segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Diovani Mendonça na TV Escola



Se você clicar nesse link... TV Escola - o canal da educação terá, como eu, gratas surpresas. É o site que o Ministério da Educação disponibiliza para acesso ao conteúdo veiculado pela TV Escola. Nele você encontrará farto material de boa qualidade.

Na próxima semana, o canal e o site veicularão uma interessante matéria sobre poesia, na chamada 8ª semana de poesia da TV Escola. As exibições ocorrerão no dia 20 de Outubro, às 9, 15 e 20h.

O programa trará, entre outras informações, uma entrevista com Diovani Mendonça, de Minas Gerais, idealizador do Projeto Pão e Poesia.

Por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, a V & M do Brasil, é a patrocinadora do projeto desde 2010. Na 1ª edição do “Pão e Poesia na Escola” foram realizadas oficinas de sensibilização poética em 10 escolas na região do Barreiro (Belo Horizonte / MG) para 430 alunos. Os poemas dos estudantes foram selecionados e publicados em 250.000 embalagens que foram doadas a padarias no entorno das escolas participantes. Está em curso a 2ª edição do “Pão e Poesia na Escola” e estão previstas oficinas de sensibilização poética em 20 escolas – 10 na região do Barreiro, até Dezembro de 2011, e mais 10 em Brumadinho – MG, no 1º semestre de 2012.

Vale a pena conferir... Afinal, a poesia é a matéria-prima da emoção (ou será o contrário?)

Abração e sucesso Diovani!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Foto na frente do mapa... e as Gotas de Pinho Alabarda!

Nasci em 1963, em junho, quase um ano antes do Golpe Militar de 64. Fui matriculado no 1° ano primário, no Grupo Escolar Camilo Pedutti, em Santo André, no ano de 1970, por absoluta insistência de minha parte. Explico: a matrícula, naqueles tempos, só era admitida a crianças com 7 anos completos. Minha mãe, Dona Helena, conseguiu me inscrever como "ouvinte". Minha primeira professora foi a Dona Veridiana, de quem "ouvi" aulas, achando que era aluno, durante todo o mês de junho de 1970. Na época não as chamávamos de "prô". Vieram as férias e fui convidado a ser aluno, mesmo, a partir de agosto daquele ano. Mudei de sala... e fui aluno da Dona Ivone. No segundo ano, a professora chamava-se Helena, feito minha mãe (uma das professoras mais carinhosas que tive). No terceiro ano, a temida Maria Aparecia, cujos métodos pedagógicos incluiam castigos físicos, um deles puxar o aluno pelos cabelos. Passei a usar brilhantina, nessa época (o que a levou a me puxar pela orelha porque eu havia errado uma questão de geografia). Minha mãe, então, entrou em cena e ela evitou me fazer perguntas... hehehe! Não sei o que elas conversaram, mas provavelmente foi tenso. Em 1973, 4° ano. Professor Kamal, que tinha um lema: fale bem, ou fale mal, mas fale do Kamal! - pura poesia!

Desta época, então, além da saudade saudável, tenho duas fotos, uma delas na frente do mapa, como o título dessa postagem sugere



e um pequeno tesouro, cuja imagem fechará essa nossa conversa.

Outra coisa: da infância, trago ainda grandes amigos e irmãos, alguns do Pedutti, como os Stoianov (Armando e Valdir), o José Antonio Capelli, o José Luiz Beltrame (padrinho da minha filha), o José Lacerda Sobrinho e o Gilmar da Silva Ruiz. Alguns deles não vejo há tempos. Continuam amigos, claro, que a amizade não é algo que acabe! Outros amigos fui fazendo ao longo da adolescência, nas faculdades e pela vida afora... Temos, em comum, além da Carteira de Identidade com numeração baixa, as fotos dos áureos tempos idos... Por isso, combinei com alguns deles (Angelo Eduardo Battistini Marques e Gilmar Santana) que tiraríamos a mesma "foto com mapa atrás" quando nos encontrássemos, ao longo da vida. Até ficarmos velhinhos... Como se pode ver na imagem abaixo (de 2008)!



Por fim, o tesouro que guardo daqueles tempos é um adesivo, com uma trova da poeta Colombina. Estes adesivos vinham de brinde nos pacotes das "Gotas de Pinho Alabarda" e, por iniciativa do Pedro Ornellas, vim a saber que eram divulgados pela trovadora Maria Thereza Cavalheiro, que presidiu a União Brasileira de Trovadores, Seção São Paulo, nos anos 60 e início dos 70. Eu comprava os pacotinhos na saída da escola, porque o "Seu Justo", que era o inspetor de alunos, não permitia o consumo dentro da escola (mas a merenda era ótima!).

