segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Foto na frente do mapa... e as Gotas de Pinho Alabarda!

Nasci em 1963, em junho, quase um ano antes do Golpe Militar de 64. Fui matriculado no 1° ano primário, no Grupo Escolar Camilo Pedutti, em Santo André, no ano de 1970, por absoluta insistência de minha parte. Explico: a matrícula, naqueles tempos, só era admitida a crianças com 7 anos completos. Minha mãe, Dona Helena, conseguiu me inscrever como "ouvinte". Minha primeira professora foi a Dona Veridiana, de quem "ouvi" aulas, achando que era aluno, durante todo o mês de junho de 1970. Na época não as chamávamos de "prô". Vieram as férias e fui convidado a ser aluno, mesmo, a partir de agosto daquele ano. Mudei de sala... e fui aluno da Dona Ivone. No segundo ano, a professora chamava-se Helena, feito minha mãe (uma das professoras mais carinhosas que tive). No terceiro ano, a temida Maria Aparecia, cujos métodos pedagógicos incluiam castigos físicos, um deles puxar o aluno pelos cabelos. Passei a usar brilhantina, nessa época (o que a levou a me puxar pela orelha porque eu havia errado uma questão de geografia). Minha mãe, então, entrou em cena e ela evitou me fazer perguntas... hehehe! Não sei o que elas conversaram, mas provavelmente foi tenso. Em 1973, 4° ano. Professor Kamal, que tinha um lema: fale bem, ou fale mal, mas fale do Kamal! - pura poesia!

Desta época, então, além da saudade saudável, tenho duas fotos, uma delas na frente do mapa, como o título dessa postagem sugere



e um pequeno tesouro, cuja imagem fechará essa nossa conversa.

Outra coisa: da infância, trago ainda grandes amigos e irmãos, alguns do Pedutti, como os Stoianov (Armando e Valdir), o José Antonio Capelli, o José Luiz Beltrame (padrinho da minha filha), o José Lacerda Sobrinho e o Gilmar da Silva Ruiz. Alguns deles não vejo há tempos. Continuam amigos, claro, que a amizade não é algo que acabe! Outros amigos fui fazendo ao longo da adolescência, nas faculdades e pela vida afora... Temos, em comum, além da Carteira de Identidade com numeração baixa, as fotos dos áureos tempos idos... Por isso, combinei com alguns deles (Angelo Eduardo Battistini Marques e Gilmar Santana) que tiraríamos a mesma "foto com mapa atrás" quando nos encontrássemos, ao longo da vida. Até ficarmos velhinhos... Como se pode ver na imagem abaixo (de 2008)!



Por fim, o tesouro que guardo daqueles tempos é um adesivo, com uma trova da poeta Colombina. Estes adesivos vinham de brinde nos pacotes das "Gotas de Pinho Alabarda" e, por iniciativa do Pedro Ornellas, vim a saber que eram divulgados pela trovadora Maria Thereza Cavalheiro, que presidiu a União Brasileira de Trovadores, Seção São Paulo, nos anos 60 e início dos 70. Eu comprava os pacotinhos na saída da escola, porque o "Seu Justo", que era o inspetor de alunos, não permitia o consumo dentro da escola (mas a merenda era ótima!).

Ou seja, as trovas estavam em minha memória afetiva e em uma caixa de guardados que minha mãe ajudou a preservar. Hoje eu faço trovas e as disponho em "adesivos virtuais", estas postagens que espalho em meu blog! Os tempos mudam, os adesivos mudam!

Um grande e afetuoso abraço a todos os meus amigos/irmãos, mesmo àqueles que não estudaram no Pedutti, nos anos 70!

Sua benção, Colombina!





sábado, 17 de setembro de 2011

Action Poetry


(Jackson Pollock)


Action Poetry

Um poema acabado

revisado

rimado

metrificado

consagrado

dissecado

explicado

e publicado

para ser completamente entendido

(ou para fingirmos que sabemos o quanto ele é sublime)

geralmente é comparado às pinturas de

Velázquez

Da Vinci

Caravaggio

Van Gogh

Renoir

Manet

não tão frequentemente às de

Dalí

Miró

Picasso

escrever o poema

no entanto

é jogar

“os grãos na água do alguidar”

escrever é Pollock!


(Sérgio Ferreira da Silva)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Outra fornada de pão... e poesia!


