segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Elisabeth Souza Cruz, o Cometa Halley e um legado de esperança



Eu não sou vidente, mas sei o que ocorrerá no dia 28 de Julho de 2061, daqui a 48 anos: o periélio do Cometa Halley, ou seja, sua maior aproximação da Terra. Se será um espetáculo, como foi em 1910, ou se ele passará discretamente, confundindo-se com tantos outros corpos celestes sobre o céu de Nova Friburgo, aí, meu amigo/a, eu não sei!
 
Suponho, também, que os descendentes de Elisabeth Souza Cruz, que contará com muitos anos de poesia, dirão: Olha lá, vovó, ele voltou!
 
Em 2061, estarei com 98 anos (na flor da idade), preocupado em fazer trovas para os 102°s. Jogos Florais de Nova Friburgo, com os temas "Cybergenética e suas implicações nas colônias lunares", para trovas líricas e filosóficas e "Sogra", para humorísticas (porque algumas coisas não mudam nunca!).
 
Deixando a ficção de lado, o maravilhoso livro de Elisabeth é, como ela mesma declarou ao Jornal A Voz da Serra, de Nova Friburgo "... dedicado às crianças que poderão ver o Halley passar no ano de 2.061. Acredito que seja um documento importante para o futuro...”.
 
 
 
 
"Vamos Caçar Cometas" não é um tratado de astronomia, mas fala de estrelas. Nem de biologia, mas fala da natureza. Nem de sociologia, mas fala da sociedade e das relações pessoais. Repleto de crônicas, causos, poesia e impressões de uma autora que, num ambiente familiar muito favorável, deixou aflorar e frutificar toda a sua sensibilidade e maneira especial de ver a vida, como podemos ver nestas trovas que abrem sua caçada ao cometa...
 
 
Minhas mãos... venho trazê-las,
até parecem vazias,
mas são repletas de estrelas
que eu colho todos os dias...
 
 
Muito além do próprio céu,
eu trago estrelas na mão
e assim vou tirando o véu
de qualquer desilusão...
 
 
Ora, prezado leitor, se eu fosse resumir este livro qualquer destas duas "estrelas-trovas" serviriam: a primeira dispõe da maneira como Elisabeth encara o dia a dia: colhendo estrelas, ou seja, buscando preservar os momentos luminosos, positivos e de aprendizado; na segunda, nos indica o que fazer com as estrelas que eventualmente possamos colher...
 
Ler "Vamos Caçar Cometas" é mergulhar na história recente de Nova Friburgo, dos últimos 20, 25 anos, mas sem o didatismo próprio dos livros de história. A autora, de maneira muito agradável, nos toma pelo braço e começa a trilhar os caminhos dos momentos familiares, tirando lições das sagas cotidianas, com bom humor e respeito. Todos os seus textos são dedicados à família, aos amigos, próximos ou distantes, presentes ou de saudosa lembrança, numa magnífica homenagem a todos aqueles responsáveis por sua formação e aos companheiros da grande e elíptica jornada que é a vida, como neste trecho do capítulo chamado "Uma estrela que é 'Mamãe'"...
 
"...Tendo esse gosto apurado pela leitura, mamãe foi ganhando o destaque de 'a intelectual da família Bravo'. Lia de tudo: romance, aventura, ficção. Adorava os estudos espirituais e científicos. Parecia um dicionário em forma de gente,..."
 
Não é à toa, então, que Elisabeth alcançou a intimidade com a palavra, tratando-a com o mesmo carinho herdado de sua mãe. O ditado popular nos socorre, já que "o fruto nunca cai longe da árvore".
 
 
 
Mas, será que somente isto explica o dom de Elisabeth? Talvez... Mas, no capítulo "Travessa Bonsucesso 1 - Casa 10", endereço de Elisabeth em toda sua infância, creio que "reside" o complemento...
 
"...Em qualquer época do ano, música não faltava: desde os clássicos de mamãe a Cauby Peixoto, de tudo se tocava na vitrola..." e, mais à frente: "...A rua onde eu morava era o próprio quintal. A criançada podia brincar, sem qualquer perigo, porque poucos eram os automóveis que passavam..."
 
O capítulo elenca várias personalidades que marcaram a infãncia de Elisabeth e é primorosamente concluído com um exemplo de prosa poética dos melhores...
 
"...As casas não têm mais gerânios nas varandas e eu sinto apenas... um perfume de saudade!"
 
