segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

José (Fabiano e Ouverney): um livro a quatro mãos!

 
 
O autor do prefácio do livro "E agora, José...s?!, Arlindo Tadeu Hagen, inicia suas palavras com uma trova...
 
 
Sete sons em quatro versos...
É a trova, em rumos risonhos,
fazendo de homens dispersos
irmãos em rimas e sonhos!
 
 
E prossegue: "...Incrível realmente esse milagre que a Trova tem conseguido fazer no sentido de aproximar pessoas tão diferentes. Diferentes credos, profissões, cidades, condições sociais se aproximam pelo único elo de se descobrirem igualmente Trovadores..."
 
Refere-se, claro, a todos os trovadores de forma geral e a dois, em especial: José Fabiano e José Ouverney.
 
A capa, em si, já é uma obra de arte, da lavra do sempre talentoso Jaime Pina da Silveira. Divertidísssima!
 
 
 
 
 
São 100 trovas de cada autor, com as pérolas que seus autores selecionaram para nosso deleite. Destaco...
 
 
A marca determinante
de um vencedor tem dois traços:
a luz - moldando o semblante,
e a fé - moldando seus passos!
 
(José Ouverney)
 
 
Se a dor de ti se aproxima
e se buscas o que a traz,
não te voltes para cima,
antes olha para trás...
 
(José Fabiano)
 
 
Marcaram minha existência
duas heranças fatais:
no amor, a palavra "ausência";
na ausência, a expressão "jamais"...
 
(José Ouverney)
 
A pano bem alvejado,
político é parecido.
Depois de sujo e lavado,
não perde nunca o encardido...
 
(José Fabiano)
 
 
 
Todas as trovas denotam um trabalho atento de seus autores. Poderiam figurar em qualquer compêndio, ou manual de confecção de trovas ou de poesia de um modo geral. Não são palavras jogadas ao vento. Há, em todas, um intenção bem clara: levar o leitor a ampliar o sentido delas, extraíndo, assim, justamente o que não está escrito. As de Ouverney estabelecem parâmetros de análise, ao indicarem as palavras-chaves para o entendimento da mensagem que pretende fixar (confiança em si e na Divindade, equilíbrio entre matéria e espírito - na primeira trova) e, relação de gradação entre ausência pura e simples e a perda definitiva posterior (na segunda trova), pela reflexão do eu lírico sobre o significado das palavras e o real alcance de suas ocorrências em sua vida.
 
Também as de Fabiano trazem suas marcas de estilo, posto que a primeira denota a própria profissão de fé do autor, pela implícita relação de causa e efeito do destinatário do eu lírico, que deve, antes de culpar um ser superior por seu martírio, examinar sua consciência e/ou seus atos passados, para entender a causa de suas dificuldades. Como eu disse, não são palavras simplesmente jogadas e arranjadas para promover um embevecimento dos sentidos. São trovas para pensar e pensar seriamente.
 
Digo isto, ao final da postagem, porque ouvi, há poucos momentos, que elegeram-se, para a Câmara e para o Senado de nosso país, dois políticos condenados pela Justiça (com fichas mais sujas do que cabeça de estátua em praça pública!).
 
A trova de José Fabiano, com o seu jogo de oposições entre "alvejado" e "encardido", nos faz rir, num primeiro momento... Pensar, logo em seguida... e faz chorar aos mais sensíveis por muito tempo.
 
Quando inventaram de dizer que trova é "arte menor", o sentido original não tinha nada de menosprezo. Isto se devia ao fato de que ela era tramada em redondilhas, só isso.
 
Ao lermos trovas como as dos autores acima, temos certeza de que a arte de trovar é muito maior do que parece, uma trova é como um gás confinado. Abre-se a válvula do entendimento e da reflexão e ele pode expandir-se ao infinito.
 
A expansão continuará na próxima postagem em um outro encontro de José Fabiano, em que voltarei a falar sobre sonetos. Sonetos que dessacralizam o próprio ato da criação poética e os sonhos e anseios do poeta. Até lá e a benção queridos Josés!