Sérgio
Ferreira da Silva[11]
[2] Autoexplicativo, sem hífen, dado
que o prefixo termina em vogal diferente da vogal inicial do segundo elemento.
[3] Você, leitor não precisará “entender
o poema”... O poeta não é um ser supremo, senhor das emoções e das palavras.
Não é senhor nem do poema: poema publicado, poema perdido! Interprete da
maneira que quiser, ou que não quiser. Ele é seu! E é autoexplicativo.
[4] Não é preciso buscar referências
externas, intertextualidades, alteridades... Busque em você mesmo aquilo que o
poema lhe disser!
[5] Há uma possibilidade muitíssimo
remota do “Poema Autoexplicativo”, no futuro, cair nas mãos de um (a) estudioso
(a), de um (a) crítico (a) literário (a), ou de um blogueiro (a) com vocação para
ambos. Não acredite no que ele/ela disser, por favor! Não que eu não admire o
trabalho deles: o problema é que, ao dissecar um poema, há uma tendência natural
de situá-lo no tempo, no espaço, na biografia do autor, em sua própria obra, ou
em fatos e movimentos culturais em voga... Aí, um poema de 4, 6, 12, ou mais
linhas rende 30 páginas de referências, reflexões, teses, críticas, para, por
fim, cair na prova! E eu não quero uma legião de vestibulandos me odiando!
[6] Fruto de tantas análises, alguém
um dia poderá dizer (então, digo eu): “Ah,
o Poema Autoexplicativo é aquele poema que não diz nada!” É por aí, mesmo:
não há nada no Poema Autoexplicativo.
[7] Mas, e as notas de rodapé? Hein?
Hein? As notas de rodapé são a chave, como diriam os teóricos, de compreensão:
eu adoro notas de rodapé! Sério. Graças ao Millôr Fernandes: ele reinventou as
notas de rodapé, antes tão burocráticas e sufocantes. Limitativas. Impositivas
e despóticas. Considero as notas a melhor oportunidade de estabelecer um
diálogo realmente produtivo com o leitor.
[8] E, do diálogo, nasce o
entendimento, pelo menos o meu entendimento do próprio ato de escrever e fazer
poemas, que é exatamente o que estou fazendo agora.
[9]
O Poema Autoexplicativo, na verdade,
não é um poema. É um título (como você já percebeu), sem poema. Um título que,
por si só, deveria ser vazio. Mas, note bem, quando um poeta escreve um poema,
geralmente, cria o título por último. Feito um filho que só recebe o nome, que
o seguirá por toda vida, após ser concebido, ou, o que é mais raro nos dias
atuais, após nascer. Criei o título primeiro.
[10]
O vazio, entre o título e o nome do autor, este, sim, é o poema.
[11]
O poeta.
2 comentários:
Gostei imenso da forma como explicou o poema autoexplicativo.
Vou deixá-lo com um exemplo de um trabalho meu que penso enquadrar-se no que mencionou no seu post.
"Sou um poeta que despeja sem vergonha os sentimentos crus que em mim habitam, sem medo do teu ou de qualquer outro juízo pois sinto cada palavra que escrevo, que a ti chegam mas que nunca me abandonam. Sou o meu reflexo despido de um ego inimigo que sempre me perseguiu; um dia fiz-me mais forte e sepultei-o numa vala já cavada, meu passado, e com ele a máscara que usava, pois a farsa em que vivi não era vida, nem morte, nem coisa alguma... E depois na leveza que se gerou meu pranto calou-se, fui ofuscado pelo brilho daqueles que a mim se dirigiram, sem que soubesse fui abençoado, e hoje a minha poesia é o sangue que me flui nas veias, sem ela não sou nada, sem ela sou catarse da minha alma que se esconde no breu do não viver."
Tiago Sobral
Parabéns, Tiago! Seu texto é muito profundo e veraz. Resume o processo e as consequências do ato de escrever, da escrita visceral e honesta! Também gostei imenso do seu texto. Muito obrigado!
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