domingo, 14 de dezembro de 2008

Arte 10



Clique na imagem para visualizar os detalhes!




Esse aí é o John Taylor, do Duran Duran, em um quadro de 1986 by Leila Rodrigues: pinceladas expressivas, volume, uso de gradação de tons. Gosto muito.


O lado literário da Leila...



Mesmo quem conhece a Leila dificilmente conhece a sua escrita: direta, reflexiva, equilibrada e sincera. Faz prosa poética, crônica, poesia. Intuitiva e sempre positiva.
Boas festas e bom final de ano a todos! A Leila fala, agora, pela família toda...





Balanço de Final de Ano


Vejo os dias passando diante de meus olhos: observo cada movimento; cada olhar
e escuto todos os pensamentos.
Penetro em olhares, atravessando-os para atingir, além da matéria, a essência de cada um.
Rio e choro,
Brinco e trabalho.
Amo e sou amada, ou odiada.
Sigo minha vida sem entender o porquê da violência, da maldade e da inveja.
Como é bom chegar até aqui e ver tudo de bom que conquistei.
Como é ruim chegar até aqui e ver tudo de mau que já enfrentei.
A vida é uma jornada interessante e trago boas lembranças das pessoas que cruzaram meu caminho e me ensinaram coisas diferentes.
Não tenho riquezas materiais, mas, espirituais, tenho de sobra.
Meu sorriso é meu cartão de visitas.
Minha lealdade, o cartão de permanência.
Meu coração aberto, meu cartão de amizade vitalícia.
Se você é do bem, entre e fique à vontade para repartirmos impressões e vivências.
Se não é, passe, aproveite a boa energia e transforme seus pensamentos.
Precisamos de mais pessoas boas no mundo, para vencermos a violência e a escuridão.
Porque todos nós nascemos para brilhar: não só neste final de ano, mas... por toda a nossa vida!

(Leila Rodrigues)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Falta de Educação tem cura. Consulte um Professor.





Clique na imagem e leia o adesivo!


Ontem, 09 de Dezembro de 2008, em uma escola estadual, um aluno de 8ª série (portanto na faixa de 14 anos de idade), munido de um skate, cumpriu uma ameaça que fez no mesmo dia à sua professora de português: "...se você me reprovar, vou detonar seu carro!". Cheguei à escola no exato momento em que a professora, em prantos, constatava a execução da ameaça. Registrei, então, no celular, a cena lamentável. Se esse fato fosse perpetrado por um adulto, o código penal disporia como "Crime de Dano". Mas foi um "di menor" que o praticou, então: ato infracional.

Em meu trabalho, por vezes, registro os depoimentos de menores como ele, custodiados (eles não podem ser presos), porque surpreendidos em flagrante (no momento, ou momentos após a prática do ato infracional). Nosso trabalho é certificar as condições físicas do adolescente e colher sua primeira versão dos fatos. A maioria nega qualquer participação. Em geral, eles estão acompanhados da mãe (às vezes da mãe e do pai; muito raramente apenas do pai ou outro "responsável"), que tem as mais variadas explicações para as causas das ocorrências: falta de condições financeiras; as "má companhia"; o vício; a ausência paterna; a índole indomável; e por aí vai.

Não sei o que levou esse menino, de nome bíblico (aliás, de um Rei!), a vingar-se da professora destruindo o vidro traseiro do veículo com seu poderoso Skate. Se um dos motivos acima, ou algum outro de ordem psicológica ou psiquiátrica. Não sei.

Sei, porém, que ela não merecia sofrer esse dissabor. Todos sabemos das precárias condições oferecidas àqueles que abraçam a carreira do magistério. São injustiçados todos os dias, entregando sua saúde e tempo, em troca de uma parca contraprestação. Essa professora, em especial, acredita no poder da educação para mudar o mundo e a realidade daqueles menos favorecidos socialmente: reparem nos dizeres do adesivo colado ao vidro estilhaçado: FALTA DE EDUCAÇÃO TEM CURA. CONSULTE UM PROFESSOR.

Será que o garoto, com nome de Rei guerreiro, leu o adesivo antes de cometer o "ato infracional"? Acho que não! Sua mãe compareceu à escola, na noite do mesmo dia, em prantos, também. O garoto (que trabalha!), compareceu e comprometeu-se a pagar o prejuízo (negando a autoria, embora testemunhas garantissem o fato).

Não acredito que a professora será ressarcida: a dor que ela sentiu não foi patrimonial. O vândalo, com nome de Rei, não demonstrou na retratação a "coragem" que teve ao destruir o patrimônio alheio...

