sábado, 24 de outubro de 2009

Domingo no Parque 9

(FÓSSIL - Granito e escapamento de automóvel - Sônia Von Brusky - 2000 - Acervo da Pinacoteca do Estado - foto by Leila Rodrigues)


Fóssil (ou pequenas histórias para não dormir!)


Naquele tempo,

quando os homens habitavam a terra,

havia enormes povoados,

chamados cidades.

E as cidades cresceram:

as habitações foram ficando cada vez

maispróximasumasdasoutras

até que começaram a elevar-se...

e surgiram os prédios!

E como não havia mais espaços,

tudo ficou distante, tudo!


eparaencurtarasdistâncias


os homens inventaram os carros

que, para funcionarem, usavam combustíveis;

que, queimados, produziam a fumaça

que saía dos escapamentos,

poluindo o mundo, a tal ponto,

que tudo morreu...


exceto os granitos e os escapamentos!


Sérgio Ferreira da Silva

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Domingo no Parque 8

(HOMEM PÁSSARO - Nicolas Vlavianos - 1985 - Aço Inoxidável Escovado - Acervo da Pinacoteca do Estado - foto by Leila Rodrigues)

Homem pássaro

"Todos esses que aí estão

Atravancando o meu caminho

Eles passarão...

Eu passarinho!"

(Mário Quintana)


Eu passarei pelos caminhos

pelos quais passaste

ou, juntos,

passaremos por caminhos

que julgaremos serem nossos


e os que vierem depois

passarão também pelos caminhos

e terão a impressão de que são os primeiros a passar

pelos caminhos pelos quais já passamos


nós não fomos os primeiros

e não seremos os últimos

a passar


os caminhos sabem

os pássaros também


nós, os passantes, não:

nós, sempre, passamos pela primeira vez...

sempre!

Sérgio Ferreira da Silva


sábado, 17 de outubro de 2009

Domingo no Parque 7

(FIGURA HERÁLDICA - Liuba Wolf - Bronze - 1976 - Acervo da Pinacoteca do Estado - foto by Leila Rodrigues)


O nome dessa escultura é Figura Heráldica. A Heráldica é definida na Wikipédia como a ciência, ou a arte "de descrever os brasões de armas ou escudos. As origens da heráldica remontam aos tempos em que era imperativo distinguir os participantes das batalhas e dos torneios, assim como descrever os serviços por eles prestados e que eram pintados nos seus escudos. No entanto, é importante notar que um brasão de armas é definido não visualmente, mas antes pela sua descrição escrita,...". As figuras não humanas (animais ou seres fantásticos) são chamadas de "suporte".

SUPORTE


A primeira batalha de um poeta

é travada com uma linha em branco;

a segunda batalha ele trava consigo,

com ninguém mais.


Depois de perder as duas batalhas,

rendido, quase morto,

ele escreve

ou digita, ou sangra, ou verte

umas linhas soltas, rimadas, ritmadas - não importa!


Importa é que ele perdeu


o poema se foi

feito bicho

feito um amor

feito um filho

feito a própria vida que escorreu para o papel

ou para a tela

ou para a gaveta mais próxima!


O poema é essa criatura heráldica

amorfa

mitológica

indefinida

suporte da história de vida do poeta

ou

das vidas que ele inventou

para viver

ou morrer


com honra.

Sérgio Ferreira da Silva

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Domingo no Parque 6

(ENCONTRO E DESENCONTRO - Arcangelo Ianelli - Mármore - 2002 - Acervo da Pinacoteca do Estado - foto by Leila Rodrigues)

REENCONTRO


Na clássica frieza do mármore polido,

opostos e semelhantes...

Nos vãos intransponíveis da individualidade,

contato e leveza...

Nas direções contrárias e seus trilhares,

o equilíbrio e o apoio...

Na fragilidade insustentável do peso das coisas,

a firmeza da pedra!

Nas noites sombrias e sem horizonte,

um claro porvir!

Na consciência das limitações de cada um,

o afago da completude...


Feitos da mesma terra,

do mesmo calor vulcânico,

da mesma vontade:

molécula por molécula!


Você e eu.

Sérgio Ferreira da Silva

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Domingo no Parque 5

(SEM TÍTULO - Ivens Machado - Concreto Armado - 2000 - Acervo da Pinacoteca do Estado - foto by Leila Rodrigues)

Quase

Por dentro, tem esqueleto...

mas, a pele é de concreto:

uma girafa incompleta,

parada, imóvel, direta!