Ou seja, as trovas estavam em minha memória afetiva e em uma caixa de guardados que minha mãe ajudou a preservar. Hoje eu faço trovas e as disponho em "adesivos virtuais", estas postagens que espalho em meu blog! Os tempos mudam, os adesivos mudam!

Um grande e afetuoso abraço a todos os meus amigos/irmãos, mesmo àqueles que não estudaram no Pedutti, nos anos 70!

Sua benção, Colombina!





sábado, 17 de setembro de 2011

Action Poetry


(Jackson Pollock)


Action Poetry

Um poema acabado

revisado

rimado

metrificado

consagrado

dissecado

explicado

e publicado

para ser completamente entendido

(ou para fingirmos que sabemos o quanto ele é sublime)

geralmente é comparado às pinturas de

Velázquez

Da Vinci

Caravaggio

Van Gogh

Renoir

Manet

não tão frequentemente às de

Dalí

Miró

Picasso

escrever o poema

no entanto

é jogar

“os grãos na água do alguidar”

escrever é Pollock!


(Sérgio Ferreira da Silva)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Outra fornada de pão... e poesia!


O Diovani Mendonça, idealizador do Pro
jeto Pão e Poesia, de cuja 3ª edição falarei futuramente, me fez a grata gentileza de remeter algumas imagens das embalagens da 2ª edição. Vou dividí-las, então, para que elas se multipliquem (essência da comunhão!).






segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Revista Língua Portuguesa - Setembro/2011 - e o projeto Pão e Poesia


Muito feliz com a matéria da Revista Língua Portuguesa deste mês, cuja aquisição, inclusive, recomendo. É uma publicação dinâmica, editada por profissionais compromissados em divulgar os diversos aspectos da língua portuguesa, sem preconceitos linguísticos.


Minha felicidade se justifica, além de ser leitor assíduo e por ter contato com alguns de seus colaboradores, professores da Universidade de São Paulo (fui aluno do Professor Mário Viaro de fonética e fonologia, por exemplo!) porque, neste mês, a revista publicou uma matéria sobre o projeto Pão e Poesia, do qual participei com trova e soneto.



Numa postagem anterior, falei da régua poética, dos outdoors, dos cartões postais etc. A matéria é uma prova de que uma divulgação original e eficaz pode ser fruto de reconhecimento e incorporação da poesia em nosso dia a dia.

Parabéns Revista Língua Portuguesa! Parabéns Diovani Mendonça, o idealizador do projeto!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Nina Rosa Magnani - Do pão mineiro



Este blog é uma fonte de encontros, desde os interiores até os interpessoais. Da postagem sobre Cássio Magnani, além da descoberta de um poeta e trovador completo, com trânsito livre entre o lírico, filosófico e humorístico, há, ainda, a confirmação do ditado "filho de peixe, peixinho
é!".

Nina Rosa Magnani é psicóloga por formação e poeta de nascença. Imagino que sua infância foi coroada de poemas e de contatos com pessoas ligadas ao fazer literário. Ou seja, uma formação cultural como há muito não se vê.

Fui honrado, por ela e seu irmão Cássio, com alguns livros da lavra de seu pai e com o livro que dá título a essa postagem: Do pão mineiro, obra integrante da coleção Poesia Orbital, editada pela Associação Cultural Pandora, de Belo Horizonte, em 1997. Coleção que abriga, além da obra em questão, 61 outros títulos.


Sobre a obra, a autora revela na orelha da capa: "É um olhar feminino sobre sons, cheiros e sabores variados, no grande cuité do coração", o que podemos confirmar, na leitura do poema a seguir...

F R U T A M A D U R A

Tomar a vida nas mãos dói um pouco...
Exige um coração cada dia maior
uma prontidão clara
e simples
cada dia mais simples,
uma fidelidade
inacabada
ao que não se pode pegar
nem tocar
nem reter,
por mais amorosas que sejam
as mãos
por mais lindos os versos
e a dança.

Continuar
exige leveza,
um remanejar dos móveis
e um coração cada dia maior,
ampla e vasta planície,
longo reacender de um mesmo cigarro de palha,
novas velas na cozinha
novo incenso no ar...