A professora, no entanto, permanece fortalecida. Acredita na educação e tem ciência do bem que faz aos seus alunos, como todos os outros professores e profissionais que trabalham nessa escola estadual .

No mais, acredito que é hora de uma séria revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente. O Brasil necessita de uma melhor análise e acompanhamento dessas gerações que farão as leis do futuro, sob pena de ficarmos subjulgados a pessoas com nome de Rei, ou não, mas com atitudes sanguinárias e violentas, como previu o trovador Antônio de Oliveira:



Onde o ensino é relegado,
e as letras não têm valor,
há de pagar ao soldado,
quem não paga ao professor!

Incentivando a Poesia e preservando a Natureza!

Já falei aqui de algumas coisas interessantes feitas com poesia: o livro Celebridades (Ame Nova Friburgo), do Sérgio Madureira, em que os artistas foram homenageados com trovas; as trovas do Zaé Júnior, em 200 Outdoors espalhados pela cidade de São Paulo; as trovas postais, que espalhei pelo Brasil e as trovas na agenda Livro da Tribo. Outras iniciativas já fizeram, em São Paulo, por exemplo, uma "chuva de trovas". Trovas eram lançadas do alto do Edifício Itália, e eram emcontradas a quilômetros de distância (hoje essa prática não seria aceitável, porque os papéis não recolhidos contribuiriam para entupimento de esgotos. Vale o registro!)

Pois bem, a empresária e advogada Marinês de Paula, que comanda a empresa Bag Beach, especializada em produção de bolsas e embalagens com a marca da responsabilidade ambiental, ou seja ecologicamente corretas, apostou numa idéia interessante: me propôs estampar em alguns de seus produtos poemas de minha autoria. O resultado está na foto abaixo...



Conheça mais da Bagbeach: http://www.bagbeach.com.br

Poemas Desentranhados

Manuel Bandeira (aqui retratado por Portinari) foi protagonista de sacadas poéticas incríveis.
Uma delas:


Poema Desentranhado de Uma Prosa de Augusto Frederico Schmidt

A luz da tua poesia é triste mas pura.
A solidão é o grande sinal do teu destino.
O pitoresco, as cores vivas, o mistério e calor dos outros seres te interessam realmente
Mas tu estás apartado de tudo isso, porque vives n
a companhia dos teus desaparecidos.
Dos que brincaram e cantaram um dia à luz das fogueiras de São João
E hoje estão para sempre dormindo profundam
ente.
Da poesia feita como quem ama e quem morre
Caminhaste para uma poesia de quem vive e recebe a tristeza
Naturalmente
- Como o céu escuro recebe a companhia das primeiras estrelas.

(Manuel Bandeira - Poesia Completa & Prosa, Rio de Janeiro, José Aguilar, 1967)



Esse poema foi "desentranhado" de um artigo do também poeta Schmidt, que foi "ghost writer" do Presidente Juscelino.

Ponto! De exclamação! Metalinguagem pura! Brincadeira literária de um poeta para outro, a partir de uma prosa! Vai analisar um troço desses!

Pois bem, em 2007, minhas aulas de Literatura Brasileira foram ministradas pela Professora Doutora Yudith Rosenbaum, pessoa maravilhosa, autoridade em Clarice Lispector e Manuel Bandeira, que, no primeiro semestre, tratou do Modernismo Literário Brasileiro...

(Yudith Rosenbaum)

Daí, que um colega de turma, de nome Amilkar, figurassa carimbada da faculdade, sugeriu a ela que eu fizesse algo parecido, abordando o Modernismo, que era tratado nas aulas, "porque ele é poeta, professora!"

(Amilkar e Antônio Cândido - Duas figurassas!)

o resultado:


Lobato Malfatti lupus

(poema desentranhado de uma aula de Yudith Rosenbaum)


A luz difusa que sai do retrato ofusca o retratado. Mas,

que retrato é esse, tão diferente do modelo?

Nada nele é familiar, tudo é surpresa e choque.

[o esperado, às avessas...

Por 4’ e 33” a audiência gritou:

[Paranóia! Paranóia!

E a orquestra obedecia ao comando do Maestro,

[Silenciosamente mistificada,...

por 4’ e 33”!

A subjetividade retratada é tensa,

[e é feia,

[objetivamente feia!

O belo é outra coisa, diferente, não contrária.

Lobato não entendeu

[ou fingiu não entender!]

:foi Dorian Gray, depois do pacto:

[um retrato envelhecido...

... de si mesmo!

(dedicado a Amilkar Henrique Gonçalves de Moura e a Yudith Rosenbaum)

Sérgio Ferreira da Silva

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O melhor show da minha vida! (The best show of my life!)

