixão avassaladora e o presente da contemplação, da lembrança dos momentos tórridos, simbolizado pelo lençol ora assentado. 

O lençol que, desarrumado, revela a paixão; e que, assentado, a calmaria. Assim, o cenário, a cama, é a metáfora do mar, ora calmo, ora revolto.

Existem mais detalhes a observar, de ordem técnica: as rimas ricas verbo-substantivo, adjetivo-substantivo. O estado anímico do "eu lírico", da tormenta sensual ao torpor pós-enlace. 

Mas, sobretudo, a capacidade com que esta trova torna o leitor um cúmplice da cena amorosa, da libido dos envolvidos.

Quando falei anteriormente da maturidade de Antonio de Oliveira, como poeta e trovador, minha referência é, na realidade um convite a que você, leitor, pesquise os conteúdos de sites sobre trova e trovadores e busque outras facetas do Antonio: o poeta preciso, lírico, filosófico (dos melhores de todos os tempos), reflexivo e sensível à vida e de olhar detalhista e envolvente em sua poesia.

Sua benção, meu irmão!