Lua nova,
lua crescente,
lua cheia,
lua minguante
e o corpo maré
maré
enroscando uma nova espiral.

E as palavras são milhas
e as combinações
várias
várias extensões
de um mesmo canto
no peito do universo...


O livro reúne reflexões poéticas sobre a vida, as sensações, a passagem do tempo, as perdas e conquistas de todos nós, como nos versos seguintes...


"Tudo está velho
tudo mofou;
as pessoas se mudaram
o amor perdeu a força
a amizade precisa reciclagem.

O baú das mágicas
está cheio de truques
falidos
pólvora molhada
efeitos déjà vu.

O sentido se perdeu
poucos sons tocam
a corda do infinito
adormecida."

A sensibilidade observadora de Nina Rosa Magnani transparece nas linhas e entrelinhas do texto e é simplesmente magistral nos versos do poema que dá nome ao livro. Fiquem com ele, saboreiem e sintam o aroma do pão, que é vida em sua marcha constante...

D O P Ã O M I N E I R O

Deixar fermentar
as idéias
e a vida
ao sol
como essa montanha ao meu lado
(quase posso tocá-la com o dedo)
Antiquissimamente...

Deixar-se embrenhar
emprenhar-se
dessas montanhas de minas
antigas

Ser revolvida
inchada
milenarmente...
Nada sempre existiu de instantâneo...
Trabalhar com as mãos
os instantes
e a eternidade.

Aguardar ao sol
que qualquer dia
arrebente
em trigo
e marcha.

domingo, 4 de setembro de 2011

Régua Poética... 25 cm de trovas!

Já mencionei aqui algumas maneiras criativas de divulgação de poesia: os 200 outdoors com trovas do Zaé Júnior, nas ruas de São Paulo; as trovas de guardanapo; a trova postal...

Outras iniciativas ocorreram na história do movimento trovadoresco: em Bauru, um Bosque repleto de trovas; chuva de trovas no Terraço Itália, em São Paulo; balões de gás com trovas, em Porto Alegre; as trovas que vinham em cartões autocolantes, nas gotas de pinho Alabarda; as trovas que compusemos para o livro Celebridades, do Sérgio Madureira, além de outras formas de fazer a poesia chegar até o leitor, mas que me escapam do conhecimento e da memória.

Porém, em Nova Friburgo, nos 45°s. Jogos Florais, realizados no ano de 2004, confeccionadas por Pedro Ornellas, que quando não faz poesia é gráfico, foram distribuídas réguas de 25 centímetros com 7 trovas: quatro antológicas e 3 premiadas naquele certame.


(Clique na imagem para ampliar)

A iniciativa é simples, no entanto sua abrangência é espetacular.

Passados 7 anos, a minha conserva a qualidade, mesmo sendo frequentemente utilizada.

O que quero ressaltar é que, seja em imãs de geladeira, seja em brindes, ou pela internet, sempre haverá uma maneira criativa de divulgar seu trabalho de escritor, poeta, advogado, médico etc.

As réguas são uma excelente alternativa de divulgação em escolas e escritórios, por exemplo!

Levei alguns exemplares destas réguas para serem distribuídos na escola próxima à minha residência e o sucesso foi imediato.

Abaixo, então, a trova de Joaquim Carlos, que foi vencedor do concurso local...


Tatuei no peito a imagem
da mulher que eu tanto quis
foi um erro, a tatuagem
hoje em dia é cicatriz!

sábado, 3 de setembro de 2011

Cássio Magnani - Ridendo castigat mores (2)


Essa postagem é a segunda sobre Cássio Magnani... e não será a última. A primeira postagem, em 25 de Agosto, acabou por gerar um contato com dois dos filhos do autor: Cássio Magnani Júnior e Nina Rosa Magnani. Do contato, acabei sendo honrado e presenteado com outros livros de Cássio Magnani, o qual descobri, na apresentação do livro "Poesias Completas", ter sido Delegado da União Brasileira de Trovadores, provavelmente na cidade de Nova Lima, onde recebeu o título de Cidadão Honorário, por força da Lei n° 860/78. Nada mais justo, mesmo porque Cássio Magnani é o autor do Hino da Cidade, cuja gravação me foi também enviada juntamente com seus livros. Meu muito obrigado à família!

Já fiz aquela chamada "leitura diagonal" de todos os volumes, avidamente.