A obra segue um ritmo alegre e descompromissado, tem um ar daqueles encontros de família (sim, o leitor passa a fazer parte da família também!) em que nos sentamos no sofá da sala e os donos da casa trazem seus álbuns de fotografia, para vermos desfilar à nossa frente toda a história de nossos antepassados, até os dias atuais, misturadas com as fotos das crianças de hoje, tataranetos do primeiro fotografado.
 
Mas, como eu disse, o livro de Elisabeth é um registro importante e, tenho certeza que, na posteridade, será tratado como documento imprescindível da trajetória da cidade.
 
Elisabeth não suprimiu, e não poderia, suas impressões sobre os momentos angustiantes da catástrofe natural que castigou a cidade no fatídico 12 de Janeiro de 2011. No capítulo "2011 - O Ano das Coisas Impossíveis (O Ano Ímpar), ela resume o sentimento ímpar que, infelizmente, tornou-se um capítulo da história de toda a humanidade...
 
"...Vivemos dias de sofrimentos indescritíveis e por mais que tudo tenha sido registrado nos meios de comunicação, por mais que a globalização tenha levado o nosso infortúnio aos quatro cantos do mundo, somente o friburguense sabe a dimensão de suas dores."
 
E, como o poeta é poeta em todos os seus momentos, ela assim se expressou...
 
 
O momento é de incerteza,
os dias estão tristonhos...
ideais na correnteza
e barreiras sobre os sonhos!
 
 
Mas o poeta, em geral, acredita em milagres...
 
 
Quando a vida vira escombros,
no sentido verdadeiro,
suportar peso nos ombros
é o milagre derradeiro!
 
 
As trovas de Elisabeth, assim, no que os literatos chamam de gradação, vão nos indicando que o que aconteceu, por mais grandioso e trágico que possa parecer é, também, o final de um ciclo, que ela percebe, alertando...
 
 

Nossa força é redobrada,
é preciso confiança,
pois recomeço é uma estrada
que tem nome de Esperança!
 
Assim, confirma-se, ao fim da leitura, que o livro de Elisabeth é um legado às gerações futuras, que herdarão o privilégio de apreciar o retorno do Cometa Halley e que poderão, sentados no sofá da sala, ter uma ideia do que foi aquele passado distante de 1986, de 2011. Poderão, ainda, constatar que Elisabeth Souza Cruz, sempre teve mãos "repletas de estrelas", para repartir com eles, deixando-lhes uma mensagem de perseverança, nesta trova, que fecha esta postagem...
 
 
"O sonho não acabou!"
Avante, querido povo,
pois Friburgo começou
a ser sonhada de novo!


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O menino que ouvia estrelas e se sonhava canoeiro: Antonio Juraci Siqueira

 
 
 
 
Este livro, cuja última página informa que foi impresso em papel Pollen bold, tem exatos 11 x 16 cm. É um livro de bolso, pois, para consultas frequentes.
 
Recebeu o Prêmio IAP (Instituto de Artes do Pará) de literatura de cordel.
 
Foi escrito por um artista, filósofo, professor de primeira grandeza e, ao mesmo tempo, por um ser mitológico, terror das mocinhas indefesas: o Boto Juraci, nascido na Flor do Lácio, como revela sua camiseta...
 
 
 
 
Que sorte a nossa! Somos contemporâneos de um cidadão que vive e transpira sua arte, além de generosamente partilhá-la conosco, dia após dia.
 
A apresentação/prefácio do cordel é de Dáguima Verônica de Oliveira, de Santa Juliana/MG, provavelmente uma de suas leitoras mais fiés. Justo. E ela nos diz...
 
"...Somente os grandes da história são capazes de ver beleza em todo sofrimento, porque sabem que somente a dor produz o brilho..."
 
E mais...
 
"...Já amava o Boto, agora amo também o Menino que sonhou ser canoeiro e o foi da forma mais brilhante possível: 'Navegante das estrelas!... Hoje aquele menino do mar traz o brilho da lua em forma de versos..."
 
E o cordel, de 44 estrofes é, mesmo, a revelação deste brilho:
 
"...II
A você, caro leitor,
destinei nobre papel:
arrume a mala do sonho
e embarque em lua-de-mel
na história desse menino
que transformou seu destino
num romance de cordel."
 
Em teoria literária, dir-se-ia que neste ponto o autor estabelece a instância narrativa e faz, ao mesmo tempo, metalinguagem. Nada mais correto e mais incompleto. Juraci, neste ponto, pega o leitor pela mão, como se dissesse "Venha, meu amigo/a, vamos sentir o que é poesia, e procure perceber a maneira como eu interpreto a vida. Como eu sinto."
 