RED CARPET MASSACRE - DURAN DURAN - VIA FUNCHAL/SP - 21 e 22 de Novembro de 2008.

(Foto by Sérgio Ferreira da Silva)

Valeu a espera de 20 anos para rever esse grupo, que fez muito sucesso nos anos 80, com hits como Save a Prayer, The Reflex e Wild Boys. Em Janeiro de 1988, eu e a Leila (já noivos) assistimos a participação deles no festival chamado HOLLYWOOD ROCK. No mesmo dia, apresentaram-se o grupo brasileiro ULTRAJE A RIGOR e o também inglês SIMPLY RED. Todos com ótimas performances. Agora em 2008, além da sempre companheira Leilinha, a filhota LAURA também compareceu e vibrou em dobro, pelos dois quarentões. Nos dois dias, ficamos em locais ótimos, colados à grade, a dois metros de distância dos ídolos. Conhecemos outros fãs do grupo, da nossa geração, além de outros mais novos. Foi emoção pura! Quando se reencontram velhos companheiros a alegria e a festa estão garantidas. O Duran Duran sempre esteve conosco, fez a trilha sonora da nossa vida e, pelo visto, fará um pouco da trilha da Laura, também...

(Foto by Cuca Pimentel - www.obaoba.com.br)

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sérgio Bernardo 2




Já falei dele aqui... Leiam esse poema que venceu um dos mais cobiçados concursos do Brasil... Na formatação em que ele publicou. Fala, aí, Serjão!


Movimento
de espelhos

1
O dia
compõe em mosaicos
meus instantes

Amanheço
fragmentos
e durmo
ilusão de conjunto
na mais total
incompletude

Como quem se mira
em espelhos quebrados
restauro
utópicos fractais
de mim

ainda encontro a forma
de esculpir-me
um corpo indivisível

2
Na minha mesa posta
um bule com o choro de
[ontem
servido amargo

Entre os jornais do dia
o roteiro em detalhes
do que podia ter sido

Em vez da geléia de morango
o suor das tarefas
num pote de cerâmica

A faca corta o pão
como se amputasse
a língua do ódio

No balcão da copa
o relógio do microondas
cobra meu tempo

Todo dia às 7
desjejuo em silêncio
e a família ignora
a fome de dentro

3
Desço escadas
tateando teias
que eu ontem teci
junto às aranhas

Procuro os porões
em que apodrecem
palavras puídas

Entre trastes de avós
coleciono em caixas
remorsos antigos

Não existem janelas
nestes aposentos
e a única lâmpada
ainda nova queimou

As paredes gastas
aceitam o mofo
do modo que aceito
o oco dos dias

Nos meus subterrâneos
por que essa mania
de reter o já findo?

4
Fabrico holofotes
com minhas palavras

Cada gesto meu
produz um incêndio

Semeio lâmpadas na casa
no quintal crio vaga-lumes

Sou eu que toda noite
faço o parto da lua

Nos olhos e sorrisos
idealizo abajures

Adormeço meu frio
no colo do fogo

Com dedos de sol
amanheço a cozinha

Prendo estrelas em fios
e as vendo nas feiras

A claridade é meu ofício

5
Que sei eu das sombras
petrificadas em chinês
nas paredes da infância

Que sei eu dos muros
separando mundos
nos quintais da pátria

Nas mesmas palavras
dos mesmos livros
que sei eu de mim

Que sei eu
ignorante em didática
das aulas sonegadas

Eu que não sei nada
sendo parte de tudo
que sei eu do outro

Que sei eu, me diga
das manhãs e tardes
tecidas em silêncio

Órfão das noites
paginando lendas
que sei eu das luas

Na ciranda do tempo
que sei eu da face
que move os espelhos

(Sérgio Bernardo)

Poema premiado no 43º Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup), no Paraná

Quatro Sérgios

A foto abaixo é curiosa! Da esquerda para a direita: Sérgio Ferraz dos Santos, Sérgio Ferreira da Silva, Sérgio Bernardo e Sérgio Mauro. Quatro Sérgios, quatro poetas, quatro trovadores e os quatro em Nova Friburgo, terra que os quatro amam!





sábado, 15 de novembro de 2008

Adverbiando




Sede de Mente

A anônima mente

mente.

Mente, tão somente,

por ser anônima:

Anonimamente!

A mente

mente, simplesmente.

Mente... por mentir.

Simples mente.

Como mente? Totalmente? Parcialmente?

Mente indefinidamente e,

como mente indefinida,

mente sem alarde,

comumente...

Verdadeiramente, mesmo quem ama

mente:

mente por amar;

mente por mentir...