Traz linhas em cada pata

(quase-girafa acrobata),

e as patas são o sustento

do corpo sem movimento.


A quase-girafa é um esboço:

faltam cabeça e pescoço!

Tantas árvores por perto!

Tanta luz no céu aberto!


E, sem poder mastigar,

nem, tampouco, desfilar,

nossa imensa cinderela

não é, sequer, amarela!


Sérgio Ferreira da Silva

Domingo no Parque 4

(Sem título - Angelo Venosa - 2000 - Aço Cortén - Acervo da Pinacoteca do Estado - foto by Leila Rodrigues)


DICOTOMIA


um a um

ponto a ponto

minuto após minuto

vértebra por vértebra

vingança contra vingança

camada sobre camada

temor após temor

pele contra pele

passo a passo

verso a verso

linha a linha

irmão versus irmão

sangue do sangue

frente a frente


Sérgio Ferreira da Silva

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Domingo no Parque 3

(ORAÇÃO - Karoly Pichler - 1970 - Ferro - Acervo da Pinacoteca do Estado - foto by Leila Rodrigues)



Oração

Lavrar o metal,

moldar a palavra,

no fogo ancestral,

herança de Deus.

O ferro e a palavra

moldados e afins:

simétrica lavra

lançada no chão

No centro de tudo,

o início e o fim:

um círculo mudo,

suspenso no ar.

Na voz do escultor

o fogo é que fala,

em força e calor

leveza e sentido.

Também o poeta

diz mais no que cala

na forma concreta

e nas entrelinhas

São alma e matéria

o ferro e a palavra:

mensagens etéreas

da mesma oração.


Sérgio Ferreira da Silva

domingo, 11 de outubro de 2009

Domingo no Parque 2

Mais um...



(FITA - Franz Weissmann - Aço Pintado - 1985 - Acervo da Pinacoteca do Estado - Foto by Leila Rodrigues)


Fita


Um gesto só da ginasta

e a fita a esmo esvoaça...


Não é de aço essa fita,

que na leveza se basta


da moça, que em vão se agita,

num gesto só, de ginasta!


Fita vermelha, tão casta,

na mão sem cor da ginasta,


que a passos mudos... se afasta:

não quer fitar essa fita!


e, assim, a fita se arrasta

e deixa, então, de ser fita:


volta a ser aço, que imita

o gesto só da ginasta!



Sérgio Ferreira da Silva

Domingo no Parque 1

Foi um domingo proveitoso, 11 de Outubro de 2009. A Laura em um evento (Anime ABC); a Leila e eu no Parque da Luz. Muitas fotos, uma exposição interessantíssima na Estação da Luz (Cacau Brasil - Música, artes plásticas, videoarte, poesia...). Sobrou tempo para, ao chegar em casa, maravilhado com as esculturas do parque, escrever dois poemas, para o sentimento despertado por duas esculturas (e era só o começo).

Vamos a eles...

(PINCELADA TRIDIMENSIONAL - Marcello Nitsche – Ferro pintado – 2000 – Acervo da Pinacoteca do Estado - Foto by Leila Rodrigues)

Dimensão Azul


O olhar digital

arranha de leve

o azul que se espalha

no parque.

É domingo.

A tela do dia

recebe a carícia

do ferro e da tinta

que um certo Marcello

ousou espalhar

no olhar de quem passa!

Faltava uma cor

na cor dessa praça

e agora quem passa

já leva consigo

um pouco de azul

E eu posso sorrir

porque nesse dia

alguém me sorria

e a vida voltou

a vestir-me

de azul!

Sérgio Ferreira da Silva

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Pão e Poesia


(Clique nas imagens para ampliá-las)

(divulgação)

Alegria enorme com a notícia veiculada ontem (08.10.2009) de minha classificação nas categorias trova e soneto do Projeto "Pão e Poesia", uma iniciativa sem precedentes, do poeta mineiro Diovani Mendonça, de divulgação da poesia em grande escala, a partir da região da Grande Belo Horizonte, projeto premiado pelo Governo Federal no ano passado. A proposta é imprimir cerca de 500.000 (quinhentas mil) embalagens de pão, para distribuí-las gratuitamente nas padarias da região, além das cidades de Juiz de Fora e Uberaba, entre tantas outras... Alegria enorme é pouco!

(divulgação)