E consegue, com um lirismo que fala à nossa alma...
 
 
"...IV
O seu pai, marajoara,
canoeiro de valor,
navegava águas caboclas
na corola de uma flor.
Um dia partiu ligeiro
para o céu. Foi ser proeiro
da nau de Nosso Senhor.
 
V
Sua mãe, verde esmeralda
talhada muiraquitã,
passava os dias cismando
em seu infinito afã...
Pensamentos de bubuia,
bordava sonhos tapuia
sobre o lençol da manhã..."
 
 
Aqui, nestas estrofes introdutórias, um estudioso reconheceria a alternância da estância narrativa, que passa de primeira para terceira pessoa e faz uso das metáforas e de elementos regionais e linguísticos, para trazer o leitor, delicadamente, para o universo marajoara, perpetuando, ao mesmo tempo sua cultura e história pessoal. Mas, há muito mais aqui: há um homem formado em filosofia, um literato que sabe a importância de sua história pessoal na sua forma de dizer as coisas, com o afastamento próprio daqueles que refletem sobre suas próprias origens e, sensíveis, reconhecem o que há de comum em sua trajetória com a daqueles mais humildes e que, geralmente, não tem voz, nem registram sua passagem pela vida.
 
 
Magistral e cuidadosamente, indica suas leituras formadoras, ao mesmo tempo em que, quase imperceptivelmente, traça um roteiro de leitura para aqueles que deseja despertar para a literatura de raiz e de qualidade, como faz nessas estrofes:
 
 
"VIII
Leu Pavão Misterioso,
Princesa da Pedra Fina,
O Valente Zé Garcia,
a Sorte de Jovelina,
Os Cabras de Lampião
As Proezas de Cancão,
Morte e Vida Severina...
 
IX
Leandro Gomes de Barros,
grande mestre cordelista,
Patativa do Assaré,
Zé Vicente, Evangelista
e outros nomes consagrados
que se aqui fossem juntados
não caberiam na lista..."
 
 
Ah, meu prezado Boto Juraci, João Cabral é leitura pra mais de metro! Patativa é a essência da simplicidade! Você sabe conduzir o leitor pela mão. Eu diria mais, porque, com versos como esses,...
 
"...XV
Em certa noite estrelada,
quando fitava o Cruzeiro,
viu uma estrela correr
em meio ao grande luzeiro.
Nesse instante, decidido,
depressa fez um pedido:
- Eu quero ser canoeiro!..."
 
 
Nós sabemos, hoje, que o desejo foi atendido. Juraci tornou-se canoeiro. Um navegante da poesia, um arraes de versos e estrofes. Senhor das correntes sonoras da palavra. Cidadão da Pátria Língua Portuguesa.
 
 
As citações param aqui. Há muito mais neste cordel. Há muito material editado por Juraci, e muita coisa no grande rio que é a Internet. De repente, vai que você encontra o boto em forma de gente, em forma de Juraci.
 
 
Eu discordo do boto, acho que ele, como as páginas de seu cordel premiado, não é bicho, não: é pólen! Não o Pollen Bold, material da página. Pólen que germina nos corações e mentes daqueles que entram em contato com seu texto, com sua poesia cativante, fácil e complexa ao mesmo tempo. Simples e refinada. Como a muiraquitã/mãe que ele carrega sempre no pescoço e no coração.
 
 
A benção, meu amigo!
 

 

 
 
 

 

 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A Trova, de Eno Teodoro Wanke, e algumas reflexões

 
 
 
Minha segunda aquisição da semana passada, este livro, em meu entender, abre as portas de um passado próximo e outro distante: o próximo, revelando o trabalho minucioso e difícil de pessoas como Eno Teodoro Wanke, que pesquisaram a trova, buscando fixar-lhe uma identidade geográfica, histórica e literária, com a finalidade de entender o fenômeno de sua expansão em nosso país e, inclusive, apontando caminhos para o que chamou de trova literária; e o distante, na tentativa de atribuir-lhe um DNA, um ancestral remoto, cuja evolução ao longo dos séculos ele tenta delinear.
 
 
Não é minha intenção resumir este livro. Ele é facilmente encontrado em sites de venda de livros, como o Estante Virtual, por exemplo, ou repetida a sorte que tive, do leitor encontrá-lo em um sebo qualquer de nosso território. Gosto mais da segunda opção. Eu pretendo, mesmo, é despertar a vontade da pesquisa, do conhecimento.
 