Das linhas que li, alguns poemas já saltaram aos olhos. Poesias completas traz sonetos, trovas e outros poemas, com a marca da poética de Magnani, a contraposição entre o riso e o siso, o humor e a seriedade. Aliás, a expressão latina que abre o livro "Ridendo castigat mores", significa "Rindo, castigam-se os costumes", ou seja, nada mais crítico e sério do que o humor!

Outra surpresa entre os volumes que recebi: um livro de sua filha, Nina Rosa Magnani, "Do Pão Mineiro", sobre o qual postarei muito em breve...

Um soneto de "Poesias Completas" me chamou a atenção, por conter, desde a sua concepção, o que os poetas chamam de "achado". Dizem que um bom poema deve ter, no mínimo, um achado que é a própria justificativa da existência da poesia, uma motivação, uma ideia, algo que chame a atenção...

O achado do soneto "O homem e a pontuação" - p. 50 - é o comparativo que Magnani faz entre a vida e a pontuação, além de fazer um encerramento magistral, uma verdadeira "chave de ouro" do soneto.

Voltarei a Cássio Magnani... Agora, o soneto.


O HOMEM E A PONTUAÇÃO

Irrompe o homem, do ventre para a vida.
Em sua origem - interrogação.
Leva, na adolescência divertida,
sempre nos lábios uma exclamação.

Faz uma pausa - vírgula - e, em seguida,
quer desfrutar a vida, mas, então...
surge a figura da mulher querida.
Noivado. Enlace. Traço-de-união.

Chega a velhice das reminiscências.
Meditação, saudade - reticências...
O conforto do terço e do missal.

Deixa o cortejo, à luz do ocaso amargo,
um corpo sob a terra e faz-se ao largo.
Enfim a eterna paz. Ponto final.

sábado, 27 de agosto de 2011

Rui Knopfli - Virá


In Memória Consentida, p. 251, um dos poemas de Rui Knopfli que mais me fizeram refletir sobre a vida...


VIRÁ...

Virá no bojo nocturno do avião,

na sede inextinguível do carburador,

oculta no tambor das balas,


presa ao decisivo dedo indicador.

Será o coágulo negro que tomba

no declive suave da artéria, a flor


que desabrocha alucinada nas entranhas

e nos esmaga o peito e nos lateja nas fontes

e nos enreda em funestas espirais.


Respire fundo, não faça esforços

demasiados, precisa muito repouso.

Inútil qualquer precaução. Virá.


(Rui Knopfli)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Agradecimento!


(Clique na imagem para ampliar)

De um mês para cá, intensifiquei as postagens neste Blog, o que tem me feito muito bem. Com a constância, passei a prestar mais atenção às funcionalidades que o Blogger oferece. Uma delas é a possibilidade de acesso às estatísticas envolvidas, tais como as postagens mais visitadas, os links que remetem o leitor para a página, os navegadores usados e os países de origem de quem acessa o Trov@s e Ci@.

Confesso que me surpreendi com as diferentes origens.

A imagem acima é um extrato dos locais que acessaram o blog nos últimos 30 dias, alguns países africanos de língua portuguesa e o Japão não aparecem na relação, porque, justamente, ela é um extrato, mas, no trato diário pude constatar visitas de Angola e Moçambique, o que para mim, além dos outros países que o fizeram, é um motivo de grande orgulho.

Então, pela ordem...

Obrigado!
Dank!

Obrigado!

Thanks!

спасибо!

Gracias!
Terima kasih!
Gracias!
Gracias!
Gracias!


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Cássio Magnani - Varietas delectat (1)


Nas incontáveis visitas aos sebos que tenho feito nos últimos anos, encontrei algumas preciosidades. Uma delas foi o livro de Cássio Magnani, Trovas e Trovões - Riso e Siso (1969), que reúne, segundo o autor, Quadrinhas líricas e satíricas e Poemas líricos e satíricos. É um deleite. Aliás, a expressão latina "varietas delectat", que ilustra a página 3, significa "a variedade agrada", ou "a variedade deleita". Constatei, ao ler e reler a obra, que esta expressão resume, exemplarmente, a poética de Magnani.


