quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Brincando com sonetos!

José Octávio Gomes Venturelli, no dizer de Izo Goldman, é o máximo! Também acho! Radicado em Nova Friburgo, costuma chamar seus amigos de “meus cachorros”. Por isso, quando ligo para ele, ou quando nos encontramos, vou logo latindo! Não é por acaso, então, que meu cachorro tem o nome dele! É respeito! É amizade! Vou falar muito mais sobre ele aqui no Blog... Em fevereiro desse ano, ele mandou para vários amigos e poetas esse soneto (Meus 70 anos). Devolvi um outro (Teus 70 anos) e usei, de brincadeira, as últimas palavras de cada verso dele no meu (preguiça de procurar rimas!). Ficou interessante:



MEUS 70 ANOS!

Aos setenta cheguei sem ter notado
a pressa desta vida fugidia.
E hoje, ao sentir tão perto o meu passado,
eu sei perene a luz da "Estrela-Guia".

Passou depressa o enredo de meu fado
na busca de aconchego na harmonia,
mas vou mantendo ainda o amor guardado
junto a uma prótese da angioplastia...

Eu não posso queixar-me da existência:
cantei a vida desde a adolescência
em Trovas, em Sonetos, em canções!

Mas a fadiga que nos traz a idade,
marcando a ausência de outros corações,
me faz de cada ausência uma saudade.


(Octávio Venturelli)


TEUS 70 ANOS!

Ao tempo que passou, sem ser notado,
dedicas mais que a “vida fugidia”:
és um poeta e fazes do passado
a centelha, que acende a “Estrela-Guia”!

Conosco compartilhas o teu fado,
multiplicando, em nós, tua harmonia...
De quebra, ainda tens amor guardado?
Bendita seja a tua angioplastia!

Honraste cada dia da existência,
com olhos de quem vive a adolescência
e traz, no peito, um rastro de canções!

Mas o maior presente desta idade
é que ao tocares nossos corações,
nós nem sabemos, mais, o que é saudade...


(Sérgio Ferreira da Silva)


Centro Literário de Rio Claro (1)


É muito comum acontecer, em municípios ou regiões distantes da influência dos grandes centros, a reunião de poetas e escritores em bibliotecas, centros cívicos, casas de cultura, etc. Em 1997, isso aconteceu na cidade de Rio Claro/SP, para onde se havia transferido meu amigo de infância, o Antônio de Oliveira (trovador e poeta que me apresentou a UBT). Aliás, é muito mais fácil acontecerem reuniões dessa natureza em pequenas e médias cidades, talvez pela proximidade maior entre os potenciais mecenas (prefeitos, secretários de cultura e formadores de opinião) e os poetas e prosadores. Tudo isso para dizer que, dessas reuniões surgem coletâneas, antologias, exposições coletivas, saraus e diversos outros eventos que funcionam como oportunidades de divulgação e acabam trazendo mais escritores para o grupo. O grupo de Rio Claro foi chamado de CLIRC (Centro Literário de Rio Claro) e eu participei de alguns encontros na época, como convidado do amigo. Numa recriação (guardadas as devidas proporções) do movimento modernista, não só escritores participavam do grupo: havia artistas plásticos expondo, ilustrando poemas e participando ativamente do grupo, que, segundo informações da Maísa, filha do Antonio, continua produzindo e aglutinando arte (link ao lado). Irei, aos poucos, divulgando o trabalho desse povo, que achei fantástico. Fiquem com Gilson Câmara Filgueiras:



REFLEXO

A torneira pinga

Pingos

De

S

O

L

I

D

Ã

O

Na sementeira dos sonhos (2)

Promessa é dívida: algumas trovas extraídas do Livro “Na Sementeira de Sonhos”. Dois detalhes: são trovas de poetas “encantados”, cuja obra remanesce e continua a falar por eles... Além disso, a última trova, que traz um “achado” no verso final, nos padrões atuais, foge ao esquema de rima cruzada, porque só rimam o 2º e o 4º versos e seria automaticamente desclassificada em um concurso do gênero.


Depois dos cinqüenta, pai,
a verdade nos corrói.
Não se fala: Como vai?
A pergunta é: Onde dói?

(Luiz Gonzaga Sanches)


Vou no meu rumo ou caminho
colhendo, em coisas de amor:
- De metro em metro, um espinho!
- De légua em légua, uma flor!...

(Luiz Pizzotti Frazão)



Só quem calcula as saudades
que eu sinto do que perdi
é que concorda comigo:
- Eu já não vivo... eu vivi...

(Júlio Zamith)