Este blog é uma fonte de encontros, desde os interiores até os interpessoais. Da postagem sobre Cássio Magnani, além da descoberta de um poeta e trovador completo, com trânsito livre entre o lírico, filosófico e humorístico, há, ainda, a confirmação do ditado "filho de peixe, peixinho é!".
Nina Rosa Magnani é psicóloga por formação e poeta de nascença. Imagino que sua infância foi coroada de poemas e de contatos com pessoas ligadas ao fazer literário. Ou seja, uma formação cultural como há muito não se vê.
Fui honrado, por ela e seu irmão Cássio, com alguns livros da lavra de seu pai e com o livro que dá título a essa postagem: Do pão mineiro, obra integrante da coleção Poesia Orbital, editada pela Associação Cultural Pandora, de Belo Horizonte, em 1997. Coleção que abriga, além da obra em questão, 61 outros títulos.
Sobre a obra, a autora revela na orelha da capa: "É um olhar feminino sobre sons, cheiros e sabores variados, no grande cuité do coração", o que podemos confirmar, na leitura do poema a seguir...
F R U T A M A D U R A
Tomar a vida nas mãos dói um pouco...
Exige um coração cada dia maior
uma prontidão clara
e simples
cada dia mais simples,
e simples
cada dia mais simples,
uma fidelidade
inacabada
ao que não se pode pegar
nem tocar
nem reter,
nem reter,
por mais amorosas que sejam
as mãos
por mais lindos os versos
e a dança.
Continuar
exige leveza,
um remanejar dos móveis
e um coração cada dia maior,
ampla e vasta planície,
longo reacender de um mesmo cigarro de palha,
novas velas na cozinha
novo incenso no ar...
Lua nova,
lua crescente,
lua cheia,
lua minguante
e o corpo maré
maré
enroscando uma nova espiral.
E as palavras são milhas
e as combinações
várias
várias extensões
de um mesmo canto
no peito do universo...
por mais lindos os versos
e a dança.
Continuar
exige leveza,
um remanejar dos móveis
e um coração cada dia maior,
ampla e vasta planície,
longo reacender de um mesmo cigarro de palha,
novas velas na cozinha
novo incenso no ar...
Lua nova,
lua crescente,
lua cheia,
lua minguante
e o corpo maré
maré
enroscando uma nova espiral.
E as palavras são milhas
e as combinações
várias
várias extensões
de um mesmo canto
no peito do universo...
O livro reúne reflexões poéticas sobre a vida, as sensações, a passagem do tempo, as perdas e conquistas de todos nós, como nos versos seguintes...
A sensibilidade observadora de Nina Rosa Magnani transparece nas linhas e entrelinhas do texto e é simplesmente magistral nos versos do poema que dá nome ao livro. Fiquem com ele, saboreiem e sintam o aroma do pão, que é vida em sua marcha constante...
"Tudo está velho
tudo mofou;
as pessoas se mudaram
o amor perdeu a força
a amizade precisa reciclagem.
O baú das mágicas
está cheio de truques
falidos
pólvora molhada
efeitos déjà vu.
O sentido se perdeu
poucos sons tocam
a corda do infinito
adormecida."
tudo mofou;
as pessoas se mudaram
o amor perdeu a força
a amizade precisa reciclagem.
O baú das mágicas
está cheio de truques
falidos
pólvora molhada
efeitos déjà vu.
O sentido se perdeu
poucos sons tocam
a corda do infinito
adormecida."
A sensibilidade observadora de Nina Rosa Magnani transparece nas linhas e entrelinhas do texto e é simplesmente magistral nos versos do poema que dá nome ao livro. Fiquem com ele, saboreiem e sintam o aroma do pão, que é vida em sua marcha constante...
D O P Ã O M I N E I R O
Deixar fermentar
as idéias
e a vida
ao sol
como essa montanha ao meu lado
(quase posso tocá-la com o dedo)
Antiquissimamente...
Deixar-se embrenhar
emprenhar-se
dessas montanhas de minas
antigas
Ser revolvida
inchada
milenarmente...
Nada sempre existiu de instantâneo...
Trabalhar com as mãos
os instantes
e a eternidade.
Aguardar ao sol
que qualquer dia
arrebente
em trigo
e marcha.
Deixar fermentar
as idéias
e a vida
ao sol
como essa montanha ao meu lado
(quase posso tocá-la com o dedo)
Antiquissimamente...
Deixar-se embrenhar
emprenhar-se
dessas montanhas de minas
antigas
Ser revolvida
inchada
milenarmente...
Nada sempre existiu de instantâneo...
Trabalhar com as mãos
os instantes
e a eternidade.
Aguardar ao sol
que qualquer dia
arrebente
em trigo
e marcha.