quarta-feira, 15 de agosto de 2007





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Notou o ponto?







É o título!







Sérgio Ferreira da Silva

TO CONJUGATE



Eu deleto
Tu restartas
Ele scanneia
Nós downloadeamos
Vós backupiais

Ele$... lucram!


Sérgio Ferreira da Silva

Uma trova ecológica de Antônio de Oliveira

Queimado, o arbusto parece
ter, nos galhos, a expressão
de mãos, que postas em prece,
rogaram clemência... em vão!

(Antônio de Oliveira)


*** O Zé (apelido pelo qual nós dois nos chamamos) é um amigo de longa data (1979). Foi por culpa dele que comecei a fazer trovas e não parei até hoje. Tem trovas magníficas, que postarei aqui. Essa trova dele ganhou um concurso nacional (intersedes), cujo resultado aponta apenas 1 vencedor por edição (é um dos mais cobiçados do Brasil). O tema proposto foi PRECE. Espero que o Greenpeace a descubra algum dia!

Heliotropia


Nascido em meio às flores do jardim,
aquele girassol já foi feliz:
na casa ao lado, o aroma de jasmim
e, à sua frente, a torre da Matriz...


A luz do sol (nascendo) era um cetim,
trazendo brilho e força ao seu matiz...
No pôr-do-sol, banhava-se, por fim,
de um só vigor, das folhas à raiz.


Mas, hoje, no lugar das alvoradas,
há prédios, com piscinas e sacadas,
erguidos nos jardins de outros quintais...


E, agora, quando surge, ao meio-dia,
o sol esparge a luz da nostalgia,
embora o girassol não gire mais...

Sérgio Ferreira da Silva
*** A imagem é de um dos quadros da série de girassóis pintadas pelo mestre Van Gogh (no caso, um dos três quadros com 15 flores)
Heliotropia é a qualidade que algumas plantas têm de acompanhar o aparente movimento do Sol na abóbada celeste - Gosto muito desse soneto - as rimas em "a" e "i" somente.

CHEGA!!!



Nunca mais farei poemas...
nem de amor,
nem de saudade...

E, ao olhar o pôr-do-sol
com olhos de escriturário,
vou arquivar o arrebol
n’alguma pasta suspensa...

E por falar em suspender,
eu nunca mais vou perder
noites de sono, em vigília

tentando achar algo novo;
escrevendo e riscando;
escrevendo e riscando;
escrevendo... e...
isso... isso mesmo! Ficou bom!

CHEGA!!!

Agora, eu vou dormir...
Boa noite!

Sérgio Ferreira da Silva

UMA BARAFUNDA NA BARRAFUNDA*


Um “portuga” amigo meu,
chamado José Maria,
contou-me o que aconteceu
com ele, num certo dia:

Encontrou o amigo antigo,
em qual ano, não me lembro...
mas, a data, eu já lhe digo:
vinte e quatro de dezembro !

Daí, p’ro convite, um passo:
“-Vou dar uma festa em casa...
(e o José caiu no laço !)
...no Natal a gente arrasa !”

Sem desconfiar da prosa,
foi preso na trama imunda...
seguiram, num fusca rosa,
p’ros baixos da Barrafunda.

Chegando, então, no destino,
olha o que o amigo lhe fez:
sapecou, num desatino,
um beijo no português !

José Maria, de susto,
jogou-se todo p’rá trás
e caiu sentado, justo,
no colo de outro rapaz !

Um corre-corre sem nexo,
gritaria e confusão:
José correndo do sexo,
que vinha na contramão...

Mas, um vizinho escaldado,
por maldade, ou por malícia
(que é primo de um delegado),
ligou, logo, p’rá polícia...

Levado à delegacia,
pelado, em pleno Natal,
quase teve, o Zé Maria,
um piripaque fatal !

O Delegado, entretanto,
percebeu, no tom do fado,
que o Zé Maria era um Santo
e o amigo, um transviado.

Resolveu por panos quentes
dando, assim, o veredicto:
fica tudo no entrementes,
o dito, pelo não dito !