E quem não ama, mente?

Mesmo quem não amamente!

Urge que, por fim, se saliente:

nem toda mente mente!

Se não houver a quem mentir,

mente a mente

o ente

mente à mente.


Sérgio Ferreira da Silva

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Marcos "Nasi" Valadão 2 - O encontro com o ídolo


Tô eu na USP, hoje, no intervalo entre aulas, passeando na feira do livro (prédio da História)... Me liga o Sérgio Rorato:
"Cara, onde você está? O Nasi tá pertinho da gente!" - Corta! Voltando ao início dos anos 80 (por volta de 1981)... Fui assistir, no Centro Cultural São Paulo, um show de um grupo chamado Voluntários da Pátria (tenho o disco deles), embrião do grupo IRA! Acompanhei toda a carreira do IRA!, até a recente e tormentosa separação. Cheguei a tocar guitarra base e fiz os vocais de um conjunto de garagem, cujas melhores performances eram "covers" do IRA! em 2003, fui 1º colocado em um concurso de contos do SESC, cujo tema era "Só depois de muito tempo fui entender aquele homem!", que é o trecho de uma música do grupo. Cheguei a sonhar, algumas vezes, que cantava com o grupo, ou que conhecia os integrantes. - Corta! Hoje, 13 de Novembro de 2008, o Nasi estava lá, na USP, corri na direção dos amigos, arranquei o caderno da bolsa, peguei uma caneta e fui atrás do camarada: "Nasi! Nasi!" Ele foi muito simpático e gentil. Contei a ele que acompanhei o grupo desde os tempos do Voluntários e ele: "Que legal!" "Bacana!" "Vá assistir meu show dia 13..." Tiramos uma foto (Eu, ele e o Sérgio Rorato, que também é fã de carteirinha!). A foto ficou uma "caca". Chamei ele outra vez: "Nasi, a foto ficou uma b....!" "Tudo bem! Vamos tirar outra:


Olha a simpatia do menino e as caras de bobos dos Sérgios!
(Foto by Renato Lacerda, no celular de Luana Fontana - Thanks!)



Marcos "Nasi" Valadão - O autógrafo do ídolo!


Taí o autógrafo, com um abraço e a data do próximo show (13), em dezembro, na casa de shows CLASH - Rua Funchal, em Sampa.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DIVENEI BOSELI


Divenei Boseli é trovadora e sonetista de primeira conjugação... Explico: foi das primeiras que aprendi a admirar quando, das mãos de Antonio de Oliveira, recebia livretos de trovas, com resultados de concursos de todo o Brasil, antes de me tornar trovador! Ou seja, as trovas de Divenei (e de outros grandes trovadores brasileiros) me ensinaram a fazer trovas. Ela é uma das “culpadas”, digamos assim. Posso dizer, então, que eu DIVENEI... Espero que você DIVENEIE, também...


Não regressas... Mesmo assim,
a ilusão que eu julguei morta,
morta de pena de mim,
monta guarda à minha porta.


Saudade, eterno martírio
que ocupa, agora, em meu peito,
os espaços que o delírio
ocupava em nosso leito!...


Vai trabalhar, vagabundo,
grita a mulher, feito gralha;
e ele rosna lá do fundo” :
– “Vagabundo não trabalha!”…

(Divenei Boseli - São Paulo/SP)

Sérgio Ferreira da Silva

sábado, 8 de novembro de 2008

TINHA O QUÊ??? ou TINHA UMA DROGA DE UMA PEDRA NO CAMINHO




Outro exercício, agora com Drummond, na Escola Livre de Literatura, também em 2005...

Tinha o quê???

No meio do caminho, tinha alguma coisa.

Pois, é! Eu estou aqui, no caminho, pronto e decidido a enfrentar essa COISA!

Outro dia, alguém escreveu no jornal (um crítico, talvez), que o Poeta não disse, no poema, aquilo que ele deveras disse (citando o Pessoa). Mas, por ser uma antena de seu tempo, disse o que disse, porque era a voz da consciência de todos nós.

EU NÃO NOMEEI POETA NENHUM MEU PROCURADOR!!!

Aliás, é por isso que estou aqui, neste caminho... Nenhum Poeta, por melhor que seja, vai me representar... Andar meus passos por mim. Ficam, aí, endeusando um, consagrando outro... Idolatria! Idolatria barata!

De minha parte, até agora, não vi COISA NENHUMA! Êta caminho besta, sô! Não tem nada!

Estou andando faz tempo... Já está escurecendo... e nada!

Que breu! Estranho, este céu sem estrelas,... sem esperança,... sem nada.

