terça-feira, 3 de março de 2020

Uma trova por vez... (3)



 
Manoel Cavalcante, o cidadão da foto, é Magnífico Trovador, título conferido pela União Brasileira de Trovadores de Nova Friburgo, desde 2019. E é de 2019 esta foto, tirada na cidade que o consagrou.

Manoel é, seguramente, uma das maiores revelações dos últimos anos entre os trovadores. Além disto, é cordelista, sonetista, ou seja, um poeta de mão cheia.

Para tornar-se Magnífico Trovador, é necessário sagrar-se vencedor nos Jogos Florais de Nova Friburgo por três anos consecutivos e, em 2019, Manoel conquistou sua terceira vitória consecutiva, colhendo a honraria.

Em 2017, a primeira das três vitórias foi um 2º lugar no concurso nacional, com a seguinte trova, no tema "Pausa":


É pausa... Sinal fechado...
e, para o artista de rua, 
a vida é um simples trocado
que ele trocou pela sua!


É fácil fazer previsões daquilo que já aconteceu, mas lá vai a minha...

Esta trova estava fadada a ser uma das vencedoras.

E, neste particular, quero falar do "TEMA", em concursos de poesia e, mais especificamente, em concursos de trova. 

Como é usual, em termos de trova, em que a concisão é uma das chaves da confecção do poema (com 4 versos apenas), o tema por vezes torna-se apenas uma palavra inserida, forçosamente até, em um ou mais dos versos.

Sim. 

Acontece bastante de o "tema" não ser a alma da trova, mas, apenas, uma palavra solta dentro dela.

Manoel Cavalcante, na trova acima, não só fez da "pausa" o mote a impulsionar a cena que descreve, como usou as pausas para direcionar o leitor da realidade exterior que descreveu, para a verdade interior do objeto de análise, para dentro da alma do artista que descreve.

Há duas reticências no primeiro verso, uma delas depois da palavra "pausa" e a outra após a expressão "Sinal fechado". Ou seja, não só o narrador da cena foi retirado de seu estado inercial (provavelmente dirigindo um veículo), como também o leitor foi obrigado a pausar seus pensamentos e dirigir seu olhar (interior) ao artista de rua que, naquele efêmero instante, trocou sua vida por um trocado, no exercício de sua arte (de duração infinitamente pequena, mas que o reduz, e à sua vida, a um mero trocado - e aqui uma observação: a dualidade da  palavra "trocado", uma como sinônimo de valor ínfimo, um dinheirinho; outra como locução do verbo trocar.

Na trova, a própria vida do artista, resume-se àquele trocado, conseguido numa pausa da vida dos que passam.

E quantos artistas, neste país que não os valoriza, trocam sua arte e sua vida por meros trocados, ou pelo aplauso silente das pausas nas vidas dos que por eles passam?