segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Dona Neusa


(arquivo pessoal - montagem em "paint/windows")

(Clique na imagem para ampliar)

Minha sogra gostava muito de trovas... de sogra! Ria solto quando eu lhe "contava" as trovas de Elton Carvalho, Pedro Ornellas, as minhas... Dava sugestões e contava piadas, mas ressalvava, às vezes: "essa não sou eu!". A "véia" é, hoje, a maior saudade que trago na vida. Fiz para ela a trova que ilustra a imagem, antes até de sua partida, porque a sua expressão, nessa foto, me conforta e traduz um sentimento todo dela. Hoje, olhando a foto, e lembrando do momento, consigo senti-la mais presente.

domingo, 20 de setembro de 2009

Mochila de Versos

(Reprodução)

Nos anos ímpares, Porto Alegre realiza os seus Jogos Florais (e que Jogos!). Em Outubro de 2001 tive a honra de comparecer às Cerimônias e conhecer pessoalmente vários poetas do Rio Grande. Participei, inclusive, em 2003, da coletânea "Rio Grande Trovador", como trovador convidado. Pois bem, conhecia algumas trovas e ansiava por conhecer um jovem e talentoso poeta, que, entre outras, havia composto a seguinte trova:

A justiça, rica em falhas,
corrompida por esquemas,
enche de glória e medalhas
mãos que merecem algemas.

O autor é Gerson Cesar Souza e essa trova, com o perdão da palavra, é uma porrada no estômago! Quando alguém me pergunta algo do tipo "que trovas você gostaria de ter feito?", ela é das primeiras que me vem à mente. Há vários elementos nela, tanto literários (rimas, todas terminadas em "as", por exemplo), quanto de fundo (o tema, o emprego das palavras: justiça em minúscula, "rica" "corrompida"), ou seja, coisa de uma mente brilhante. Por sorte, em 2001, Gerson lançava seu livro "Mochila de Versos", que pude trazer para São Paulo, e que foi lido, pela primeira vez, já no avião... O Gerson, além de um poeta e tanto é um nome a ser guardado. Nos brindará, ainda, tenho certeza, com muitos outros poemas dignos de moldura. Fiquem, agora, com "Verei que é Primavera...", um soneto, em que a circularidade, muito exaltada em teoria literária, é o "fecho de ouro" do poema! Abração, Gerson!

Verei que é primavera se o poente
cobrir com raios rubros nosso leito,
e a flor do nosso amor (que era perfeito)
surgir desabrochando lentamente.

Verei que é primavera se meu peito
sentir voltar o ardor que estava ausente
e então, tendo-te perto novamente,
unir as partes do que foi desfeito.

Verei que é primavera se chegares
e o teu perfume em todos os lugares
vier recompensar tão loga espera.

O inverno da saudade irá sumindo,
deixando em seu lugar o amor florindo,
e ao ser feliz verei que é primavera...

(Gerson Cesar Souza)

* * * * * * * * * * * * Cintilações * * * * * * * * * * * *


(reprodução)

No céu do poeta, asteriscos podem ser estrelas... e uma folha de papel, um Universo inteiro! Digo isso, porque há vários deles na capa do livro Cintilações, de Marina Bruna. O livro pode começar a ser lido, semioticamente, pela capa. Coisa de poeta de primeira grandeza, como as estrelas que retrata. Aliás, como um assunto puxa outro, a palavra "asterisco", segundo o dicionário Aurélio, vem do "grego asterískos, 'estrelinha', pelo latim asteriscu". E falar em grego e em latim, me obriga a mencionar o pai de Marina Bruna, o Professor Jaime Bruna, que lecionou latim na Faculdade de Letras, onde estudo hoje. Tenho uma obra traduzida por ele, "A Poética Clássica", que faz parte da referência bibliográfica do curso.

Voltando à Marina, ela nasceu em Franca, formou-se em Matemática, Pedagogia e Jornalismo e exerceu o magistério em São Paulo. É também compositora e instrumentista musical, poetisa e trovadora.