Confesso que não o conhecia, antes de adquirir a obra. Nas buscas que fiz na internet, pude descobrir que ele radicou-se na cidade de Nova Lima, em Minas Gerais e que seu filho é advogado e vereador. Os dois são autores do Hino da cidade. Letra do pai e música do filho. Não é minha intenção estender-me em sua biografia, mas Magnani foi membro da Academia Belo-horizontina de letras, da Academia Municipalista de letras de Minas Gerais e da Academia Mineira de Trovas. Muito mais ele fez em sua vida civil/militar/literária, mas vou cuidar do que me assiste, aqui, que é render homenagem ao poeta.

O livro está esquematizado como a capa e a expressão latina prenunciam... Seriedade e humor se alternam! Respeitando a grafia original, vejamos...

As disparidades sociais...

Muitas vêzes, a Justiça,
que os formosos olhos cobre,

não vê o crime do rico

nem o direito do pobre.



O jôgo da loteria
é um modo, verifico,
de ainda tornar mais pobre
o pobre que quer ser rico.


A vida e a morte...

Da vida que te embriaga
fica, enfim, tão pouca cousa:
Uma sombra que se apaga,
um nome inscrito na lousa.



Repousa um homem honrado
neste jazigo sombrio
(Eis o epitáfio gravado

sôbre um túmulo vazio).


A eterna busca...

A Felicidade é breve
e a passos largos caminha;
algo bom que a gente teve

sem saber que a gente tinha.

Dicionário Humorístico...

Sumido - aquêle mortal
que vias o dia inteiro,

ao qual pediste um aval

ou emprestaste dinheiro.


Voltarei a Cássio Magnani!


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Trova ecológica - Antônio Augusto de Assis



Trova recebida hoje, entre outras tantas de mesmo naipe, do prezado Assis...



A natureza protesta
sempre que alguém a maltrata.
- Se matas uma floresta,
vem o deserto e te mata!


(A. A. de Assis)

domingo, 21 de agosto de 2011

Versos Fraternos


Os trovadores, assim como os membros de fraternidades, costumam tratar-se por IRMÃOS. Em suas correspondências, nas referências que fazem a trovadores distantes, ou, mesmo, já falecidos, o nome do trovador é sempre precedido da palavra IRMÃO... Tenho a honra de pertencer à União Brasileira de Trovadores e pude notar que esse tratamento fraterno é, apenas, reflexo de uma condição não escrita, inerente à todos os trovadores que conheci. Não é à toa que produzem, os trovadores, poetas especiais, pérolas do pensamento humano, que são disseminadas em cada livreto editado à ferro e fogo, por esse Brasil, há tantos anos. Tenho o costume de visitar os trovadores que conheço e, apesar de, ultimamente, estar em débito com algumas visitas, pude perceber que os trovadores, em geral, são profissionais destacados, nos mais diversos ramos do conhecimento. Alguns de cultura invejável, pós-graduados, catedráticos; outros verdadeiros mestres nos ofícios mais diversos, como gráficos, técnicos, donas de casa exemplares, aposentados, professores em todos os níveis, vendedores, funcionários públicos, autônomos. Todos, sem exceção, tem um plus... Talvez, este plus, os tenha tornado, em algum ponto da vida, pessoas especiais, com algo a dizer... TROVADORES, com todas as letras maiúsculas! A todos eles, aos quais, com orgulho, chamo de IRMÃOS, dedico suas próprias trovas, mesmo aquelas que não fiz incluir neste texto.

E, afinal de contas, não somos, mesmo, todos os Homens, Irmãos ? Vejamos... Arlindo Tadeu Hagen, trovador radicado em Juiz de Fora/MG, em seus versos, nos mostra que existem laços fraternos muito mais fortes do que o próprio sangue:

Existe tanta união
entre teus sonhos e os meus,
que só não és meu irmão
por um descuido de Deus!

explicando, em seguida:

Nesta união que não morre,
somos irmãos de verdade,
pois em nossas veias corre
o sangue azul da amizade!

Fernando Costa, de São Paulo, consegue unir o sangue e a amizade, quando diz :

Sou feliz porque consigo,
num mundo em desunião,
ter um irmão como amigo
e um amigo como irmão...

Mas o irmão de verdade é apenas aquele amigo de todas as horas, ou aquele ao qual estamos ligados por laços sanguíneos ? Ana Maria Motta, de Nova Friburgo, chama a nossa atenção para um outro tipo de fraternidade, talvez, até, mais valiosa :

Quando um irmão nos acode,
ou quer, de fato, ajudar,
jamais indaga se pode;
ajuda sem perguntar.

