segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Diários de Bordo (Crônicas)

Sábado (27 de Fevereiro de 2011), lancei meu segundo livro, também pelo Clube de Autores: Diários de Bordo - Crônicas de uma Suspensão". Abaixo, o texto de apresentação, a capa (A redoma), desenho de minha filha, a Laura e o link:

"Coletânea de crônicas publicadas nos fóruns de discussão da ADVFN (www.advfn.com) sobre a empresa AGRENCO LTD., antes, durante e após a suspensão das operações pela CVM. Originalmente, os Diários de Bordo eram postados como "resumos" de ocorrências relacionadas às variações de cotação das BDRs da companhia, negociadas na Bolsa de Valores, sob o código AGEN11. Após alguém chamar o forista Zhemarks de "capitão", o autor teve a ideia de adaptar os fatos do dia às situações e personagens da série Star Trek. Com o tempo, e principalmente após a suspensão das operações, que durou mais de 11 meses, novos personagens passaram a integrar a saga, agora também relacionados à série Star Wars. Assim, Zhemarks tornou-se Capitão Zhé Kirk e Edgar Salomão Mansur, o EDSALO KENOBI. O valor da cotação, por exemplo, R$.2,89, era chamado de setor (espacial) dois ponto oitenta e nove. Acompanhe a saga e seus desdobramentos pelo viés do humor, do mito e do imaginário coletivo, onde realidade e ficção são o pano de fundo para o relato de uma história de superação, união e perseverança. Colaboraram com a edição os foristas TANTEI, ANTONIONF, PEDREIRO, ZHÉMARKS, BHÊ VIEIRA, EDSALO e PETR4USER."





sábado, 5 de fevereiro de 2011

Matéria sobre o projeto "Pão e Poesia"

Descobri hoje um texto interessante, de um jornalista mineiro, que registra alguns aspectos do Projeto Pão e Poesia, do qual participei em 2009/2010. Vamos a ele!


Pão e poesiaA revolução trará não somente direito ao pão, mas também à poesia”
Trotsky
Marcos Fabrício Lopes da Silva*

Graças aos nutricionistas extraordinários, conhecemos uma dieta saudável à base de pão e poesia. O contista cubano Jorge Onélio Cardozo tinha mesmo razão: “o ser humano tem duas grandes fomes, a de pão e a de beleza; a primeira é saciável; a segunda, infindável”. Nesse sentido, o nosso cardápio existencial foi muito bem apresentado pelos Titãs, na canção Comida (1987): “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Ou seja, o indivíduo precisa sustentar o corpo com o pão e a alma com a poesia para zelar pelo seu equilíbrio.

Diante das “duas grandes fomes” humanas, o projeto “Pão e Poesia: em qualquer esquina, em qualquer padaria”, idealizado pelo poeta mineiro Diovani Mendonça, desponta na cena cultural com a apropriação da embalagem utilizada por padarias para divulgar a arte poética ao público, vinculando à necessidade de atender “a fome de pão” dos consumidores o prazer destes em poderem saciar “a fome de beleza”, a partir do alimento poético. Contando somente com a iniciativa voluntária dos seus colaboradores, o “Pão e Poesia” ganhou as ruas em 2008, com a distribuição gratuita de 300 mil embalagens ecologicamente confeccionadas às panificadoras da periferia da Região Metropolitana de Belo Horizonte, visando facilitar o acesso público às obras artísticas e divulgá-las em um suporte bastante alternativo.

No ano passado, o “Pão e Poesia” recebeu com distinção e louvor o 1º lugar no Prêmio Pontos de Mídia Livre, na categoria local/estadual, oferecido pelo Ministério da Cultura. Além do empenho voluntário, a segunda edição do projeto, referente a 2009, foi viabilizada pela premiação e pela parceria com o IAP – Instituto Aprender Profissionalizar. 120 mil embalagens já foram distribuídas às panificadoras, tendo em vista as intenções que acompanham o projeto desde o seu início. Além de reconhecer o trabalho de autores já consagrados, o “Pão e Poesia” abre espaço para novos escritores (que estão à margem da sociedade e das grandes editoras), desperta nas pessoas o gosto pela leitura e o interesse pela arte poética, ampliando o acesso do público a ela.