Marina Bruna, talvez não se recorde, me presenteou em 1997 com o Livro Cintilações (prefaciado por Izo Goldman, Thalma Tavares e Carolina Ramos). 1997 foi o ano em que comecei a fazer trovas. Em 1997, portanto, eu, ávido por aprender a compor trovas, tive a sorte de poder apreciar as trovas de Marina, que, sendo assim, é, ao lado de Antonio de Oliveira, Izo Goldman, Héron Patrício e Pedro Ornellas, sem dúvida, uma de minhas maiores influências na difícil arte de criar trovas. Devo à Marina, muitos preciosos conselhos.


Então, de "Cintilações", algumas trovas para o deleite de todos! Sua benção, Marina!

Tua carícia atrevida,
num suave dedilhado,
musicou a minha vida
com acordes de pecado!

Prostado... na dor infinda
de um desprezo que o consome,
meu coração bate ainda
porque murmura o teu nome!...

A vida insiste em manter
em dois tons sua canção:
o mais agudo é o poder;
o mais grave, a servidão!

(Marina Bruna)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Alonso Rocha


(arquivo pessoal - detalhe)

Encomendei ao Antonio Juraci Siqueira, no início da semana, um texto sobre o poeta Alonso Rocha, que conheci em São Paulo, por volta de 2004, o resultado é o texto abaixo, que segue ilustrado com um soneto muito bom do mestre paraense:

"Alonso Rocha nasceu em Belém em 15 de dezembro de 1926. Membro da Academia Paraense de Letras e Príncipe dos Poetas Paraenses, Alonso colaborou e colabora com a imprensa escrita, falada e televisionada. Poeta eclético por excelência, não se prende à escolas nem tem preconceito com qualquer forma de manifestação poética. Seu livro PELAS MÃOS DO VENTO, publicado em 1955, obteve os prêmios 'Vespassiano Ramos', pela Academia Paraense de Letras e 'Helena Magno'."(Antonio Juraci Siqueira).

O soneto:


MENSAGEM

Sou pássaro e sou fonte – ouve o meu canto
tu que abrigas o amor no seio puro.
Vozes da terra a mim próprio misturo
com tanta angústia, porém mais encanto.

Sou árvore a sangrar no lenho duro
a seiva que tu bebes – sangue e pranto –
e no meu poema, para o teu espanto,
eu revelo a palavra do futuro.

Eu sou a dor e a paz, a morte e o eterno;
e nesse mundo, trágico e fraterno,
procura o instante onde talvez tu caibas.

Porque, pássaro e fonte, árvore e guia,
este meu canto – a minha eucaristia –
é o pão que te alimenta sem que saibas.

(Alonso Rocha)


Sua benção, Príncipe!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Uma trova para um exemplo...


Minha participação no livro Celebridades, que foi um verdadeiro exercício de pesquisa e descoberta, foi uma oportunidade ímpar, em minha vida. O livro foi lançado em 2005. Conheci o Madureira em 2004. Minha mãe enfrentou um câncer de mama em 2003. Ela me dizia, na época: "A Patrícia Pillar enfrentou e venceu! Eu vou enfrentar e vencer!" E ela conseguiu, mesmo! Na época em que a Elisabeth Souza Cruz me mandava os e-mails com os nomes dos artistas, eu ficava torcendo para que o nome de Patrícia Pillar viesse entre os demais. Até que um dia, veio. Fiquei diante do computador, alguns minutos, olhando uma foto dela e pensando em minha mãe. A trova foi escrita de uma vez, da maneira que foi publicada:

Mostrando força e valor,
Patrícia se fez notícia...
e, hoje, quem enfrenta a dor,
tem um Pilar... em Patrícia!

(Sérgio Ferreira da Silva)

sábado, 12 de setembro de 2009

Convivência poética


(arquivo pessoal - com Antonio Juraci Siqueira e Alonso Rocha, ambos de Belém)


Se tem uma coisa que me agrada, são os e-mails, scraps, cartas, telefonemas e encontros com os poetas e escritores que a vida, generosa, me fez conhecer. No post anterior, falei do Juraci, que conheci em Friburgo, em 2008, mas que já conhecia pelas trovas, pelo "Me leva, Brasil!", quadro que o Maurício Kubrusly, tinha no Fantástico e que virou livro (há uma crônica dedicada a ele no livro!). Pois bem, volta e meia o Juraci me manda alguma coisa. A última foi esse soneto que reproduzo aqui. Notem a convivência, no texto, de elementos da vida cotidiana do filósofo, poeta e artista marajoara, de um "homem da terra"... e da natureza, com os avanços tecnológicos na bagagem!