E as fraternidades não são, justamente, baseadas nessa ajuda desinteressada e sempre presente? Atentem, meus Irmãos, para o que dizia Elton Carvalho, trovador do Rio de Janeiro, num interessante jogo de palavras, onde, o que é muito difícil de conseguir, em termos de trova, a palavra/tema IRMÃO aparece grafada em todos os versos e por duas vezes no último...

Socorre, irmão, no caminho,
teu irmão que nada tem...
não existe irmão sozinho:
todo irmão é irmão de alguém!

E quando isto acontece, quando esta importante ajuda é por nós recebida, venha ela de onde vier, façamos como José Maria Machado de Araújo, que disse:

Quando ao céu levanto as mãos,
vejo o quanto sou mesquinho,
pois tenho milhões de irmãos
e penso que estou sozinho!

e arremata seu pensamento, nos versos seguintes, explicando, a seu modo de ver, quem são os irmãos de verdade:

Em qualquer canto da vida,
irmão é aquela pessoa
que pela gente é ferida
e, ferida, nos perdoa!

Que laços seriam esses, então, a unir as pessoas, tornando-as irmãos ? Aprendi a chamar todos os trovadores do mundo de irmãos... Por quê??? Cícero Rocha põe mais lenha na “fogueira das indagações”:

Iludem laços visíveis...
os laços de sangue enganam...
sem liames invisíveis,
nem irmãos gêmeos se irmanam.

E Augusto Astério de Campos, numa trova digna de moldura, descreve a fraternidade universal, sem rótulos, com beleza poética e sensibilidade inigualáveis:

Irmão é o que traz de ofertas
de paz, quando estende a mão,
cinco pétalas, abertas,
das flores do coração!...

Sublime, mesmo, é quando se reúnem, em duas pessoas todos os laços invisíveis, visíveis, sanguíneos e de amizade, como na trova magnífica de Jorge Murad:

Vendo um guri carregado,
por um outro, o ancião,
perguntou: - Não é pesado?
- Não, senhor, é meu irmão!

Ser IRMÃO, de verdade, com todas as letras maiúsculas, não é tarefa fácil, a trova de Maria Nascimento Santos Carvalho, é quase uma prece-parábola, um pedido de perseverança:

Que eu faça o bem no caminho,
amparando meu irmão,
nessa glória de moinho
que ajuda o trigo a ser pão!

A trova seguinte, de autoria do já mencionado trovador e engenheiro Arlindo Tadeu Hagen, bem que poderia ter sido feita por um filósofo renomado:

Não desprezes teu irmão,
porque é simples, porque luta.
A mais nobre construção
não dispensa a pedra bruta!

O desprezo lembrado acima é um forte empecilho à verdadeira Fraternidade, como também o é a Ambição. Ouçamos as palavras sábias de José Maria Machado de Araújo, um dos pioneiros do movimento trovadoresco moderno, nascido em Portugal e que, radicado no Brasil por mais de 60 anos, hoje faz trovas no infinito...

Nascemos irmãos comuns...
mas a ambição e os engodos
puseram, nas mãos de alguns,
o mundo que era de todos!...

E esta afirmação, encontra guarida no lamento de David de Araújo, de São Paulo:

Haveria mais ternura
nesta existência que passa,
se os que se dão na ventura
fossem irmãos na desgraça!

Orlando Brito explica como devemos fazer para evitar tais desencontros, chamando nossa atenção para a importância do encontro das mãos...

Mãos que imploram, na pobreza;
Mãos que assistem seus irmãos;
quanto amor, quanta beleza
há no encontro dessas mãos!

Para mim, é muito importante poder chamá-los, a todos, de IRMÃOS... Eu, que, por força dos desígnios superiores, não pude conviver com meus três IRMÃOS carnais, hoje em outro plano espiritual... Plano este onde, hoje, fazem versos muitos dos trovadores acima mencionados mas que nos versos deixados, nas sábias palavras com que nos presentearam, e como diria o poeta, “quem deixa versos, parece que morre menos...” ainda estão vivos entre nós! De minha parte, repito a trova com a qual iniciei esta Peça, do atuante Arlindo, vice-presidente da UBT Nacional, como um agradecimento a todos vocês, materialmente presentes, ou não:

Existe tanta união
entre teus sonhos e os meus,
que só não és meu irmão
por um descuido de Deus!