O caminho parece o céu: escuro, sem Lua,... sem uma estrelinha...

Será o mesmo caminho do Poeta? Chão batido,... sem beirada? Só o caminho... e este céu escuro, sem estrelas? Céu sem estrelas... e sem nuvens! Nenhuma nuvem! Nada!

Eu!

Só eu, no caminho!

Olhando para o céu vazio!

Andando... Andando...

AAAIIII!!!! Ai meu dedo!!!!

Tinha uma droga de uma PEDRA no caminho!!!

(Leia, agora no sentido inverso!)

Sérgio Ferreira da Silva

Imitando Kafka...


Kafka (Andy Warhol)


"...A prosa universal de Kafka é a história dos pesadelos do mundo moderno, um retrato ampliado das fraquezas e defeitos inerentes à espécie... As situações intoleráveis, a angústia e o absurdo, os ambientes bizarros e a força psicológica dos seus argumentos são as idéias centrais deste autor clássico." (Pedro Maciel)

OS QUE PASSAM POR NÓS CORRENDO

Quando se vai passear à noite por uma rua e um homem já visível de longe _ pois a rua sobe à nossa frente e faz lua cheia _ corre em nossa direção, nós não vamos agarrá-lo mesmo que ele seja fraco e esfarrapado, mesmo que alguém corra atrás dele gritando, mas vamos deixar que continue correndo.
Pois é noite e não podemos fazer nada se a rua se eleva à nossa frente na lua cheia e além disso talvez esses dois tenham organizado a perseguição para se divertir; talvez ambos persigam um terceiro, talvez o primeiro seja perseguido inocentemente, talvez o segundo queira matar e nós nos tornássemos cúmplices do crime, talvez os dois não saibam nada um do outro e cada um só corra por conta própria para sua cama, talvez sejam sonâmbulos, talvez o primeiro esteja armado.
E finalmente _ não temos o direito de estar cansados, não bebemos tanto vinho? Estamos contentes por não ver mais nem o segundo homem.

Conto de “Contemplação / O Foguista”, de Franz Kafka


Quando, em 2005, participei dos encontros com o escritor Ricardo Lísias, na Escola Livre de Literatura, em Santo André, participei de uma atividade que consistia em escrever um texto, a partir da leitura de um pequeno conto desse maravilhoso autor. Escolhi OS QUE PASSAM POR NÓS CORRENDO...

POR QUE NÓS PASSAMOS CORRENDO?

I

O primeiro homem

Por recomendação do cardiologista!

Prefiro correr à noite. Principalmente nas noites de Lua Cheia... Não há automóveis! Às vezes, levo meu walkman - o ritmo da música determina o da corrida. Às vezes, meu irmão corre comigo... Então, nos tornamos duas crianças: apostamos corrida e gritamos feito loucos! Às vezes, cruzamos o caminho de algum bêbado de olhar assustado, mas passamos velozes e ele fica para trás, tentando entender a algazarra.

E, afinal, não temos o direito de extravasar? Trabalhamos o dia inteiro! Depois, é chegar em casa... e dormir!


II

O segundo homem

Eu corro atrás dele!

Meu irmão mais novo é um inconseqüente: gosta de correr a noite (diz que é recomendação médica) e não se apercebe dos riscos que corre. Concordo que a corrida é um hábito saudável, mas, à noite – e, pior, com Lua Cheia -, o perigo aumenta!
Noite dessas, corríamos ladeira abaixo e eu avistei um sujeito estranho. Gritei para que meu irmão tivesse cuidado, mas ele achou que era apenas um bêbado e fez pouco caso.

Por isso, quando corro com ele, levo, sempre, minha arma. Tenho porte... Não é um direito? Eu prometi à minha mãe que cuidaria dele aqui na cidade!

Sérgio Ferreira da Silva

Obs.: O Título é o mesmo da tradução, com as palavras e letras dispostas de forma diversa, sem acréscimo ou diminuição de seu número [ANAGRAMA], como um questionamento.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

No princípio, era MATRIX...



EVOLUÇÃO

“No sexto dia, Deus criou o homem, à sua imagem e semelhança, sem furo nenhum atrás da cabeça!”

(autor desconhecido)

(No meu sonho, as letras e números verdes caem à minha frente, girando sobre o próprio eixo. Isso me acalma).

- Tudo, no universo, resulta de uma lógica superior, um código não visível, inexplicável. Caminhamos, quer dizer, a humanidade caminha lentamente em direção à evolução, mas eu não posso esperar! A trilha evolutiva se estende por inúmeras gerações e, infelizmente, eu só tenho uma vida!

