segunda-feira, 2 de março de 2020

Uma trova por vez... (2)


No Jubileu de Diamante dos Jogos Florais de Nova Friburgo, no ano passado (2019), o tema no qual concorreram os Magníficos Trovadores foi "Saudade" e a trova que recebeu o primeiro lugar, das isoladas, foi a seguinte, do amigo Pedro Melo:


A saudade não faz nada...
Apenas chora e resiste...
Acorda de madrugada
e escreve esta trova triste...

(Pedro Melo)

Esta trova primorosa, que não à toa (imensamente por mérito do autor e da comissão julgadora) foi escolhida a melhor trova isolada entre todas dos conjuntos concorrentes, encanta pela simplicidade na disposição, na apresentação que poeta faz de uma cena que imprime na mente do leitor, mas carrega em si uma complexidade sublime.

O "eu lírico" iguala-se ao leitor no papel de observador, como se estivesse alheio os fatos que narra.

Não!

Usa, nos três primeiros versos, a figura da Prosopopeia, ou personificação: atribui à saudade características, atitudes de um ser humano (no caso, dele mesmo, daí a genialidade), já que ela "não faz nada", "chora e resiste", "acorda" e, por fim, "escreve".

Faz um jogo de espelhos...

Ora, claro que não é a saudade que promove as ações indicadas pelos verbos, é o "eu lírico", que é um poeta e, neste detalhe, o de ser um poeta, eis a metalinguagem: a saudade escreve "esta trova triste". É a trova falando da trova.

O poeta e a saudade são uma só persona: vencida, triste e mesmo assim resistente, que persiste no enfrentamento do sofrer causado pela perda... escrevendo um poema, uma trova que revela seu estado anímico, tendo esperança... Afinal, ele "resiste".
 
É a magia da síntese, que a trova proporciona. Pequena no tamanho e infinita no sentido.

Sua bênção amigo e irmão Pedro Melo! 
 

2 comentários:

Ian Maclean disse...

Excelente trova, e excelente análise!

RENATO ALVES disse...

Parabéns, Sérgio, pelo abalizado comentário sobre a joia que é esta trova de Pedro Melo! Decididamente, com esta dupla, a trova literária atinge o seu mais alto patamar de excelência!