quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Poemas Desentranhados

Manuel Bandeira (aqui retratado por Portinari) foi protagonista de sacadas poéticas incríveis.
Uma delas:


Poema Desentranhado de Uma Prosa de Augusto Frederico Schmidt

A luz da tua poesia é triste mas pura.
A solidão é o grande sinal do teu destino.
O pitoresco, as cores vivas, o mistério e calor dos outros seres te interessam realmente
Mas tu estás apartado de tudo isso, porque vives n
a companhia dos teus desaparecidos.
Dos que brincaram e cantaram um dia à luz das fogueiras de São João
E hoje estão para sempre dormindo profundam
ente.
Da poesia feita como quem ama e quem morre
Caminhaste para uma poesia de quem vive e recebe a tristeza
Naturalmente
- Como o céu escuro recebe a companhia das primeiras estrelas.

(Manuel Bandeira - Poesia Completa & Prosa, Rio de Janeiro, José Aguilar, 1967)



Esse poema foi "desentranhado" de um artigo do também poeta Schmidt, que foi "ghost writer" do Presidente Juscelino.

Ponto! De exclamação! Metalinguagem pura! Brincadeira literária de um poeta para outro, a partir de uma prosa! Vai analisar um troço desses!

Pois bem, em 2007, minhas aulas de Literatura Brasileira foram ministradas pela Professora Doutora Yudith Rosenbaum, pessoa maravilhosa, autoridade em Clarice Lispector e Manuel Bandeira, que, no primeiro semestre, tratou do Modernismo Literário Brasileiro...

(Yudith Rosenbaum)

Daí, que um colega de turma, de nome Amilkar, figurassa carimbada da faculdade, sugeriu a ela que eu fizesse algo parecido, abordando o Modernismo, que era tratado nas aulas, "porque ele é poeta, professora!"

(Amilkar e Antônio Cândido - Duas figurassas!)

o resultado:


Lobato Malfatti lupus

(poema desentranhado de uma aula de Yudith Rosenbaum)


A luz difusa que sai do retrato ofusca o retratado. Mas,

que retrato é esse, tão diferente do modelo?

Nada nele é familiar, tudo é surpresa e choque.

[o esperado, às avessas...

Por 4’ e 33” a audiência gritou:

[Paranóia! Paranóia!

E a orquestra obedecia ao comando do Maestro,

[Silenciosamente mistificada,...

por 4’ e 33”!

A subjetividade retratada é tensa,

[e é feia,

[objetivamente feia!

O belo é outra coisa, diferente, não contrária.

Lobato não entendeu

[ou fingiu não entender!]

:foi Dorian Gray, depois do pacto:

[um retrato envelhecido...

... de si mesmo!

(dedicado a Amilkar Henrique Gonçalves de Moura e a Yudith Rosenbaum)

Sérgio Ferreira da Silva

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