Mas o “portuga", hoje em dia,
anda só de Marcha-ré:
“-Não sou mais José Maria,
sou a... Maria José! "

Sérgio Ferreira da Silva
*Premiado no I Concurso Carlos Drummond de Andrade de Gêneros Literários – Categoria Poema

BRANCO, VERMELHO e PRETO

Amanheceu... A luz se faz presente
e as cores todas, num balé de sonho,
querem tingir a tela da esperança,
que espera nua e pura o seu futuro.

A tarde chega e pulsa provocante,
impulsionando a vida ao seu destino...
Exuberante e plena de alegria,
na vibração eterna do Universo!

E quando a noite vem cobrar seu preço,
e as cores todas vão buscar estrelas,
o sonho dorme ao lado da esperança
que o acalanta,...
até o Amanhecer.

Sérgio Ferreira da Silva

*****Há um dado interessante nesse poema: A Leila organizou uma Instalação Artística com seus alunos (EE Julieta FArão) cujo tema era "A linguagem das cores", em que os alunos prepararam três ambientes com as cores. O poema foi exposto no corredor de entrada.

NOSTALGIA VERSUS MODERNIDADE



 
Uma raposa andava, distraída,
num Shopping Center, quando, de repente,
pôde avistar, bem próxima à saída,
uma galinha, gorda e sorridente.

(Falava, ao celular, descontraída...)
Eis que a raposa - muito humildemente -,
aproximou-se e disse: “- Olá, querida!
É muito bom revê-la, assim, contente!...”

Com crueldade, então, Dona Galinha
quis esnobar a pobre raposinha:
“Fiz faculdade e muita economia!”

Ferida em seu orgulho (e esfomeada!),
Dona raposa, em uma só dentada,
deu, ao moderno, um ar de nostalgia...


Sérgio Ferreira da Silva

***** Esse soneto foi inspirado nas "Fábulas Fabulosas", do Millor. Mandei para ele por e-mail e, surpreendentemente, ele respondeu! Disse que gostou e coisa e tal... (um instante memorável: a atenção do ídolo - Freud deve explicar!)
 
 


Sobre manias e coleções

Eu não coleciono nada. Quando eu era garoto, até, mais ou menos, meus treze, catorze anos, acreditava ser um colecionador de gibis: angariei algumas centenas de exemplares, alguns raros (pouquíssimos), mas não os mantinha comigo, trocava, comprava, presenteava... Na verdade, meu prazer maior era a leitura, e eu não mantive a predileção pelas Histórias em Quadrinhos, que foi, aos poucos, substituída pela leitura de clássicos infanto-juvenis (O Escaravelho do Diabo, por exemplo), por versões romanceadas dos clássicos gregos (Ilíada e Odisséia), e pela fascinante ficção científica (Isac Asimov, Ray Bradbury, etc.). Na época do colégio, virei um rato de biblioteca e li (e adorei) Machado de Assis, José de Alencar, Ignácio de Loyola Brandão, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Millôr, Leon Eliachar, Stanislaw Ponte Preta, ou seja, tudo o que havia para ler, e que o meu tempo integral permitia. Cursei Direito e, então, descobri outras áreas: Sociologia Jurídica, Filosofia do Direito, Medicina Legal, Direito Penal, Civil, Trabalhista, Constitucional,...
Com a Faculdade de Direito, duas coisas que eram apenas um passatempo, ler e escrever (escrevia, e guardava na gaveta, poemas, sátiras e pensamentos), tornaram-se um exercício diário, uma forma de sobrevivência. Para relaxar de tanta leitura técnica, li bastante poesia (João Cabral de Melo Neto, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes, e muita gente boa...). O tempo foi passando, passando... Já fui advogado e, agora, sou servidor público (na área jurídica). Continuo lendo e escrevendo, muito e diariamente. Escrevo poesia e prosa, com mais seriedade (tenho alguns poemas e contos publicados em coletâneas e na internet). E estou cursando Letras (calouro 2006).
Como eu disse no início, eu não coleciono nada, mas depois de 45 anos sobre a superfície desse nosso planeta, 38 deles como leitor e arriscando escrever algumas linhas, posso dizer que, pelo menos, tenho duas manias: ler e escrever.
Ou será que eu coleciono palavras?