- Mas isso nunca foi feito! O que o senhor está querendo fazer é pura fantasia... É loucura, é...

- Ficção Científica!

- Nós não podemos... O senhor não pode...

- Doutor, no início do século vinte, disseram a Santos Dumont que voar era impossível,... mas ele tinha um sonho! E sonhava acordado, como eu! A diferença entre nós dois é a de que ele podia executar seus planos e voar em seus protótipos. Eu, entretanto, necessito de cirurgiões, anestesistas, enfermeiras, um hospital, etc...

- O senhor pode morrer! Pode sofrer lesões irreparáveis, pode...

- Posso, não, doutor: eu VOU morrer, um dia! Um dia! Faça! Simplesmente, faça!

- Senhor Silva,...

- Pode me chamar de Neo!

- Uma grande empresa japonesa já patenteou um dispositivo que envia estímulos eletro-magnéticos ao cérebro, de forma não-invasiva... Mas, o que o senhor quer é que implantemos em seu cerebelo um receptor de impulsos, no estilo daquele filme!

- Matrix! Isso mesmo! Finalmente o doutor entendeu!

- É uma brincadeira, não é? Tem uma câmera escondida, em algum lugar?

- Vou ser mais claro: se vocês não fizerem a cirurgia, vou parar de fazer doações ao seu hospital!

- Mas... nós dependemos de suas doações, senhor Silva, quer dizer, Neo!

- Fique tranqüilo, doutor, já fiz meu testamento! Caso eu morra, ou tenha qualquer seqüela, o hospital receberá, mensalmente uma boa quantia, por várias décadas! Mais do que recebe hoje!

- Sendo assim, senhor Sil... NEO, não me resta alternativa, a não ser concordar. Me diga, somente, o que o levou a acreditar que uma história como a do filme poderia tornar-se realidade?

- Doutor, desde Júlio Verne, os escritores e roteiristas de ficção vêm antecipando a invenção e desenvolvimento de aparelhos, máquinas, armas e veículos que, hoje em dia, são considerados úteis e imprescindíveis para a vida cotidiana. Chegará o dia em que o Homem será teletransportado a qualquer lugar, e que as doenças serão diagnosticadas com aparelhos portáteis semelhantes àqueles usados pelo Doutor McCoy, da série Jornada nas Estrelas... A ressonância magnética não é quase aquilo?

- Nisso você tem razão, Neo!

- Então, doutor? Estamos combinados? Podemos fazer a cirurgia na próxima semana?

- Podemos, claro! Daqui a seis dias! Pode me entregar o protótipo do aparelho receptor. Vamos implantá-lo em seu cerebelo, tomando todo o cuidado para que não provoque nenhuma lesão, além daquelas inevitáveis, já que se trata de um processo invasivo!

- No futuro, eu sei disso, poderei aprender a pilotar helicópteros, usar armas poderosas e lutar como um mestre das artes marciais, “plugado” a um software de aprendizado, graças ao senhor. Muito obrigado, doutor!

- Pode me chamar de Morpheus!

- Boa! Muito boa! Há! Há!

...

- Doutor Morpheus, como está o paciente do implante? Na mesma, ainda?

- Já te falei para não me chamar de Morpheus!

- Quanto tempo já faz? Doze? Treze?

- Quinze! Quinze anos!

- Ele nunca reagiu?

- Olha, para falar a verdade, depois que eu coloquei um monitor na frente dele, com a proteção de tela do filme, aquele com as letrinhas verdes caindo, ele nunca mais teve convulsões!

Sérgio Ferreira da Silva

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Maurits Cornelis Escher 2

Na litografia abaixo, fonte da minha inspiração, chamada "Hand with Reflecting Sphere" de 1935 (existem outras esferas, não menos interessantes!), Escher faz metalinguagem. Observa e é observado. Ao mesmo tempo, questiona a maneira tradicional da observação artística: QUEM OBSERVA? talvez seja a pergunta implícita. Gosto muito das obras dele. Há, sempre, uma disposição de inovar, um olhar diferenciado e uma proposição interativa... É o gênio questionando seu próprio ponto de vista!





Experimentando...


Wilson e sua filha (reflexo sobre DVD - fotografia - by Sérgio Ferreira da Silva - 2008)


Laura (reflexo sobre DVD - fotografia - by Sérgio Ferreira da Silva - 2008)



Leila (reflexo sobre DVD - fotografia - by Sérgio Ferreira da Silva - 2008)




terça-feira, 21 de outubro de 2008

Vida e Poesia (2)


Duplicando o teu sorriso,

esse espelho, sem favor,

reflete o instante preciso

da beleza... interior!