O Diovani Mendonça, idealizador do Pro
jeto Pão e Poesia, de cuja 3ª edição falarei futuramente, me fez a grata gentileza de remeter algumas imagens das embalagens da 2ª edição. Vou dividí-las, então, para que elas se multipliquem (essência da comunhão!).






segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Revista Língua Portuguesa - Setembro/2011 - e o projeto Pão e Poesia


Muito feliz com a matéria da Revista Língua Portuguesa deste mês, cuja aquisição, inclusive, recomendo. É uma publicação dinâmica, editada por profissionais compromissados em divulgar os diversos aspectos da língua portuguesa, sem preconceitos linguísticos.


Minha felicidade se justifica, além de ser leitor assíduo e por ter contato com alguns de seus colaboradores, professores da Universidade de São Paulo (fui aluno do Professor Mário Viaro de fonética e fonologia, por exemplo!) porque, neste mês, a revista publicou uma matéria sobre o projeto Pão e Poesia, do qual participei com trova e soneto.



Numa postagem anterior, falei da régua poética, dos outdoors, dos cartões postais etc. A matéria é uma prova de que uma divulgação original e eficaz pode ser fruto de reconhecimento e incorporação da poesia em nosso dia a dia.

Parabéns Revista Língua Portuguesa! Parabéns Diovani Mendonça, o idealizador do projeto!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Nina Rosa Magnani - Do pão mineiro



Este blog é uma fonte de encontros, desde os interiores até os interpessoais. Da postagem sobre Cássio Magnani, além da descoberta de um poeta e trovador completo, com trânsito livre entre o lírico, filosófico e humorístico, há, ainda, a confirmação do ditado "filho de peixe, peixinho
é!".

Nina Rosa Magnani é psicóloga por formação e poeta de nascença. Imagino que sua infância foi coroada de poemas e de contatos com pessoas ligadas ao fazer literário. Ou seja, uma formação cultural como há muito não se vê.

Fui honrado, por ela e seu irmão Cássio, com alguns livros da lavra de seu pai e com o livro que dá título a essa postagem: Do pão mineiro, obra integrante da coleção Poesia Orbital, editada pela Associação Cultural Pandora, de Belo Horizonte, em 1997. Coleção que abriga, além da obra em questão, 61 outros títulos.


Sobre a obra, a autora revela na orelha da capa: "É um olhar feminino sobre sons, cheiros e sabores variados, no grande cuité do coração", o que podemos confirmar, na leitura do poema a seguir...

F R U T A M A D U R A

Tomar a vida nas mãos dói um pouco...
Exige um coração cada dia maior
uma prontidão clara
e simples
cada dia mais simples,
uma fidelidade
inacabada
ao que não se pode pegar
nem tocar
nem reter,
por mais amorosas que sejam
as mãos
por mais lindos os versos
e a dança.

Continuar
exige leveza,
um remanejar dos móveis
e um coração cada dia maior,
ampla e vasta planície,
longo reacender de um mesmo cigarro de palha,
novas velas na cozinha
novo incenso no ar...

Lua nova,
lua crescente,
lua cheia,
lua minguante
e o corpo maré
maré
enroscando uma nova espiral.

E as palavras são milhas
e as combinações
várias
várias extensões
de um mesmo canto
no peito do universo...


O livro reúne reflexões poéticas sobre a vida, as sensações, a passagem do tempo, as perdas e conquistas de todos nós, como nos versos seguintes...


"Tudo está velho
tudo mofou;
as pessoas se mudaram
o amor perdeu a força
a amizade precisa reciclagem.

O baú das mágicas
está cheio de truques
falidos
pólvora molhada
efeitos déjà vu.

O sentido se perdeu
poucos sons tocam
a corda do infinito
adormecida."

A sensibilidade observadora de Nina Rosa Magnani transparece nas linhas e entrelinhas do texto e é simplesmente magistral nos versos do poema que dá nome ao livro. Fiquem com ele, saboreiem e sintam o aroma do pão, que é vida em sua marcha constante...

D O P Ã O M I N E I R O

Deixar fermentar
as idéias
e a vida
ao sol
como essa montanha ao meu lado
(quase posso tocá-la com o dedo)
Antiquissimamente...

Deixar-se embrenhar
emprenhar-se
dessas montanhas de minas
antigas

Ser revolvida
inchada
milenarmente...
Nada sempre existiu de instantâneo...
Trabalhar com as mãos
os instantes
e a eternidade.

Aguardar ao sol
que qualquer dia
arrebente
em trigo
e marcha.

domingo, 4 de setembro de 2011

Régua Poética... 25 cm de trovas!