 
Homens como Eno Teodoro, estão em falta hoje. Pesquisavam em viagens que faziam nas férias, enfurnando-se em bibliotecas e academias. Coletavam publicações, trocavam cartas e impressões nos encontros trovadorescos.
 
 
Eu pergunto: o que fazemos hoje? Jogamos no Google? Baixamos um arquivo em pdf? Recortamos e colamos trovas do site do Ouverney, do Pedro Mello, das poucas UBTs que têm um site, ou um blog? É pouco, amigos, é muito pouco. Mas antes assim, ou não!
 
 
Proponho que você examine sua biblioteca e arrisque disseminar algum conhecimento que, no seu entender, valha a pena. Por email, carta, fax, um blog, ou seja, por qualquer meio.
 
 
E farei a minha parte agora, transcrevendo alguns ensinamentos do querido Eno, irmão de sonhos, também, que nos deixou como legado livros que demonstram sua curiosidade e vontade de partilhar seus conhecimentos.
 
 
Eno abre seu livro com suas CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES, em que dispõe:
 
 
"A - O Milagre
 
 
Com sua estrutura pequenina, quatro versos em redondilha efeitados pelo guizo das rimas, vinte e oito sílabas poéticas apenas, a trova é uma espécie de milagre.
 
Milagre de persistência e continuidade. Tem pelo menos sete séculos, comprovados, de existência. Talvez dez. Sua vitalidade é surpreendente. Intriga quem dela se aproxime com seriedade para estudo e cultivo. Talvez apenas o soneto se lhe possa comparar, em matéria de sobrevivência e de capacidade de recuperação, através do tempo, aos intermináveis ires e vires das modas literárias. E assim mesmo, num nível muito mais sofisticado..."
 
 
Ao longo do livro, ele disseca a trova, no sentido científico do termo, detendo-se com parcimônia e ritualístico detalhamento em seus aspectos principais.
 
 
Gil Vicente, Camões, Fernando Pessoa, Gregório de Matos, Guerra Junqueiro. Todos lembrados e citados. Trovas em português, espanhol, em galego, em catalão e até em tupi.
 
 
Esta postagem não é exemplificativa. Não citarei, aqui, nenhuma trova. Você já conhece tantas, não é?
 
 
Que tal, então, partilharmos o que temos: nesta postagem, ao final, é possível deixar um comentário. Arrisque-se.
 
 
Afinal de contas, Eno Teodoro Wanke, Luiz Otávio, Aparício Fernandes e tantos e tantos outros que nos precederam o fizeram tão bem. Dedicaram-se além do imaginável à trova e à perpetuação do movimento trovadoresco que chegou aos nossos dias, no século XXI.
 
 
E nós? Vamos deixar alguma coisa?
 
 
A benção Eno, Luiz e Aparício!

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Jogos Florais de Nova Friburgo de 1977 e a homenagem a Luiz Otávio



Na semana passada, tive a felicidade de encontrar, em um sebo de Santo André, dois livros preciosos: "A Trova", de Eno Teodoro Wanke, e o livro dos Jogos Florais de Nova Friburgo de 1977. Sobre o primeiro, escreverei na próxima postagem.
 

 
 
Muitos sabem que 1977 foi o ano do falecimento de Gilson de Castro, o Luiz Otávio, idealizador, juntamente com J. G. de Araújo Jorge, dos Jogos Florais como os conhecemos hoje.
 
Naquele ano, ingressaram no quadro dos Magníficos os trovadores José Maria Machado de Araújo, Maria Nascimento Santos Carvalho e Izo Goldman.
 
 
Octávio Venturelli, então radicado no Rio de Janeiro, venceu o concurso nacional com a seguinte trova, no tema CONFLITO:


No conflito de um desgosto,
por saber que não me queres,
vivo em busca do teu rosto
no rosto de outras mulheres...
 
 
(Octávio Venturelli)
 
 
Entre os magníficos, as trovas isoladas vencedoras foram as seguintes, no tema MIRAGEM:
 
 
 
De fantasias e imagens,
quantos castelos eu fiz...
Que importa fossem miragens
se me fizeram feliz?
 
 
(Elton Carvalho)
 
 
Embora ela seja a imagem
de um bem que jamais se alcança,
por trás de toda miragem
se esconde a própria esperança!
 
 
(Elton Carvalho)
 
 
Refletindo, em doce imagem,
a ventura que se almeja,
bendita seja a miragem,
por mais miragem que seja!
 