Sérgio Ferreira da Silva

Vida e Poesia (1)



A imagem traz duas flores:

uma delas tão formosa,

que foi espalhando cores

e deu vida à outra rosa!


Sérgio Ferreira da Silva

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Maria Elizabeth Candio

Conheci a autora desse poema na UBT (União Brasileira de Trovadores) e aprendi a admirá-la, primeiro pela força de seus poemas e, depois, pela sensibilidade no trato com os poetas e trovadores. Professora universitária, é uma daquelas pessoas que, embora distante, permanece no carinho e respeito bem pertinho de nós!


Essa Palavra

(Em memória de Clarice Lispector)

Há que me chegar essa palavra,
fraco fio de forte consistência:
Faca e agulha e lâmina e navalha,
que me trava e me é libertadora.


Há que me chegar essa palavra,
leve lã de longa resistência:
Agasalho e meia e luva e malha,
que me encobre e me é reveladora!



Maria Elizabeth Candio

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

NOVA FRIBURGO: O SOL DA POESIA

Reproduzo, abaixo, matéria publicada hoje (03 de Outubro de 2008), no Jornal A Voz da Serra, em Nova Friburgo. Obrigado, Sérgio Madureira!

Estamos em plena primavera – a estação das flores, época que, sem dúvida, tem tudo a ver com Nova Friburgo. Aliás, tudo, todas as estações combinam com nossa maravilhosa cidade, cujo clima é um dos melhores do país, como se pode comprovar oficialmente e diariamente nas páginas dos principais jornais, tendo como fonte o serviço de meteorologia.
Mas, como citamos a primavera, as flores e o clima também combinam com poesia. E não se pode esquecer a brilhante denominação, que só poderia ter sido um saque magistral de um poeta, o Magnífico trovador paulista Sérgio Ferreira da Silva, ao se referir a Nova Friburgo: Sol da Poesia.
A história em detalhes ele contou pela primeira vez em maio de 2004, quando veio participar de um dos jogos florais. Em sessão na Câmara de Vereadores, especial para o projeto de lei, então recém-aprovado, que considerou Nova Friburgo a Cidade da Trova, Sérgio, acompanhado de sua mulher e de sua filha, contou que sempre que sai de São Paulo, onde mora, para a serra friburguense, pegando a estrada muito cedo e sob os ares da famosa garoa paulista, tem pela estrada, a cada vez que se aproxima de nossa cidade, a companhia agradável dos raios solares, que vão se intensificando e que sempre estão cada vez mais radiantes em sua chegada. “É o sol da poesia”, decretou ele, que considera ainda o evento de trova realizado há quase meio século em nossa cidade como “a verdadeira Copa do Mundo” do meio trovadoresco.
Sérgio é um verdadeiro amante de Nova Friburgo. E todo o seu caso de amor com a cidade pode ser conferido em seu blog:
http://trovasecia.blogspot.com.
Para comprovar a acertada definição de Sérgio sobre nossa Nova Friburgo, “abençoada por Deus e bonita por natureza”, as belas fotos não nos deixam mentir.

sábado, 23 de agosto de 2008

Uma crônica sobre Santos Dumont


É UM PÁSSARO? É UM AVIÃO? NÃO, NÃO É UM PÁSSARO... E SIM, É UM AVIÃO,... PILOTADO POR UM BRASILEIRO:

ALBERTO SANTOS-DUMONT!

“Nas asas do desvario,

tentando um sonho alcançar,

eu despenquei no vazio,

mas... aprendi a voar!”

(Edmar Japiassu Maia – Rio de Janeiro/RJ)

Quem avistasse, nos céus de Paris, nos idos de 1900, pela primeira vez, aquele artefato esquisito, cuja estrutura lembrava uma letra “T” invertida, alçando vôo por seu próprio deslocamento, pilotado pelo jovem Alberto Santos-Dumont, sem dúvida alguma um dos homens mais determinados que a história da humanidade produziu, detentor de um talento ímpar e uma genialidade inesgotável, poderia travar o diálogo insólito do título, muito em voga anos depois como referência a um conhecido personagem de quadrinhos, eternizado, em nossos dias, pelas superproduções hollywoodianas...

Santos-Dumont foi milhares de vezes superior àquele herói: existiu! Alçou vôos incríveis e superou-se repetidas vezes, voando mais e melhor a cada nova tentativa. Não foi ejetado de um planeta distante: nasceu no Brasil, fruto da imigração européia (de descendência francesa e portuguesa). Não obtinha do sol seus superpoderes: sua força sempre foi sua determinação incansável, o estudo constante e a experimentação científica metódica e planejada. Não demonstrava fraqueza quando exposto à matéria mineral de seu planeta: tinha orgulho de sua terra-mãe, o Brasil, nome que carregou consigo em seus feitos e em seu patriotismo exemplar.

