quarta-feira, 15 de agosto de 2007

UMA BARAFUNDA NA BARRAFUNDA*


Um “portuga” amigo meu,
chamado José Maria,
contou-me o que aconteceu
com ele, num certo dia:

Encontrou o amigo antigo,
em qual ano, não me lembro...
mas, a data, eu já lhe digo:
vinte e quatro de dezembro !

Daí, p’ro convite, um passo:
“-Vou dar uma festa em casa...
(e o José caiu no laço !)
...no Natal a gente arrasa !”

Sem desconfiar da prosa,
foi preso na trama imunda...
seguiram, num fusca rosa,
p’ros baixos da Barrafunda.

Chegando, então, no destino,
olha o que o amigo lhe fez:
sapecou, num desatino,
um beijo no português !

José Maria, de susto,
jogou-se todo p’rá trás
e caiu sentado, justo,
no colo de outro rapaz !

Um corre-corre sem nexo,
gritaria e confusão:
José correndo do sexo,
que vinha na contramão...

Mas, um vizinho escaldado,
por maldade, ou por malícia
(que é primo de um delegado),
ligou, logo, p’rá polícia...

Levado à delegacia,
pelado, em pleno Natal,
quase teve, o Zé Maria,
um piripaque fatal !

O Delegado, entretanto,
percebeu, no tom do fado,
que o Zé Maria era um Santo
e o amigo, um transviado.

Resolveu por panos quentes
dando, assim, o veredicto:
fica tudo no entrementes,
o dito, pelo não dito !

Mas o “portuga", hoje em dia,
anda só de Marcha-ré:
“-Não sou mais José Maria,
sou a... Maria José! "

Sérgio Ferreira da Silva
*Premiado no I Concurso Carlos Drummond de Andrade de Gêneros Literários – Categoria Poema

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