sábado, 8 de novembro de 2008

TINHA O QUÊ??? ou TINHA UMA DROGA DE UMA PEDRA NO CAMINHO




Outro exercício, agora com Drummond, na Escola Livre de Literatura, também em 2005...

Tinha o quê???

No meio do caminho, tinha alguma coisa.

Pois, é! Eu estou aqui, no caminho, pronto e decidido a enfrentar essa COISA!

Outro dia, alguém escreveu no jornal (um crítico, talvez), que o Poeta não disse, no poema, aquilo que ele deveras disse (citando o Pessoa). Mas, por ser uma antena de seu tempo, disse o que disse, porque era a voz da consciência de todos nós.

EU NÃO NOMEEI POETA NENHUM MEU PROCURADOR!!!

Aliás, é por isso que estou aqui, neste caminho... Nenhum Poeta, por melhor que seja, vai me representar... Andar meus passos por mim. Ficam, aí, endeusando um, consagrando outro... Idolatria! Idolatria barata!

De minha parte, até agora, não vi COISA NENHUMA! Êta caminho besta, sô! Não tem nada!

Estou andando faz tempo... Já está escurecendo... e nada!

Que breu! Estranho, este céu sem estrelas,... sem esperança,... sem nada.

O caminho parece o céu: escuro, sem Lua,... sem uma estrelinha...

Será o mesmo caminho do Poeta? Chão batido,... sem beirada? Só o caminho... e este céu escuro, sem estrelas? Céu sem estrelas... e sem nuvens! Nenhuma nuvem! Nada!

Eu!

Só eu, no caminho!

Olhando para o céu vazio!

Andando... Andando...

AAAIIII!!!! Ai meu dedo!!!!

Tinha uma droga de uma PEDRA no caminho!!!

(Leia, agora no sentido inverso!)

Sérgio Ferreira da Silva

Imitando Kafka...


Kafka (Andy Warhol)


"...A prosa universal de Kafka é a história dos pesadelos do mundo moderno, um retrato ampliado das fraquezas e defeitos inerentes à espécie... As situações intoleráveis, a angústia e o absurdo, os ambientes bizarros e a força psicológica dos seus argumentos são as idéias centrais deste autor clássico." (Pedro Maciel)

OS QUE PASSAM POR NÓS CORRENDO

Quando se vai passear à noite por uma rua e um homem já visível de longe _ pois a rua sobe à nossa frente e faz lua cheia _ corre em nossa direção, nós não vamos agarrá-lo mesmo que ele seja fraco e esfarrapado, mesmo que alguém corra atrás dele gritando, mas vamos deixar que continue correndo.
Pois é noite e não podemos fazer nada se a rua se eleva à nossa frente na lua cheia e além disso talvez esses dois tenham organizado a perseguição para se divertir; talvez ambos persigam um terceiro, talvez o primeiro seja perseguido inocentemente, talvez o segundo queira matar e nós nos tornássemos cúmplices do crime, talvez os dois não saibam nada um do outro e cada um só corra por conta própria para sua cama, talvez sejam sonâmbulos, talvez o primeiro esteja armado.
E finalmente _ não temos o direito de estar cansados, não bebemos tanto vinho? Estamos contentes por não ver mais nem o segundo homem.

Conto de “Contemplação / O Foguista”, de Franz Kafka


Quando, em 2005, participei dos encontros com o escritor Ricardo Lísias, na Escola Livre de Literatura, em Santo André, participei de uma atividade que consistia em escrever um texto, a partir da leitura de um pequeno conto desse maravilhoso autor. Escolhi OS QUE PASSAM POR NÓS CORRENDO...

POR QUE NÓS PASSAMOS CORRENDO?

I

O primeiro homem

Por recomendação do cardiologista!

Prefiro correr à noite. Principalmente nas noites de Lua Cheia... Não há automóveis! Às vezes, levo meu walkman - o ritmo da música determina o da corrida. Às vezes, meu irmão corre comigo... Então, nos tornamos duas crianças: apostamos corrida e gritamos feito loucos! Às vezes, cruzamos o caminho de algum bêbado de olhar assustado, mas passamos velozes e ele fica para trás, tentando entender a algazarra.

E, afinal, não temos o direito de extravasar? Trabalhamos o dia inteiro! Depois, é chegar em casa... e dormir!


II

O segundo homem

Eu corro atrás dele!

Meu irmão mais novo é um inconseqüente: gosta de correr a noite (diz que é recomendação médica) e não se apercebe dos riscos que corre. Concordo que a corrida é um hábito saudável, mas, à noite – e, pior, com Lua Cheia -, o perigo aumenta!
Noite dessas, corríamos ladeira abaixo e eu avistei um sujeito estranho. Gritei para que meu irmão tivesse cuidado, mas ele achou que era apenas um bêbado e fez pouco caso.

Por isso, quando corro com ele, levo, sempre, minha arma. Tenho porte... Não é um direito? Eu prometi à minha mãe que cuidaria dele aqui na cidade!

Sérgio Ferreira da Silva

Obs.: O Título é o mesmo da tradução, com as palavras e letras dispostas de forma diversa, sem acréscimo ou diminuição de seu número [ANAGRAMA], como um questionamento.