sábado, 23 de agosto de 2008

Uma crônica sobre Santos Dumont


É UM PÁSSARO? É UM AVIÃO? NÃO, NÃO É UM PÁSSARO... E SIM, É UM AVIÃO,... PILOTADO POR UM BRASILEIRO:

ALBERTO SANTOS-DUMONT!

“Nas asas do desvario,

tentando um sonho alcançar,

eu despenquei no vazio,

mas... aprendi a voar!”

(Edmar Japiassu Maia – Rio de Janeiro/RJ)

Quem avistasse, nos céus de Paris, nos idos de 1900, pela primeira vez, aquele artefato esquisito, cuja estrutura lembrava uma letra “T” invertida, alçando vôo por seu próprio deslocamento, pilotado pelo jovem Alberto Santos-Dumont, sem dúvida alguma um dos homens mais determinados que a história da humanidade produziu, detentor de um talento ímpar e uma genialidade inesgotável, poderia travar o diálogo insólito do título, muito em voga anos depois como referência a um conhecido personagem de quadrinhos, eternizado, em nossos dias, pelas superproduções hollywoodianas...

Santos-Dumont foi milhares de vezes superior àquele herói: existiu! Alçou vôos incríveis e superou-se repetidas vezes, voando mais e melhor a cada nova tentativa. Não foi ejetado de um planeta distante: nasceu no Brasil, fruto da imigração européia (de descendência francesa e portuguesa). Não obtinha do sol seus superpoderes: sua força sempre foi sua determinação incansável, o estudo constante e a experimentação científica metódica e planejada. Não demonstrava fraqueza quando exposto à matéria mineral de seu planeta: tinha orgulho de sua terra-mãe, o Brasil, nome que carregou consigo em seus feitos e em seu patriotismo exemplar.

Você poderia argumentar que, embora fictício, o super-herói citado é capaz de lançar-se destemidamente ao espaço e pousar sobre a Lua... É, realmente, posso até admitir essa façanha, mas, provavelmente ele, o Homem de Aço, pousaria solene sobre uma cratera lunar que, por ocasião do quarto aniversário da chegada do homem à Lua, recebeu o nome de... de... de... isso mesmo: Santos-Dumont! Santos-Dumont? – poderia perguntar um terráqueo brasileiro - É! Com a seguinte observação do astronauta Michael Collins: “Olhai para esse mapa da Lua. Vede! Lá está o nome de um dos homens que tornaram possível a conquista do Espaço. Foi um brasileiro que hoje pertence a toda a humanidade: Alberto Santos-Dumont. Um homem do espaço.”

Na ficção, o Kriptoniano mencionado esconde sua identidade, e seu físico avantajado, atrás de um óculos quadrado e uma roupa social bem cortada que, incrivelmente, engana a todos, inclusive sua própria namorada (?!?!?!). Alberto Santos-Dumont tinha um aspecto frágil, não desenvolveu bíceps, tríceps e peitorais e não escondia-se atrás de uma identidade secreta: era aclamado publicamente pelas ruas de Paris, foi um herói em sua época! Seus feitos (contrariamente aos de dois irmãos americanos muito espertinhos, cujo nome não declinarei neste texto) foram amplamente divulgados pela imprensa da época, documentados por fotógrafos e cineastas, e presenciados por multidões (os dos irmãoszinhos, não!).

Santos-Dumont encarava seus novos desafios de frente, publicamente expunha seus projetos, os documentava e considerava seus inventos e aperfeiçoamentos técnicos como patrimônio da humanidade, como um bem comum. Talvez, por isso, tenha se ressentido de certas utilizações bélicas de seus inventos, que o conduziram, supõe-se, a padecer de um mal tão comum em nossos dias, a depressão, e à sua conseqüência mais funesta, o suicídio.

Porém, existe uma característica que aproxima o paladino voador dos quadrinhos e o nosso sensível e obstinado herói-de-verdade: eles são indestrutíveis! O personagem dos gibis, ao final de suas histórias, é sempre agraciado com o beijo apaixonado de sua eterna namorada e os vivas e aplausos da humanidade, a quem salva dos terríveis vilões. Santos-Dumont, cujo nome está escrito em ouro no Livro dos Grandes Homens (a História da Humanidade), na História da Ciência, na História da Aviação, da Mecânica, e em todos os campos da Ciência pelos quais se aventurou, lançando-se, como o poeta da epígrafe, no vazio e na incerteza do desvario, tentando alcançar o sonho que não era apenas seu, mas de toda a humanidade, ávida por conquistar e por desbravar os limites do ontem, para novamente superá-los amanhã, é imortal.

Sua imortalidade não é ficcional: tanto que, o reconhecimento do valor literário de suas obras, no relato de suas experiências levadas a termo, e de seus diversos inventos e adaptações, o elegeram, por seus reconhecidos méritos, em 1931, como membro da Academia Brasileira de Letras, na cadeira de nº 38. Ou seja, Santos-Dumont, destacado, ainda, no meio científico, pode ser chamado, também no mundo das Letras, de Imortal, título reservado àqueles membros eleitos por seus pares, nas Academias de Letras, onde cultua-se e difunde-se o conhecimento e a excelência literária.

Dizer mais de Santos-Dumont talvez seja desnecessário: compará-lo ao personagem mais conhecido da histórias em quadrinhos em todo o mundo, cujo nome é desnecessário escrever, foi uma licença que me permiti, apenas para encontrar uma metáfora que fosse suficientemente capaz de estabelecer um contraste colorido: Santos-Dumont não pode ser comparado aos seres humanos reais! Foi um Homem a frente de seu tempo, um visionário, um realizador, um cientista, um herói!

Foi, no entanto, muito mais: um sonhador...

que aprendeu a voar!

Sérgio Ferreira da Silva

BIBLIOGRAFIA:

Trova no tema DESVARIO – de Edmar Japiassu Maia – 1° Lugar no Concurso dos Magníficos Trovadores de Nova Friburgo – Livreto dos Jogos Florais – Carestiato Editores – Nova Friburgo/RJ - 2003.

Informações colhidas no site: http://www.14bis.mil.br, do Governo Federal, pelo centenário do vôo do 14 bis.

16ª Edição do Programa Nascente - USP


Conquistei uma Menção Honrosa na categoria texto, com o projeto "A Força das Tradições e Outras Histórias" (que é um livro de contos humorísticos). A imagem acima é da capa do catálogo editado pela Pró-reitoria de Cultura e Extensão Universitária, que patrocinou o evento (que não terá edição 2008). No catálogo, publicaram um realese do meu projeto, alguns trechos de contos e um conto inteiro meu. Explico: só publicaram o conto inteiro, porque envie-lhes um que faz parte da minha série de títulos enormes e contos de uma linha, ou duas, que reproduzo abaixo:


A HISTÓRIA DA VIAGEM QUE FEZ NAZARENO TOBIAS PELO SERTÃO DA PARAÍBA, NUMA MOTONETA DE CINQÜENTA CILINDRADAS, LEVANDO, A TIRACOLO, SUA SOGRA, DONA MARINEIDE APARECIDA E A CACHORRA BALEIA (HOMENAGEM AO CLÁSSICO VIDAS SECAS, DE GRACILIANO RAMOS), VIAGEM QUE QUASE TERMINOU EM TRAGÉDIA, QUANDO NAZARENO, APÓS UMA DISCUSSÃO POR CAUSA DE UM PEDAÇO DE CARNE SECA, EMPURROU A VELHINHA EM UM POÇO SECO, NO MEIO DO NADA...

— Nazareno, seu lazarento!!! Me tira daqui, fio duma égua!!!