MARÉ VAZANTE

Plantado em frente ao rio vive o menino
olhando a vida a bubuiar nas águas
junto a detritos, jet skis, tralhotos
e a insensatez dos filhos de Tupã.

Esse menino de cabelos brancos
com pegadas do tempo sobre a face,
tem um olho retido no passado
e o outro atento às cores do amanhã.

Com talas de arumã tece o roteiro
do humano caminhar entre internautas,
matintas, burocratas, lobisomens

e em sítios virtuais cultiva sonhos,
planta amizades, sepulta ilusões
e espera, estoicamente, o anoitecer.

(Antonio Juraci Siqueira)

Antonio Juraci Siqueira


(imagem extraída do Blog do Boto - http://blogdobotojuraci.blogspot.com)


Poema pro Juraci
Conheci o Juraci
em Friburgo, certo dia...
E esse Juraci, que eu vi
é um bambambam na poesia:

Ele é boto no Pará
E escreve bem pra caramba!
Faz cordel, também, por lá
e em Filosofia é bamba!

No Fantástico, também,
já nos deu o ar da graça
encantou, como ninguém,
e mostrou ser boa praça.

É trovador de primeira,
e um ótimo sonetista.
Seu talento é cachoeira,...
que jorra da alma de artista!

(Sérgio Ferreira da Silva - 12.09.2009)

Não vou falar nada mais sobre ele... Acesse o blog do boto, no link acima e descubra esse artista tipicamente brasileiro, que VIVE a cultura, como poucos que conheço!

A benção, Boto Juraci!



Um pouco de ritmo

(arquivo pessoal - com Wanda de Paula Mourthé e Arlindo Tadeu Hagen - Nova Friburgo - 2009))

Súplica

No compasso das batidas,
o meu coração suplica,
pelo bem de nossas vidas:
Fi...ca! Fi...ca! Fi...ca! Fi...ca!

(Sérgio Ferreira da Silva)

O Dicionário Aurélio Eletrônico, entre outras definições, diz que ritmo é o "Movimento ou ruído que se repete, no tempo, a intervalos regulares, com acentos fortes e fracos..." e "...Num verso ou num poema, a distribuição de sons de modo que estes se repitam a intervalos regulares, ou a espaços sensíveis quanto à duração e à acentuação..."
Nessa definição, o ponto comum é a existência de "intervalos regulares" entre os "acentos".
Em poesia, seja ela rimada, metrificada ou livre (com versos de tamanhos diferentes e rima não obrigatória) há de haver um ritmo, que pode ser variável, ou não. É quase como dizer que há um pulso. Escolha um poema de seu agrado, ou qualquer um desse blog e verá que isso é verdade. Um pouco mais difícil de perceber é o ritmo na prosa. Ele também está lá e, muitas vezes, é responsável pela emoção do texto (Guimarães Rosa, por exemplo, foi um mestre dessa inserção, trabalhando a rima, inclusive, de forma imperceptível... coisa de gênio!).
Fiz a trova da epígrafe com algumas intenções veladas: a primeira delas foi transformar a palavra "fica", no quarto verso, em um pulso cardíaco, efeito que se garante pela repetição, principalmente pelo fato de que ela só tem duas sílabas poéticas (dois sons); a segunda foi marcar o ritmo da trova como um todo, na terceira sílaba poética, já que o segundo verso tinha uma segunda sílaba forte, na palavra "meu";... A terceira, foi uma referência a uma trova do Arlindo Tadeu Hagen, que está na postagem sobre as trovas de guardanapo, conhecidíssima em todo o Brasil e muito bonita, que termina com o verso "...fica pelo amor de Deus!", também marcado na terceira sílaba poética.

Sua benção, Tadeu!

