quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A Trova, de Eno Teodoro Wanke, e algumas reflexões

 
 
 
Minha segunda aquisição da semana passada, este livro, em meu entender, abre as portas de um passado próximo e outro distante: o próximo, revelando o trabalho minucioso e difícil de pessoas como Eno Teodoro Wanke, que pesquisaram a trova, buscando fixar-lhe uma identidade geográfica, histórica e literária, com a finalidade de entender o fenômeno de sua expansão em nosso país e, inclusive, apontando caminhos para o que chamou de trova literária; e o distante, na tentativa de atribuir-lhe um DNA, um ancestral remoto, cuja evolução ao longo dos séculos ele tenta delinear.
 
 
Não é minha intenção resumir este livro. Ele é facilmente encontrado em sites de venda de livros, como o Estante Virtual, por exemplo, ou repetida a sorte que tive, do leitor encontrá-lo em um sebo qualquer de nosso território. Gosto mais da segunda opção. Eu pretendo, mesmo, é despertar a vontade da pesquisa, do conhecimento.
 
 
Homens como Eno Teodoro, estão em falta hoje. Pesquisavam em viagens que faziam nas férias, enfurnando-se em bibliotecas e academias. Coletavam publicações, trocavam cartas e impressões nos encontros trovadorescos.
 
 
Eu pergunto: o que fazemos hoje? Jogamos no Google? Baixamos um arquivo em pdf? Recortamos e colamos trovas do site do Ouverney, do Pedro Mello, das poucas UBTs que têm um site, ou um blog? É pouco, amigos, é muito pouco. Mas antes assim, ou não!
 
 
Proponho que você examine sua biblioteca e arrisque disseminar algum conhecimento que, no seu entender, valha a pena. Por email, carta, fax, um blog, ou seja, por qualquer meio.
 
 
E farei a minha parte agora, transcrevendo alguns ensinamentos do querido Eno, irmão de sonhos, também, que nos deixou como legado livros que demonstram sua curiosidade e vontade de partilhar seus conhecimentos.
 
 
Eno abre seu livro com suas CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES, em que dispõe:
 
 
"A - O Milagre
 
 
Com sua estrutura pequenina, quatro versos em redondilha efeitados pelo guizo das rimas, vinte e oito sílabas poéticas apenas, a trova é uma espécie de milagre.
 
Milagre de persistência e continuidade. Tem pelo menos sete séculos, comprovados, de existência. Talvez dez. Sua vitalidade é surpreendente. Intriga quem dela se aproxime com seriedade para estudo e cultivo. Talvez apenas o soneto se lhe possa comparar, em matéria de sobrevivência e de capacidade de recuperação, através do tempo, aos intermináveis ires e vires das modas literárias. E assim mesmo, num nível muito mais sofisticado..."
 
 
Ao longo do livro, ele disseca a trova, no sentido científico do termo, detendo-se com parcimônia e ritualístico detalhamento em seus aspectos principais.
 
 
Gil Vicente, Camões, Fernando Pessoa, Gregório de Matos, Guerra Junqueiro. Todos lembrados e citados. Trovas em português, espanhol, em galego, em catalão e até em tupi.
 
 
Esta postagem não é exemplificativa. Não citarei, aqui, nenhuma trova. Você já conhece tantas, não é?
 
 
Que tal, então, partilharmos o que temos: nesta postagem, ao final, é possível deixar um comentário. Arrisque-se.
 
 
Afinal de contas, Eno Teodoro Wanke, Luiz Otávio, Aparício Fernandes e tantos e tantos outros que nos precederam o fizeram tão bem. Dedicaram-se além do imaginável à trova e à perpetuação do movimento trovadoresco que chegou aos nossos dias, no século XXI.
 
 
E nós? Vamos deixar alguma coisa?
 
 
A benção Eno, Luiz e Aparício!