 
(Waldir Neves)

 
 
Afora as lindas trovas que ilustram  o livro, e que podem ser acessadas na íntegra no site Falando de Trova (www.falandodetrova.com.br), salta aos olhos a homenagem de Nova Friburgo ao Príncipe da Trova, consubstanciada no texto de Yeda Lucimar, intitulado "A você Luiz Otávio", cuja cópia anexo abaixo (clique na imagem para ampliar), para registro e perpetuação. A benção Yeda, Elton, Waldir e Luiz Otávio!
 


 


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Yde Schloenbach Blumenschein, a COLOMBINA.







 
Da correspondência recebida de Maria Thereza Cavalheiro, mencionada no "post" anterior, transcrevo, agora, com leves adaptações, um pequeno currículo e 12 (doze) trovas de Colombina, sobre Saudade. Notem como ela sempre foge do "lugar comum".

Veja, também, na Wikipedia: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Yde_Schloenbach_Blumenschein).

Yde Schloenbach Blumenschein

 
Nome civil da Poetisa conhecida pelo nome literário de COLOMBINA, nascida em 26 de Maio de 1882, em São Paulo/SP, onde faleceu em 14 de Março de 1963. Grande sonetista, escreveu também versos livres e encantadoras trovas, reunidas em três livros, esgotados ("Para você, meu amor", "Cantares do Bem-querer" e "Cantigas ao Luar".
 
 
As trovas

Afinal, o que é a saudade?
-queriam que eu o dissesse.
-Não será essa ansiedade
de esquecer quem não se esquece?

Inverno. Melancolias
errando à toa nas ruas.
As minhas mãos estão frias
e com saudades das tuas...

Mar revolto, eu adivinho
porque tu choras assim:
para quem vive sozinho,
a saudade não tem fim.

Saudade - vago perfume
de uma estranha e ignota flor
que, a evaporar-se, resume
a eterna história do amor...

Jesus (a Escritura reza)
sofreu tanta iniquidade,
mas não soube quanto pesa
o lenho de uma saudade.

Saudade - nada dói tanto
como essa dor dolorida,
que os olhos enche de pranto
e enche de sombras a vida.

A saudade ê um triste ocaso,
a envolver a alma da gente.
Dura, o amor, um certo prazo,
- a saudade, eternamente.

Saudade - vela que vaga
sozinha, à noite, no mar...
Flama que nunca se apaga
porque nasceu num olhar.

Saudade - um elo partido,
um altar desfeito em pó;
um lindo sonho perdido
e o destino de ser só.

Não é simples coincidência
a saudade ser mulher,
pois é sempre a reticência
no fim de um sonho qualquer.

Saudade - quem não vê logo
que é sombra depois da luz?
As cinzas depois do fogo?
Flores ao pé de uma cruz?

Ao coração torturado
de saudade, eu mesma digo:
amar assim i pecado,
sofrer assim e castigo.


domingo, 20 de janeiro de 2013

Maria Thereza Cavalheiro, Colombina e as novas gotas de pinho

Há mais de um ano não escrevo neste espaço. Retorno, agora, a fazê-lo e pretendo pagar algumas dívidas literárias que acumulei no tempo em que me recolhi.
A primeira delas: em Setembro de 2011, postei um texto sobre as fotos na frente do mapa e as gotas de pinho alabarda que, em tempos em que não havia internet (nos primórdios da civilização... leia-se Anos 70), foram importante canal de divulgação da trova literária, como a conhecemos hoje. Já em outubro daquele ano (2011), recebi uma generosa e simpática missiva de Maria Thereza Cavalheiro, uma das pioneiras da UBT - União Brasileira de Trovadores, que foi, entre outras coisas, Presidente da Seção São Paulo da entidade e, até hoje permanece divulgando a trova e os trovadores, discreta, mas efetivamente.
Transcrevo um trecho da carta, que considero importante para o entendimento da generosidade que ela demonstrou:

 
"Ficamos muito felizes - minha prima Amaryllis Schloenbach e eu, ao ver, no seu interessante 'TROVAS & CIA.', uma trova de Colombina (nossa tia-avó), em adesivo da Alabarda. Muito temos feito para manter a memória dessa grande Poetisa, que já tem nome de rua em São Paulo, e conseguimos que tivesse também em Itanhaém, lugar onde ela escreveu muitos de seus belos sonetos e trovas. Venho, pois, agradecer-lhe a homenagem. Como ainda dispomos de adesivos que nos foram presenteados na época, dela e de outros poetas, aí vai uma sequência de trovas de Colombina..."

 
Então, amigos, feliz com o retorno, partilho o carinho e a generosidade de Maria Thereza Cavalheiro, nas imagens que seguem, com nove trovas de Colombina!