Poetinha



O título é uma mentira! Melhor dizendo, "Poetinha" era o apelido de Vinicius de Moraes que foi poeta e, nas horas vagas, era Diplomata, Cantor, Compositor, e, principalmente, um "vivedor" de primeira linha, pois soube cantar e declamar a vida como ninguem. O primeiro poema que li, dele, foi o Soneto do Maior Amor. Gostei tanto que pintei uma camiseta com ele (mais ou menos aos 16 anos). Era engraçado: no ônibus, na rua, no cinema, invariavelmente, alguém me pedia para eu parar onde estava para que pudesse terminar a leitura... Hehehe! A idéia partiu de um conto do Drummond, chamado "calça literária", acredito, daquela coleção "Para gostar de ler". Vinicius escrevia simples, sem rebusques, de maneira direta, porém com a profundidade de um teórico, de um acadêmico. Daí a escolha de "Poética", para ilustrar a postagem. A imagem é um detalhe do site dele, que vale visitas constantes

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

Nova York, 1950


in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "Nossa Senhora de Los Angeles"


(extraído do site www.viniciusdemoraes.com.br)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Drummond, cadê minha chave? Preciso abrir um poema...


(Imagem: folha de s. paulo/divulgação)


Não posso dizer que tenho um poeta predileto, hoje. Mas já disse no passado: Vinícius de Moraes foi o primeiro; o segundo, Gregório de Matos e Guerra; depois, por razões nordestinas e ideológicas, João Cabral de Mello Neto; Drummond... Agora, acredito que o que importa, realmente, é o que há de único em cada um e o que há de comum a todos: a arte literária! Não tenho, por uma graça do tempo, nenhum preferido, mesmo porque aprendi, principalmente com os trovadores brasileiros, a imensa maioria deles desconhecidos do grande público, que escrever não é privilégio de homens consagrados. Há verdadeiras jóias preciosas que nunca serão amplamente divulgadas. Tenho em minha biblioteca pessoal (minúscula) mais de duas centenas de livros de trovas (com resultados de concursos), cada um com, em média, 60/70 trovas, de boa ou excelente qualidade. Outros, de autores únicos, com 100, 200 ou até 1001 trovas (como é o caso do livro do Zaé)... Faço o possível para divulgá-las aqui, mas tudo o que é postado é só uma pequena amostragem, com a qual tento despertar alguma curiosidade daqueles que não conhecem a trova... É pouco. Por isso, recomendo o site do Ouverney, Falando de Trova, um catálogo e tanto, que pode ser acessado pelo link que consta dessa página.
Então... Falei do Drummond e quero terminar a postagem com um trecho do poema "Procura da Poesia"

"...Chega mais perto e contempla as palavras
cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?..."

Use, você, então, a chave que quiser/ou tiver... e abra uma porta,... ou um poema!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Escrevendo a partir de um mote

Trova escrita para o mote (no caso, o verso inicial) "As dores e os desencantos", sugerido pelo José Ouverney, na comunidade "Sou Trovador" do Orkut. Já publiquei uma outra na postagem "Saldo Positivo". Gostei do resultado da inversão das palavras no verso final. Os teóricos de literatura chamam isso de oxímoro, que é, basicamente uma oposição em "x", para sugerir conceitos contrários, ou equilíbrio. Lá vai...


As dores e os desencantos

não me causam dissabores:

que, ao teu lado, não há prantos,

nem desencantos,... nem dores!


(Sérgio Ferreira da Silva)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Dado Dolabella e a trova profética

No reality show "A Fazenda", ele ganhou R$.1.000.000,00 (Um milhão de Reais)!

Em 2004, quando participei da confecção das trovas para o livro Celebridades, Dado Dolabella trabalhava na novela "Senhora do Destino", interpretando a personagem Plínio Ferreira da Silva (coincidência engraçada termos o mesmo sobrenome - mas o meu é de verdade!). Calhou do Sérgio Madureira me pedir que fizesse a trova dele, que, à época, participou da trilha sonora da novela, com a música "Facim facim". Fiz a trova e inclui o nome da música e um trocadilho com o título da novela. Hoje, vejo que a trova foi profética... ele venceu o "Reality". Não costumo assistir a esse tipo de programa, nem acredito em previsões, pelo menos não no meu poder de prever, mas coincidências ocorrem toda hora. Fica o registro inusitado...




Senhor do próprio destino,
Dado segue, sempre, assim:
com seu jeitão de menino
vai vencer... "Facim Facim"!

(Sérgio Ferreira da Silva)