sábado, 20 de agosto de 2011

Os Ácaros - História em Quadrinhos

Como comentei em uma postagem de 2008, tive a ideia de criar "Os ácaros" em um curso de histórias em quadrinhos que fiz em Santo André, acredito que em 1990, com o professor Mário Dimov Mastrotti, quadrinista, editor, criador da personagem "Cubinho", publicado no jornal Diário do Grande ABC, entre outros. Na época da primeira postagem, tinha enviado a proposta de publicação da história de apresentação dos "Ácaros" à revista Áporo, editada pelos colegas da USP. O número 2 da revista (junho de 2008) publicou a história, com a arte final da Leila Rodrigues Ferreira da Silva. Por falta de um aparato técnico decente, não havia publicado aqui. A postagem anterior, do Padre Antônio Vieira, me fez lembrar dos Ácaros... Então, segue a história completa, como publicada na revista e exposta na I Mostra de Quadrinhos de Santo André (1990, se não me engano!). É só clicar nas páginas para ampliá-las.






Pequena biografia do Padre Antônio Vieira... em quadrinhos.

Ivan Lins (o da Academia Brasileira de Letras, crítico e biógrafo) escreveu em seu Livro "Sermões e Cartas do Padre Antônio Vieira" (Ediouro, 3ª ed., 1998, p. 19) que "...Dentre os prosadores de Portugal, que fazem jus a uma leitura constante pelo encantamento e proveito que proporcionam, destaca-se - primus inter pares - o Padre Antônio Vieira."
Tomar contato com os textos de Vieira é um aprendizado da melhor retórica. Lins revela aspectos da coragem e determina
ção do Padre, citando, inclusive, como exemplo, a pregação que fez em 1655, do Sermão do Bom Ladrão, perante D. João IV e sua corte... "Presentes os maiores dignatários do reino, juízes, ministros e conselheiros da coroa, todo o tempo falou em ladrões e ladroagens, valendo-se do púlpito como único respiradouro da opinião pública, na falta da imprensa e da tribuna política."
Vieira sabia usar o seu conhecimento das escrituras para, em seus Sermões protestar e alertar o povo quanto aos ru
mos das sociedades portuguesa e brasileira de sua época. Foi, ainda, um ferrenho combatente da inquisição portuguesa: "...os bons, denunciados pelos maus, não sabendo de onde lhes procede o mal e o dano, por se lhes não nomearem as testemunhas, ficam metidos em um labirinto de confusões..."
Ora, o trecho acima poderia muito be
m integrar a obra "O Processo" de Franz Kafka, escrito séculos depois! Quando, em 2007 tive a oportunidade de apresentar na USP um seminário sobre o Padre Antônio Vieira, ilustrei alguns aspectos da biografia do Padre, baseado no livro de Ivan Lins, com uma história em quadrinhos, distribuída aos colegas, que publico abaixo, na qual foi possível, à parte o texto sério da narrativa, brincar com imagens atuais.

Clique na imagem para ampliar.




sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A vida verdadeira de Domingos Xavier - Luandino Vieira

“Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos...”

(Tecendo a Manhã, in A Educação pela Pedra
João Cabral de Melo Neto
)


O livro A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, de José Luandino Vieira, foi escrito em 1961, mas publicado apenas em 1971, em edição francesa, como lembra Fernando Augusto Albuquerque Mourão, no prefácio à edição brasileira, da coleção Autores Africanos, da Editora Ática.