Na versão 2009, os saquinhos de papel trazem as obras dos artistas plásticos Eduardo Vilela, Gilberto de Abreu, Guido Boletti, Iara Abreu e Jair Leal, além dos poemas de Adriana Versiani, Alice Ruiz, Arnaldo Antunes, Fabrício Marques, José Ouverney, Marcelo Dolabela, Paulo Franchetti, Paulo Urban, Sebastião Nunes, Wilmar Silva, entre outros. Somam-se aos trabalhos dos 32 poetas/artistas plásticos convidados e homenageados, 108 poemas selecionados por meio de inscrição via internet, nas categorias Haicai, Trova, Soneto e Verso Livre.

As embalagens também participam da exposição itinerante “Pão e Poesia na Escola”, podendo ser oferecidas aos colégios interessados e/ou ampliadas em banners a título de mostra cultural. Aproveita-se o contato com as instituições de ensino para a promoção de oficinas e bate-papos sobre poesia e arte. Esse conjunto de ações visa contribuir para a formação de poetas, leitores e educadores poéticos. Várias escolas públicas das cidades de Contagem, Betim, Esmeraldas, Lagoa Santa, Belo Horizonte, Sete Lagoas e Cotia (SP), foram atendidas pelo programa, que já contemplou cerca de 10 mil estudantes.

A questão educacional também se faz presente nos achados poéticos do “Pão e Poesia”. Neste ano, temos nas trovas de José Ouverney a contribuição decisiva da educação para o desenvolvimento nacional – “Quando a base é a educação/na visão de um governante,/não há no mundo Nação/que não cresça e se agigante!” – e a valorização do agricultor que, mesmo com a escolaridade prejudicada pela extenuante jornada de trabalho no campo, se destaca como produtor de alimentos e de riqueza para o país – “Na roça não tive estudo/mas fiz – calejando as mãos -/dessa escassez de canudo/esta fartura de grãos”.

No haicai de Luiz Carlos Lopes Dinuci, subverte-se a noção clássica de obra como resultado de uma arquitetura textual formalmente acabada para que seja destacada uma noção de processo expressivo aberto, inacabado e constituído por vestígios e restos que protagonizam a construção simbólica do sujeito poético: “Eu não tenho obra./Tudo o que tenho/é o que me sobra”. Clevane Pessoa bebe da fonte oriental para expressar com sutileza e profundidade a importância de se respeitar as diferenças, tendo em vista o aperfeiçoamento da convivência humana: “Força dos opostos/Espirais da eternidade/Yin e Yang: você e eu”.

O soneto “Nostalgia versus Modernidade”, de Sérgio Ferreira da Silva, traz uma narrativa satírica de tom fabular. Em um shopping center, a pobre raposa e a esnobe galinha se encontram. Ao cumprimentar a galinha, demonstrando satisfação por revê-la em tão radiante alegria, a raposa acaba sendo tratada com desdém. Em resposta à declaração arrogante dada pela galinha, que quis se diferenciar pelo status acadêmico e financeiro – “Fiz faculdade e muita economia!” –, a raposa abocanha a sujeita petulante.
No contexto educacional, destaca-se também o poema “Separação de sílabas”, feito, em verso livre, por Lasana Lukata. Assim como se dá com as palavras e a desintegração destas em sílabas, a história da família do eu-lírico foi marcada inicialmente pela união e depois pela separação de seus membros. Vejamos: “na sala de aula/quando a professora perguntava/como era a minha família/eu dizia que era um tritongo/havia cigarra/dançávamos jongo/mas a mãe se foi/a cigarra morreu/a dança acabou/a tristeza invadiu/meu pai e a mim/e viramos ditongo/mas veio a madrasta/que teve três filhos/me jogou num hiato/e fiquei feito um i/em ICARA-í”.
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* Jornalista, formado pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Doutorando e mestre em Estudos Literários/Literatura Brasileira pela Faculdade de Letras da UFMG.