Já mencionei aqui algumas maneiras criativas de divulgação de poesia: os 200 outdoors com trovas do Zaé Júnior, nas ruas de São Paulo; as trovas de guardanapo; a trova postal...

Outras iniciativas ocorreram na história do movimento trovadoresco: em Bauru, um Bosque repleto de trovas; chuva de trovas no Terraço Itália, em São Paulo; balões de gás com trovas, em Porto Alegre; as trovas que vinham em cartões autocolantes, nas gotas de pinho Alabarda; as trovas que compusemos para o livro Celebridades, do Sérgio Madureira, além de outras formas de fazer a poesia chegar até o leitor, mas que me escapam do conhecimento e da memória.

Porém, em Nova Friburgo, nos 45°s. Jogos Florais, realizados no ano de 2004, confeccionadas por Pedro Ornellas, que quando não faz poesia é gráfico, foram distribuídas réguas de 25 centímetros com 7 trovas: quatro antológicas e 3 premiadas naquele certame.


(Clique na imagem para ampliar)

A iniciativa é simples, no entanto sua abrangência é espetacular.

Passados 7 anos, a minha conserva a qualidade, mesmo sendo frequentemente utilizada.

O que quero ressaltar é que, seja em imãs de geladeira, seja em brindes, ou pela internet, sempre haverá uma maneira criativa de divulgar seu trabalho de escritor, poeta, advogado, médico etc.

As réguas são uma excelente alternativa de divulgação em escolas e escritórios, por exemplo!

Levei alguns exemplares destas réguas para serem distribuídos na escola próxima à minha residência e o sucesso foi imediato.

Abaixo, então, a trova de Joaquim Carlos, que foi vencedor do concurso local...


Tatuei no peito a imagem
da mulher que eu tanto quis
foi um erro, a tatuagem
hoje em dia é cicatriz!

sábado, 3 de setembro de 2011

Cássio Magnani - Ridendo castigat mores (2)


Essa postagem é a segunda sobre Cássio Magnani... e não será a última. A primeira postagem, em 25 de Agosto, acabou por gerar um contato com dois dos filhos do autor: Cássio Magnani Júnior e Nina Rosa Magnani. Do contato, acabei sendo honrado e presenteado com outros livros de Cássio Magnani, o qual descobri, na apresentação do livro "Poesias Completas", ter sido Delegado da União Brasileira de Trovadores, provavelmente na cidade de Nova Lima, onde recebeu o título de Cidadão Honorário, por força da Lei n° 860/78. Nada mais justo, mesmo porque Cássio Magnani é o autor do Hino da Cidade, cuja gravação me foi também enviada juntamente com seus livros. Meu muito obrigado à família!

Já fiz aquela chamada "leitura diagonal" de todos os volumes, avidamente.

Das linhas que li, alguns poemas já saltaram aos olhos. Poesias completas traz sonetos, trovas e outros poemas, com a marca da poética de Magnani, a contraposição entre o riso e o siso, o humor e a seriedade. Aliás, a expressão latina que abre o livro "Ridendo castigat mores", significa "Rindo, castigam-se os costumes", ou seja, nada mais crítico e sério do que o humor!

Outra surpresa entre os volumes que recebi: um livro de sua filha, Nina Rosa Magnani, "Do Pão Mineiro", sobre o qual postarei muito em breve...

Um soneto de "Poesias Completas" me chamou a atenção, por conter, desde a sua concepção, o que os poetas chamam de "achado". Dizem que um bom poema deve ter, no mínimo, um achado que é a própria justificativa da existência da poesia, uma motivação, uma ideia, algo que chame a atenção...

O achado do soneto "O homem e a pontuação" - p. 50 - é o comparativo que Magnani faz entre a vida e a pontuação, além de fazer um encerramento magistral, uma verdadeira "chave de ouro" do soneto.

Voltarei a Cássio Magnani... Agora, o soneto.


O HOMEM E A PONTUAÇÃO

Irrompe o homem, do ventre para a vida.
Em sua origem - interrogação.
Leva, na adolescência divertida,
sempre nos lábios uma exclamação.

Faz uma pausa - vírgula - e, em seguida,
quer desfrutar a vida, mas, então...
surge a figura da mulher querida.
Noivado. Enlace. Traço-de-união.

Chega a velhice das reminiscências.
Meditação, saudade - reticências...
O conforto do terço e do missal.

Deixa o cortejo, à luz do ocaso amargo,
um corpo sob a terra e faz-se ao largo.
Enfim a eterna paz. Ponto final.