Trata-se de um romance em dez capítulos no qual Luandino Vieira delineia, cinematograficamente, eventos ligados à prisão e tortura da personagem título, Domingos António Xavier. A veia cinematográfica da trama se constrói na utilização dos cortes efetuados, geralmente de um capítulo para o outro, nos quais Luandino apresenta ao leitor as diversas personagens e seus papéis no enredo. Ou seja, assim como os galos de João Cabral de Melo Neto, cada personagem contribui, com suas ações, para a formação das identidades em jogo, quais sejam a identidade da personagem Domingos, fragmentada ao longo da narrativa, bem como a de seus companheiros de luta, da rede de “irmãos” revolucionários. Assim, com a evolução dos fatos, é possível para o leitor entender o funcionamento da estrutura revolucionária, passando pela conscientização do povo, como na passagem em que o alfaiate Mussunda explica ao carteiro Xico João a questão da dinâmica opressora entre ricos e pobres (p. 37) e avançando na intrincada distribuição de tarefas entre os revolucionários, envolvendo desde anciãos até crianças, como é o caso de Vavô Petelo (antigo marinheiro Pedro Antunes) e seu neto, o miúdo Zito, este de importância capital na trama, porque é a primeira personagem que informa da chegada de um novo prisioneiro na Cadeia local, na verdade destinada à recepção de presos políticos, sistematicamente submetidos à torturas.
A partir daí, as personagens do núcleo estabelecido em Luanda, tentarão construir a identidade desse prisioneiro, tentando fazer o caminho contrário da repressão, voltando à aldeia de origem, passando por uma engenhosa rede de comunicação, cuja apresentação constrói uma outra identidade, maior que a da personagem, a identidade do próprio povo oprimido de Angola.
Em termos narrativos, predomina a narração em terceira pessoa, o chamado narrador onisciente múltiplo, ora “colado” a uma, ora a outra personagem, como no trecho em que o Vavô Petelo esforça-se por manter na memória a imagem do prisioneiro: “...Só no velho Petelo essa cena, vista no relance que lhe permitiam os olhos gazos por céus e mares, mas bem contada no neto Zito, não lhe abandona. Procura não esquecer, traço por traço, as feições adivinhadas, o jeito do olhar, o corpo magro e alto.”. Porém, no capítulo 5, p. 46, Luandino Vieira nos brinda com uma passagem que emprega a técnica da narrativa do fluxo de consciência da personagem Domingos Xavier, que inicia-se no trecho “... É verdade, irmãos, preciso de cumprir. Ontem já cumpri. Na Administração me deram com a pancada nos pés, nas mãos, no mataco, irmãos...”, para mais à frente, esclarecer, honrado: “...Tantas vezes que desmaiei. Mas sempre me acordavam com balde de água e pontapés. Mas não falei, irmãos. Domingos António Xavier não atraiçoou seus irmãos...”.
Em relação à construção das personagens, a maioria constitui-se de personagens planas (para seguirmos a classificação de E. M. Foster), cujas características estão bem marcadas por suas participações e funções na trama, como é o caso dos cipaios, das lavadeiras, do chefe de polícia e do agente que promovia a tortura na personagem principal, em oposição àquelas em cuja psique Luandino se aprofundou, como o Vavô Petelo, Maria e, principalmente, o próprio Domingos Xavier.
Há ainda, de se ressaltar, a participação na trama do grupo Ngola Ritmos, que realmente existiu e cuja importância verídica para o movimento revolucionário é retratada na farra da qual participam, a convite da comunidade. Historicamente, as reuniões em torno do grupo, em suas apresentações, eram também oportunidades de encontro e reuniões de membros do movimento revolucionário angolano.
Além da construção da identidade do povo angolano, A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, também é um romance que amplia a visão do leitor sobre essa identidade ao descrever tanto a paisagem do interior de Angola, nas passagens em que a personagem título ainda encontra-se em sua aldeia, exercendo as funções de tratorista, quanto, também, a paisagem de Luanda, os musseques, as prisões, a cidade alta e a cidade baixa, cenários em que vivem as personagens, algumas transitando entre esses diversos espaços, como é o caso do Vavô Petelo, de Maria e de Xico João.
Por vezes, no mesmo espaço, Luandino ressalta as diferenças sociais da Angola dos idos de 1961: “... O acampamento ficava longe, fora do estaleiro, metido numa baixa, à esquerda da estrada, onde se alinhavam as cubatas iguais dos operários e trabalhadores negros da barragem...”, em oposição a “...Lá em cima, no topo dos morros frescos, viviam, em camaratas de alumínio, os operários brancos, e mais longe, em casas com belos jardins à volta, de relva cuidada, os empregados superiores da empresa...”.
A ambientação, proposta por Luandino, entendida aqui como resultante da interação das personagens com o meio, ganha ares de denúncia social: “... Do menino afogado na lagoa da Pameli ou da faísca que matou a criança refugiada em baixo da mulemba, ou das muitas cubatas que tinham caído nos musseques deixando seus moradores sem abrigo, ou sepultados em vida, nenhum jornal falou.”.
O livro, com seus cortes, suas costuras e suas denúncias, é um desafio de desconstrução e construção: Luandino desconstrói. O leitor constrói, alinhavando, como o alfaiate Mussunda, as linhas soltas do enredo. Cada leitor é um galo de João Cabral. Cada angolano é uma linha...

E é por isso, que Mussunda pode dizer, no final do livro, “...Domingos António Xavier, você começa hoje a sua vida de verdade no coração do povo angolano...”.