domingo, 26 de agosto de 2007

O Quarto


- Bem, Sr. Vincent, são R$.500,00 por mês, com café da manhã... Gostou do quarto? O banheiro é coletivo! Que foi isso na sua orelha?

"O Homem NUNCA pisou na Lua!"


"Como posso afirmar isso? Observe: estou SEM capacete!" (extraído de "A farsa lunar", de Sergílio da Uspecéia)

Parceria

Em noites de nostalgia,
quando a rimar eu me atrevo,
tua ausência, em parceria,
dita os versos que eu escrevo !


(Sérgio Ferreira da Silva)

Ardendo em Febre



Ardendo em febre, acordo e te procuro
mas, ao meu lado, o leito está vazio...
Tateio, em vão, por todo o quarto escuro
e teu perfume eu sinto, em desvario!


Da tua ausência, então, eu me asseguro
dizendo à Solidão, num desafio:
“Se tens, em tuas mãos, o meu futuro,
da Vida e do Destino eu renuncio!”


Pois, se é a Saudade a causa deste ardor,
eu sou Poeta... e, a par do dissabor,
ao comandar os Versos, eu ordeno:


“Desperta, Amor, que é hora de lutar...
e, se o Universo inteiro te enfrentar,
basta mostrar-lhe o quanto ele é pequeno!”
(Sérgio Ferreira da Silva)

Maria Lua


“De Lua e de Estrelas” é um livro de autor. Estilo da primeira à última palavra. Maria Lua (radicada em Friburgo) é a poeta que fala do infinito e nos deixa ao lado das estrelas e da harmoniosa cadência do Universo. Maria Lua transpira mistério e sentimento. Tem o olhar treinado de quem vê além das estrelas. É pisciana e aprendeu a identificar o “sorriso das flores”. Mais ainda, uma das grandes divulgadoras da poesia de Mário Quintana. Para você, Lua:


Poeta é aquele que traz
o Sol e Lua em seu peito,
despreza a razão e faz
do desvario... um direito!

(Sérgio Ferreira da Silva)

No livro, ela nos fala sem falar:


O SILÊNCIO


O silêncio
que rodeia o silêncio
em que me calo
é denso
pesado
ansioso...
É um silêncio
que grita lembranças
e ecoa ausências...
É um silêncio
que acentua a mudez
dos gestos pálidos
e desaproveitados...
É um silêncio
que agride a agonia
das palavras úmidas
e inacabadas...
É um silêncio
que assusta as canções
e afasta os poemas...
O silêncio
que envolve o silêncio
em que me fecho
é tenso
opaco
definitivo...


(Maria Lua)

Sérgio Bernardo


Outro trovador de quem eu era “fanzaço” antes de conhecer pessoalmente. Depois de conhecê-lo, por falta de um superlativo apropriado, sou mais fanzaço ainda. Em “Caverna dos Signos” não é o trovador Sérgio Bernardo quem nos fala: é o poeta maiúsculo e o prosador envolvente e profundo. Sérgio Bernardo, carioca radicado em Nova Friburgo é jornalista, também e escreve para o jornal “A Voz da Serra”. É freqüentador assíduo do Bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, celeiro de ótimos poetas, em sua ebulição cultural contínua. Aprendi muito lendo as trovas e poemas dele. Um grande abraço, Serjão! Aliás, que nome bonito você tem! Do livro, um soneto e tanto:


Espólio do senhor do quarto 5

Três violetas já murchas numa lata,
um par de óculos sem uma lente,
um talco, uma loção, um robe, um pente,
uns discos velhos, uma cruz de prata,

um prato, um copo, um garfo, um detergente,
leite azedo num pires, uma gata,
uma conta a pagar naquela data,
um bloco, um lápis, cartas de um parente,

um travesseiro, a cama sem lençol,
um sapato já gasto, um cachecol,
uma calça, um casaco, um quadro torto,

um antigo retrato de criança,
um lenço de mulher, uma aliança,
uma vela apagada, um sonho morto.

(Sérgio Bernardo)

A trova em três tempos...


Esse precioso livro de Lygia Gomes de Pádua, da UBT Belo Horizonte, traz em sua capa toda a essência de seu conteúdo. A trova, como já disse em um tópico anterior, é chamada pelos trovadores de ROSA. A capa do livro de Lygia dispõe pétalas e rosas em uma composição harmônica e equilibrada. Seu livro não é diferente: dispõe as trovas em três tempos distintos. Três maneiras de apresentar a trova, tanto aos leitores, quanto aos trovadores. Na primeira parte, apresenta definições da trova, na visão de diversos autores. Na segunda, a técnica de composição (métrica e rima, mais especificamente) e na terceira, o deleite, o alumbramento, os malabarismos, as composições. É como se as rosas da capa fossem apresentadas, primeiramente por botânicos que as definissem; num segundo momento dissessem o que é preciso para que uma flor seja considerada uma ROSA e, por fim, desfilassem imagens das mais belas rosas pelas retinas do leitor. Trabalho sensível. que foge ao lugar-comum. A seguir, algumas das tantas trovas que Lygia colacionou:
...

Talvez rireis ao saberdes
como eu me sinto em apuros
se pousais os olhos verdes
em meus olhos já maduros!

(José Fabiano – Belo Horizonte/MG)


Infância é um brinquedo usado
que, um dia, a vida resolve
tomar um pouco emprestado
e nunca mais nos devolve!

(Arlindo Tadeu Hagen – Juiz de Fora/MG)


Saudade, posso entendê-la
ao ver no céu, a luzir,
o brilho daquela estrela
que já deixou de existir...

(Waldir Neves)