domingo, 20 de setembro de 2009

Mochila de Versos

(Reprodução)

Nos anos ímpares, Porto Alegre realiza os seus Jogos Florais (e que Jogos!). Em Outubro de 2001 tive a honra de comparecer às Cerimônias e conhecer pessoalmente vários poetas do Rio Grande. Participei, inclusive, em 2003, da coletânea "Rio Grande Trovador", como trovador convidado. Pois bem, conhecia algumas trovas e ansiava por conhecer um jovem e talentoso poeta, que, entre outras, havia composto a seguinte trova:

A justiça, rica em falhas,
corrompida por esquemas,
enche de glória e medalhas
mãos que merecem algemas.

O autor é Gerson Cesar Souza e essa trova, com o perdão da palavra, é uma porrada no estômago! Quando alguém me pergunta algo do tipo "que trovas você gostaria de ter feito?", ela é das primeiras que me vem à mente. Há vários elementos nela, tanto literários (rimas, todas terminadas em "as", por exemplo), quanto de fundo (o tema, o emprego das palavras: justiça em minúscula, "rica" "corrompida"), ou seja, coisa de uma mente brilhante. Por sorte, em 2001, Gerson lançava seu livro "Mochila de Versos", que pude trazer para São Paulo, e que foi lido, pela primeira vez, já no avião... O Gerson, além de um poeta e tanto é um nome a ser guardado. Nos brindará, ainda, tenho certeza, com muitos outros poemas dignos de moldura. Fiquem, agora, com "Verei que é Primavera...", um soneto, em que a circularidade, muito exaltada em teoria literária, é o "fecho de ouro" do poema! Abração, Gerson!

Verei que é primavera se o poente
cobrir com raios rubros nosso leito,
e a flor do nosso amor (que era perfeito)
surgir desabrochando lentamente.

Verei que é primavera se meu peito
sentir voltar o ardor que estava ausente
e então, tendo-te perto novamente,
unir as partes do que foi desfeito.

Verei que é primavera se chegares
e o teu perfume em todos os lugares
vier recompensar tão loga espera.

O inverno da saudade irá sumindo,
deixando em seu lugar o amor florindo,
e ao ser feliz verei que é primavera...

(Gerson Cesar Souza)

* * * * * * * * * * * * Cintilações * * * * * * * * * * * *


(reprodução)

No céu do poeta, asteriscos podem ser estrelas... e uma folha de papel, um Universo inteiro! Digo isso, porque há vários deles na capa do livro Cintilações, de Marina Bruna. O livro pode começar a ser lido, semioticamente, pela capa. Coisa de poeta de primeira grandeza, como as estrelas que retrata. Aliás, como um assunto puxa outro, a palavra "asterisco", segundo o dicionário Aurélio, vem do "grego asterískos, 'estrelinha', pelo latim asteriscu". E falar em grego e em latim, me obriga a mencionar o pai de Marina Bruna, o Professor Jaime Bruna, que lecionou latim na Faculdade de Letras, onde estudo hoje. Tenho uma obra traduzida por ele, "A Poética Clássica", que faz parte da referência bibliográfica do curso.

Voltando à Marina, ela nasceu em Franca, formou-se em Matemática, Pedagogia e Jornalismo e exerceu o magistério em São Paulo. É também compositora e instrumentista musical, poetisa e trovadora.

Marina Bruna, talvez não se recorde, me presenteou em 1997 com o Livro Cintilações (prefaciado por Izo Goldman, Thalma Tavares e Carolina Ramos). 1997 foi o ano em que comecei a fazer trovas. Em 1997, portanto, eu, ávido por aprender a compor trovas, tive a sorte de poder apreciar as trovas de Marina, que, sendo assim, é, ao lado de Antonio de Oliveira, Izo Goldman, Héron Patrício e Pedro Ornellas, sem dúvida, uma de minhas maiores influências na difícil arte de criar trovas. Devo à Marina, muitos preciosos conselhos.


Então, de "Cintilações", algumas trovas para o deleite de todos! Sua benção, Marina!

Tua carícia atrevida,
num suave dedilhado,
musicou a minha vida
com acordes de pecado!

Prostado... na dor infinda
de um desprezo que o consome,
meu coração bate ainda
porque murmura o teu nome!...

A vida insiste em manter
em dois tons sua canção:
o mais agudo é o poder;
o mais grave, a servidão!

(Marina Bruna)