Você poderia argumentar que, embora fictício, o super-herói citado é capaz de lançar-se destemidamente ao espaço e pousar sobre a Lua... É, realmente, posso até admitir essa façanha, mas, provavelmente ele, o Homem de Aço, pousaria solene sobre uma cratera lunar que, por ocasião do quarto aniversário da chegada do homem à Lua, recebeu o nome de... de... de... isso mesmo: Santos-Dumont! Santos-Dumont? – poderia perguntar um terráqueo brasileiro - É! Com a seguinte observação do astronauta Michael Collins: “Olhai para esse mapa da Lua. Vede! Lá está o nome de um dos homens que tornaram possível a conquista do Espaço. Foi um brasileiro que hoje pertence a toda a humanidade: Alberto Santos-Dumont. Um homem do espaço.”

Na ficção, o Kriptoniano mencionado esconde sua identidade, e seu físico avantajado, atrás de um óculos quadrado e uma roupa social bem cortada que, incrivelmente, engana a todos, inclusive sua própria namorada (?!?!?!). Alberto Santos-Dumont tinha um aspecto frágil, não desenvolveu bíceps, tríceps e peitorais e não escondia-se atrás de uma identidade secreta: era aclamado publicamente pelas ruas de Paris, foi um herói em sua época! Seus feitos (contrariamente aos de dois irmãos americanos muito espertinhos, cujo nome não declinarei neste texto) foram amplamente divulgados pela imprensa da época, documentados por fotógrafos e cineastas, e presenciados por multidões (os dos irmãoszinhos, não!).

Santos-Dumont encarava seus novos desafios de frente, publicamente expunha seus projetos, os documentava e considerava seus inventos e aperfeiçoamentos técnicos como patrimônio da humanidade, como um bem comum. Talvez, por isso, tenha se ressentido de certas utilizações bélicas de seus inventos, que o conduziram, supõe-se, a padecer de um mal tão comum em nossos dias, a depressão, e à sua conseqüência mais funesta, o suicídio.

Porém, existe uma característica que aproxima o paladino voador dos quadrinhos e o nosso sensível e obstinado herói-de-verdade: eles são indestrutíveis! O personagem dos gibis, ao final de suas histórias, é sempre agraciado com o beijo apaixonado de sua eterna namorada e os vivas e aplausos da humanidade, a quem salva dos terríveis vilões. Santos-Dumont, cujo nome está escrito em ouro no Livro dos Grandes Homens (a História da Humanidade), na História da Ciência, na História da Aviação, da Mecânica, e em todos os campos da Ciência pelos quais se aventurou, lançando-se, como o poeta da epígrafe, no vazio e na incerteza do desvario, tentando alcançar o sonho que não era apenas seu, mas de toda a humanidade, ávida por conquistar e por desbravar os limites do ontem, para novamente superá-los amanhã, é imortal.

Sua imortalidade não é ficcional: tanto que, o reconhecimento do valor literário de suas obras, no relato de suas experiências levadas a termo, e de seus diversos inventos e adaptações, o elegeram, por seus reconhecidos méritos, em 1931, como membro da Academia Brasileira de Letras, na cadeira de nº 38. Ou seja, Santos-Dumont, destacado, ainda, no meio científico, pode ser chamado, também no mundo das Letras, de Imortal, título reservado àqueles membros eleitos por seus pares, nas Academias de Letras, onde cultua-se e difunde-se o conhecimento e a excelência literária.

Dizer mais de Santos-Dumont talvez seja desnecessário: compará-lo ao personagem mais conhecido da histórias em quadrinhos em todo o mundo, cujo nome é desnecessário escrever, foi uma licença que me permiti, apenas para encontrar uma metáfora que fosse suficientemente capaz de estabelecer um contraste colorido: Santos-Dumont não pode ser comparado aos seres humanos reais! Foi um Homem a frente de seu tempo, um visionário, um realizador, um cientista, um herói!

Foi, no entanto, muito mais: um sonhador...

que aprendeu a voar!

Sérgio Ferreira da Silva

BIBLIOGRAFIA:

Trova no tema DESVARIO – de Edmar Japiassu Maia – 1° Lugar no Concurso dos Magníficos Trovadores de Nova Friburgo – Livreto dos Jogos Florais – Carestiato Editores – Nova Friburgo/RJ - 2003.

Informações colhidas no site: http://www.14bis.mil.br, do Governo Federal, pelo centenário do vôo do 14 bis.